São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2010

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"Crise não detém a febre consumista"

Para crítico inglês, design ajuda a manter a indústria de objetos supérfluos mesmo com colapso econômico

Autor afirma que Estado emulou papel que cabe aos produtores e critica designer que age como "vendedor" ou "guru"


DE SÃO PAULO

Autor de obras de referência em arquitetura e design, o inglês Deyan Sudjic escreveu "A Linguagem das Coisas" pouco antes da crise econômica mundial.
Num certo aspecto, o baque das principais economias capitalistas poderia descredenciar sua tese de que as sociedades modernas são moldadas para consumir cada vez mais objetos de que não necessita.
Para o crítico inglês, o "crash" só lhe deu razão, na medida em que o Estado emulou o papel de estimulador do consumo que normalmente caberia à indústria.
"O mais estranho é que nada mudou. A resposta à crise foram governos de todo o mundo dando incentivos para as pessoas comprarem outro carro", afirma.
O design e os designers, avalia Sudjic, são parte crucial nesta engrenagem, ao "ajudar a fazer um produto novo parecer mais desejável do que um velho, e com que esse que está sendo substituído pareça ultrapassado".

JOIAS EM CASA
Questionado sobre como a crise afetou o mercado mundial de luxo, um dos tópicos que aborda em seu livro, o arquiteto diz que os milionários de hoje não adotaram as mudanças no comportamento vista nos anos 1970, "quando as Brigadas Vermelhas na Itália começaram a sequestrar os ricos, que responderam usando carros velhos e deixando suas joias em casa".
Na sua cruzada para mostrar como o design controla o mundo, Sudjic diz que os profissionais do setor agem "tanto como gurus quanto como vendedores".
"Seria mais útil começarem a agir como designers, pensar sobre os problemas reais, se perguntarem se faz sentido transformar em sucata um Volkswagen com 20 anos de uso para comprar um carro elétrico novo -pois embora o carro velho gaste mais combustível, construir um totalmente novo pode causar ainda mais problemas. O design deveria tratar de fazer perguntas difíceis."
Sudjic diz que procura aplicar tal visão crítica ao museu londrino que dirige, um armazém remodelado às margens do rio Tâmisa.
"O que torna o design interessante é que ele aborda ao mesmo tempo cultura e comércio. Tratá-lo simplesmente como escultura, pendurar objetos bonitos em brancos espaços vazios seria uma postura enganosa."
"Tentamos", acrescenta, "discutir não apenas como as coisas parecem, mas como elas são feitas, por que eles são feitas e o que elas significam. Não queremos parecer uma loja ou uma galeria de arte". (FABIO VICTOR)


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