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"Crise não detém a febre consumista"
Para crítico inglês, design ajuda a manter a indústria de objetos supérfluos mesmo com colapso econômico
Autor afirma que Estado
emulou papel que cabe
aos produtores e critica
designer que age como
"vendedor" ou "guru"
DE SÃO PAULO
Autor de obras de referência em arquitetura e design, o
inglês Deyan Sudjic escreveu
"A Linguagem das Coisas"
pouco antes da crise econômica mundial.
Num certo aspecto, o baque das principais economias capitalistas poderia
descredenciar sua tese de
que as sociedades modernas
são moldadas para consumir
cada vez mais objetos de que
não necessita.
Para o crítico inglês, o
"crash" só lhe deu razão, na
medida em que o Estado
emulou o papel de estimulador do consumo que normalmente caberia à indústria.
"O mais estranho é que nada mudou. A resposta à crise
foram governos de todo o
mundo dando incentivos para as pessoas comprarem outro carro", afirma.
O design e os designers,
avalia Sudjic, são parte crucial nesta engrenagem, ao
"ajudar a fazer um produto
novo parecer mais desejável
do que um velho, e com que
esse que está sendo substituído pareça ultrapassado".
JOIAS EM CASA
Questionado sobre como a
crise afetou o mercado mundial de luxo, um dos tópicos
que aborda em seu livro, o arquiteto diz que os milionários de hoje não adotaram as
mudanças no comportamento vista nos anos 1970,
"quando as Brigadas Vermelhas na Itália começaram a
sequestrar os ricos, que responderam usando carros velhos e deixando suas joias
em casa".
Na sua cruzada para mostrar como o design controla o
mundo, Sudjic diz que os
profissionais do setor agem
"tanto como gurus quanto
como vendedores".
"Seria mais útil começarem a agir como designers,
pensar sobre os problemas
reais, se perguntarem se faz
sentido transformar em sucata um Volkswagen com 20
anos de uso para comprar
um carro elétrico novo -pois
embora o carro velho gaste
mais combustível, construir
um totalmente novo pode
causar ainda mais problemas. O design deveria tratar
de fazer perguntas difíceis."
Sudjic diz que procura
aplicar tal visão crítica ao
museu londrino que dirige,
um armazém remodelado às
margens do rio Tâmisa.
"O que torna o design interessante é que ele aborda ao
mesmo tempo cultura e comércio. Tratá-lo simplesmente como escultura, pendurar objetos bonitos em
brancos espaços vazios seria
uma postura enganosa."
"Tentamos", acrescenta,
"discutir não apenas como as
coisas parecem, mas como
elas são feitas, por que eles
são feitas e o que elas significam. Não queremos parecer
uma loja ou uma galeria de
arte".
(FABIO VICTOR)
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