São Paulo, sexta-feira, 01 de junho de 2007 |
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Crítica Verniz sofisticado não salva enredo frouxo de "Inesquecível"
Filme nacional com Caco Ciocler e Murilo Benício aborda um triângulo amoroso
CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA Para os fabricantes de antidepressivos, plantadores de cana e produtores culturais, a palavra "mercado" possui significados mágicos. Faz sentido, pois remédios, álcool e obras artísticas são, no fundo, mercadorias e, como tais, encontram sua finalidade quando alcançam a última etapa da lógica do consumo. A diferença, porém, dos produtos culturais frente a outros itens é que não há fórmula que garanta, previamente, que eles satisfarão o gosto do consumidor. Pode-se juntar, como numa receita, os ingredientes numa certa medida e obter um bolo bem-feito. Mas nada garante que imensas filas irão se formar na calçada da sua padaria. "Inesquecível" segue esse padrão, e seu destino é incerto. Um roteiro com base em conto de escritor de prestígio (o uruguaio Horácio Quiroga), uma história de amor a três com pitadas rocambolescas, atores com imagem e tipos já codificados por telenovelas, personagens com profissões "modernas" (estilista, fotógrafo) pertencentes à classe média alta, cenários sofisticados, locações charmosas em Buenos Aires, Rio e Petrópolis, bons técnicos e profissionais por trás da produção, enfim, um conjunto de ingredientes "de qualidade". Para completar, o tratamento da intriga com uma pitada de cinefilia (a morte do velho cinema) e referências aos filmes noir como forma de dar verniz de sofisticação à banalidade do enredo. Seu diretor, Paulo Sérgio Almeida, além de cineasta, é o responsável pela Filme B, empresa de análise dos números de mercado de cinema no Brasil. E também já co-dirigiu três títulos de Xuxa. Ou seja, de bilheteria seus conhecimentos são irrefutáveis. Mas ao migrar do universo impessoal do filme de encomenda para um projeto de marca individual, Almeida não consegue se libertar da ilusão da eficácia. E realiza um produto híbrido, no qual trata vocação comercial e ambição autoral como se fossem características discordantes. Talvez seu diretor imagine que sua história seja mais interessante do que é. Talvez os bons atores não estejam bem dirigidos. Talvez seus personagens nunca cheguem perto de ser convincentes ou se aproximem demais de clichês. O problema é que, quando reunidas, essas possibilidades fazem de "Inesquecível" um filme muito fácil de esquecer. INESQUECÍVEL Direção: Paulo Sérgio Almeida Produção: Brasil, 2007 Com: Caco Ciocler, Guilhermina Guinle, Murilo Benício Quando: estréia hoje nos cines Bristol, Espaço Unibanco e circuito Avaliação: ruim Texto Anterior: Crítica: Filme sobre Capote reflete crise criativa Próximo Texto: Última Moda - Alcino Leite Neto: Os reis da praia Índice |
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