São Paulo, sábado, 01 de julho de 2000


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TEATRO
Montagem em inglês de "Dois Perdidos numa Noite Suja" estréia em Londres com atores locais e diretor paulistano
Inglaterra assiste Plínio Marcos pela 1ª vez


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os "Dois Perdidos numa Noite Suja" estão prestes a se tornarem "Two Lost Souls on a Dirty Night". Esse é o nome com o qual estréia, no dia 11 de julho, a primeira montagem na Inglaterra de uma peça do dramaturgo santista Plínio Marcos (1935-1999).
Dirigida pelo paulistano André Pink, há quatro anos no Reino Unido, o espetáculo ficará em cartaz por três semanas no The Grace Theatre, no sul de Londres. E sem "legendas".
Além de ser encenada em inglês e por atores britânicos, a saga dos "perdidos" de Plínio Marcos, escrita em 1966, recebeu pequenas climatizações.
Paco, originalmente um malandro de uma metrópole brasileira, virou um malandro com sotaque "cockney", dialeto típico dos trabalhadores do leste londrino.
Tonho, o interiorano que vai "fazer a cidade grande", ganha contornos de um imigrante ilegal do Leste Europeu, personagem comum hoje nas ruas de Londres.
""Dois Perdidos" trata de problemas sociais, miséria, dificuldade em lidar com os sonhos. Isso tudo é de certa forma um estereótipo do Brasil aqui fora. Não quis reforçar a imagem crítica com a realidade brasileira. Procurei passar o caráter universal de Plínio", disse à Folha por telefone o diretor da peça.
André Pink, entretanto, afirma que o coração da montagem é brasileiro. "Os atores estão tendo aulas diárias de samba e capoeira", diz Pink. "É muito interessante ver atores da palavra, como são tradicionalmente os ingleses, tendo de rebolar."
Não é a primeira vez que o diretor, de 34 anos, coloca ingleses para balançar os quadris.
Há cerca de seis meses, André Pink assessorou o professor Paul Heritage em curso sobre o dramaturgo Nelson Rodrigues na Universidade de Londres.
"Verificamos que o melhor jeito de dar uma preparação corporal brasileira aos ingleses foi colocá-los para dançar samba", brinca Pink.
Para complementar as aulas de "brasilidade" para o elenco de "Dois Perdidos", o diretor está exibindo filmes nacionais (desde "Parahyba, Mulher Macho", de Tizuka Yamazaki, até "Central do Brasil", de Walter Salles) para a dupla inglesa Marc Elliott e Edward Cosgrove.
Em "Two Lost Souls", o diretor volta a colaborar com Paul Heritage.
Especialista em teatro brasileiro, o professor inglês, chefe do departamento de drama da Universidade de Londres, incluiu a montagem de "Dois Perdidos" na programação do festival Brazil 500, da qual é um dos organizadores.
O evento, que está sendo organizado pela Embaixada Brasileira em Londres para celebrar os 500 anos do Descobrimento, terá atrações nas áreas de teatro, dança e música. "Two Lost Souls..." é a única produção anglo-brasileira do festival, que tem entre seus principais chamarizes a encenação de Gabriel Villela de "Romeu e Julieta" no Globe Theatre, réplica do célebre palco de William Shakespeare.

Contos brasileiros
Depois de montar Plínio Marcos, o próximo objetivo de André Pink é levar Nelson Rodrigues para os palcos londrinos.
Uma montagem de "A Serpente" é o segundo passo do projeto "Brazilian Tales", que está sendo inaugurado com "Two Lost Souls...".
Outra opção, "muito mais complicada", com a qual trabalha o diretor é uma versão inglesa para "Vestido de Noiva".
O diretor tem até março do ano que vem para concluir esse projeto. Nesse mês, ele segue para o Japão. Pink ganhou bolsa do governo japonês, depois de ter participado de diversas montagens de peças de teatro nô, e vai passar seis meses no país estudando o kyogen, a parte cômica dessa arte oriental.


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