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Cinema/estréias
Crítica/"Transylvania"
"Nomadismo existencial" de Gatlif dá sinais de cansaço
CRÍTICO DA FOLHA
Certos cineastas tornam
seus nomes conhecidos
pela reiteração de temas, outros pela recorrência de
universos e alguns pela sobreposição de ambos, como o argelino Tony Gatlif. Conhecido no
Brasil a partir de "O Estrangeiro Louco", de 1997, com "Exílios" o diretor reafirmou sua
vocação para retratar o nomadismo existencial, fruto de sua
própria experiência como descendente de povos ciganos.
Com "Transylvania", Gatlif
conduz seu público ao mesmo
mundo e também emite sinais
do esgotamento desse tipo de
ambição autoral temática.
Desta vez, conta com a animalidade cinematográfica de
Asia Argento, uma atriz que
tende a fagocitar seus personagens a tal ponto que eles desaparecem em proveito de sua
transformação em pura imagem. Este aspecto "diva" da
personalidade de Argento, se
por um lado poderia acrescentar valor ao universo de Gatlif,
por outro tende a desequilibrar
o resto do filme, na medida em
que é sugado para dentro do
umbigo da persona Argento.
Aqui, a atriz italiana faz uma
garota que parte para os territórios do conde Drácula em
busca de um músico por quem
se apaixonou. Como nos outros
filmes de Gatlif, o fim interessa
menos do que a viagem, e logo o
destino da personagem ficará
em suspenso a fim de que ela se
lance numa deriva nômade.
Mais uma vez, o nomadismo
ganha função existencial de
descobertas, de revelação de
outros eus, de dissolução de valores, de oposição ao emburguesamento da vida sedentária.
E não deixa de ser interessante
a paixão com que Gatlif faz o espectador acompanhar suas demonstrações antropológicas,
como aqui um ritual de exorcismo e as situações dramáticas
conduzidas por música e dança
ciganas. Nesses momentos, ele
evita os riscos do exotismo,
sem nenhuma glamourização
dos ambientes e das práticas.
Mas o protagonismo estelar
de Asia Argento, excessiva no
bom e no mau sentido, transforma o filme em não muito
mais que um álbum de retratos
de viagem da Europa civilizada
pelas bordas "bárbaras" do
continente.
(CÁSSIO STARLING CARLOS)
TRANSYLVANIA
Direção: Tony Gatlif
Produção: França, 2006
Com: Asia Argento, Amira Casar, Birol Ünel e Alexandra Beaujard
Quando: estréia hoje no HSBC Belas-Artes, Reserva Cultural e circuito
Avaliação: regular
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