São Paulo, segunda, 1 de junho de 1998

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PELO BRASIL
Encontro em BH debate teatro no mundo

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Começa hoje em Belo Horizonte o Encontro Mundial das Artes Cênicas, que reunirá, até a próxima segunda, atores, diretores, dramaturgos e pensadores do teatro. O evento é formado por um extenso fórum de debates e também por três espetáculos.
Uma das figuras mais importantes que está em Belo Horizonte é o teatrólogo italiano Marco de Marinis, 49, professor de história do espetáculo na Universidade de Bolonha (Itália).
Na quarta, De Marinis participará do debate "A Formação do Diretor e a Ruptura dos Limites do Teatro Contemporâneo". Leia os principais trechos da entrevista concedida por De Marinis à Folha.

Folha - Como o sr. vê a realização de espetáculos teatrais exibidos a espectadores de diferentes países sem recorrer ao uso de legendas?
Marco de Marinis -
A arte do ator, quando alcança certo nível de qualidade, é internacional. Consegue ir além das dificuldades linguísticas. Sua comunicação se baseia nos limites não-verbais e na capacidade que o ator tem de entrar em sintonia com o público.
Os elementos transculturais estão na base do trabalho do ator e são similares nas várias culturas. Eles modelam a ação cênica e estão presentes tanto no teatro europeu quanto no teatro ocidental.
Folha - Não é necessário um movimento de resistência cultural em um mundo cada vez mais globalizado?
De Marinis -
Numa época de globalização, não se pode falar de pureza de culturas. Há uma situação de sincretismo cultural. Mas é preciso distinguir: interculturalismo é uma coisa, e transculturalismo é outra. Interculturalismo é como fazem alguns diretores que misturam Shakespeare ou tragédia grega com teatro japonês. O transculturalismo vai ver o que é comum a todas as culturas, respeitando as diferenças.
Folha - Qual o sr. prefere?
De Marinis -
Penso que as duas coisas podem conviver. (O diretor e dramaturgo) Peter Brook foi criticado porque se apropriou de elementos culturais de fundo da Índia em "Mahabharata". Eu compreendo as críticas, porque se trata de uma defesa da identidade cultural, mas não concordo com elas.
Folha - O que o sr. pode adiantar sobre sua conferência no fórum de debates?
De Marinis -
Vou falar da evolução da figura do diretor no século 20, do diretor ditador ao diretor pedagogo. E discutirei a aproximação da montagem cênica e da montagem cinematográfica. Dario Fo é um mestre nisso. Ele muda as objetivas e os enquadramentos na cena como o cinema faz.



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