São Paulo, terça, 1 de julho de 1997.



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HQS
Quadrinhos e novas tecnologias geram histórias e charges interativas, zines virtuais e enciclopédias em CD-ROM de super-heróis
Quadrinhos chegam à interatividade

Reprodução
Charge interativa, sugerida por um fã de HQs e desenhada pelo Agner, ex- "Pasquim"


PEDRO CIRNE DE ALBUQUERQUE
free-lance para a Folha

As revistas à venda em bancas de jornais não são mais os únicos veículos disponíveis para as histórias em quadrinhos.
O mês de junho trouxe aos leitores novas maneiras de entrar em contato com os personagens e os mundos imaginários dos quadrinhos: CD-ROM e duas HQs interativas se juntam, agora, aos fanzines virtuais existentes na Internet.
Mas não são todas as pessoas ligadas às HQs que vêem com bons olhos esta onda de mudanças.
Alguns profissionais se mostram receosos frente a estas novas transformações, e nem todos desenvolvem trabalhos na direção de aproveitar as tecnologias emergentes.
Ziraldo, por exemplo, não se preocupa em levar o Menino Maluquinho ou qualquer outro de seus personagens para a Internet.
"As novas mídias não dependem do trabalho de um único autor, elas são coletivas, frutos do tempo em que estamos vivendo. Acho que os meus personagens se incorporarão a elas com naturalidade", disse o artista.
Independente das diversas opiniões, já estão na rede virtual Internet e nas bancas de jornais produtos que trazem os quadrinhos adaptados às novas tecnologias.
O CD-ROM "O Universo dos Super-Heróis" é um destes filhos dos quadrinhos com a tecnologia.
Nas bancas desde o início do mês de junho, ele integra a revista "HQ CD", da editora Nova Sampa (92 páginas, R$ 9,90). Como propõe o título do CD, ele é um catálogo -uma enciclopédia, uma vez que é ilustrado-, relacionando mais de 300 super-heróis.
"O impulso inicial para fazê-lo foi a absoluta inexistência de produtos deste tipo no mercado", disse o jornalista Heitor Pitombo, responsável pelo CD-ROM.
Após quatro meses de pesquisa e editoração, Pitombo levantou material para listar cerca de 500 verbetes, entre super-heróis, grupos, artistas do gênero e 50 capas de gibis, consideradas como mais importantes pelo jornalista.
"Também estão listados os 50 momentos que considero dos mais importantes nos quadrinhos. Ele é um CD-ROM que é importante pelo conteúdo, com pesquisas aprofundadas."
HQs interativa
Inédita até o mês passado, a fórmula de HQI (história em quadrinhos interativa) estreou no site de uma TV a cabo.
Acessada pela Internet (http://www.netbrasil.com.br), a HQI traz um enredo medieval, com direito ao cavaleiro sir Chester Stalone, à princesa Lady Shirley Stone e ao rei Dragão.
A novidade está na narração: clicando sobre cada um dos três personagens, o leitor (ou internauta?) assiste a uma das versões da história, desenvolvida em narração não-linear.
A história, chamada "Netxcalibur", foi produzida pelo cartunista Luiz Geraldo Ferrari Martins, o Luiz Gê.
Ele conta que já desenvolvia trabalhos experimentais de quadrinhos quando ainda estava na faculdade.
"Em 1972, eu encontrei uma estrutura de narração que não era linear, que dava possibilidades de leituras diferentes. Eu sempre quis retornar a esta pesquisa, e agora a tecnologia me deu a possibilidade de realizar essas idéias", disse.
Na Internet desde ontem, uma outra história em quadrinhos interativa é a "CyberComix" (http://zaz.com.br/novela/cybercomix). Durante dois meses, serão colocados os 40 episódios da "CyberComix" no ar, um por dia, de segunda a sexta.
Estão envolvidos no projeto mais de 18 artistas, sendo 17 desenhistas e apenas um roteirista, Heinar Maracy.
É a 1ª "jam session" de quadrinhistas brasileiros na Internet, segundo o organizador Tony de Marco -que também participa desenhando.
Além dele, estão no elenco de desenhistas os cartunistas Laerte, Adão Iturrusgarai e Fernando Gonzalez, colaboradores da Folha.
"Interatividade viva"
Na página "Netiuorque" (http://www.iocom/cartum/index.htm), há uma possibilidade original para os fãs: a charge interativa.
O criador e mantenedor da página, o designer gráfico Luiz Carlos Agner Caldas, que colaborou por sete anos com o "Pasquim", dá aos fãs das HQs a oportunidade de desenhar suas charges e veiculá-las na rede mundial.
Os internautas mandam charges prontas, ou idéias de charges. Agner as desenha e as coloca na rede.
"Não tem muita regra: os visitantes interagem comigo completamente: eu posso desenhar a idéia, deixá-la na página tal qual ela veio ou posso fazer uma charge adaptada da idéia. É uma interatividade viva", disse. Para ele, a principal característica da "Netiuorque" é a coletivização. "Ela é aberta para o imprevisível."



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