São Paulo, sexta-feira, 01 de junho de 2007

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entrevista

Para autor, longa recria obsessão com assassino

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Robert Graysmith, 64, é desenhista e diz que até seria capaz de escrever um roteiro para cinema se ele fosse feito só de imagens, mas sua vocação para detetive, aliada a método e obsessão, o levou a "Zodíaco" (Ed. Novo Conceito, 416 págs., R$ 39,90), um dos dois livros que serviram de base para o filme.
Graysmith produziu um minucioso relato dos crimes atribuídos ao assassino serial que se autodenominou Zodíaco. Incomodado com os limites da investigação policial, reuniu informações dispersas por diferentes cidades e ouviu centenas de relatos.
O livro traz ainda cartas e mensagens cifradas enviadas pelo Zodíaco ao diário "San Francisco Chronicle", onde Graysmith trabalhou como cartunista durante 15 anos, e um posfácio sobre a realização do filme que, diz ele em entrevista por e-mail à Folha, "trouxe de volta o sentimento daquele período".

 

FOLHA - O filme conseguiu recriar a atmosfera urbana gerada pelos crimes do Zodíaco?
ROBERT GRAYSMITH -
Completamente. [David] Fincher foi além dos fatos e descobriu novas pistas. Ele e sua equipe recriaram a Redação do "Chronicle" à perfeição. Tudo era autêntico e funcionava. Fincher foi muito cuidadoso. Sei que ele tem relação pessoal com o caso. Em 1969, quando tinha sete anos, ele vivia em San Anselmo, na região de San Francisco [EUA], e andava nos ônibus escolares que o Zodíaco ameaçou explodir. Isso o torna o único diretor capaz de contar de forma verdadeira a história.

FOLHA - O personagem feito por Jake Gyllenhaal corresponde, de fato, a você?
GRAYSMITH -
Ele capturou o meu sotaque e os meus modos e ficou com a mesma aparência que eu tinha. Temos ainda os cabelos da mesma cor. Jake interpretou a mim como um ator, e não como alguém que me imitasse.

FOLHA - A dedicação ao livro colaborou para o fim do seu primeiro casamento, como no filme?
GRAYSMITH -
Tristemente, em certa medida. Estávamos todos obcecados pelo caso, com a diferença de que fui mais longe. É surpreendente que tenhamos sobrevivido ao Zodíaco. A demorada perseguição a ele, com seus mistérios, tragédias e perdas, arruinou casamentos, desestabilizou carreiras e destruiu a saúde de um repórter brilhante [Paul Avery, interpretado por Robert Downey Jr.].

FOLHA - Qual foi a sua participação no roteiro?
GRAYSMITH -
Fincher, James Vanderbilt [roteirista] e eu conversamos muito, durante anos. Estive em reuniões e os abasteci com informações sobre os obstáculos que enfrentariam na busca por testemunhas desaparecidas e novas pistas. Como Fincher e Jake, Jamie estava atrás de algo mais do que diversão. Ele queria capturar a essência de uma época e o sentido da obsessão que nos atingiu.

FOLHA - Você não pensou em escrever o roteiro?
GRAYSMITH -
O único roteiro que me sentiria qualificado a escrever seria um sem palavras, apenas com imagens.

FOLHA - Como avalia o filme?
GRAYSMITH -
Vi o filme pela primeira vez com David Toschi (interpretado por Mark Ruffalo). Nossas bocas se moviam junto com os diálogos, nos sentimos como se estivéssemos lá outra vez.

FOLHA - Seus colegas do "Chronicle" acreditavam na sua capacidade de escrever o livro?
GRAYSMITH -
Não. Acho que os repórteres do jornal ficaram surpresos, porque precisei me ensinar a escrever. "Zodíaco" foi publicado em 1986 e se tornou um grande sucesso, mas ele, meus livros seguintes e os dois filmes de que participei foram recebidos com frieza pelo jornal.


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