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TEATRO
Montagem em inglês de "Dois Perdidos numa Noite Suja" estréia em Londres com atores locais e diretor paulistano
Inglaterra assiste Plínio Marcos pela 1ª vez
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os "Dois Perdidos numa Noite
Suja" estão prestes a se tornarem
"Two Lost Souls on a Dirty
Night". Esse é o nome com o qual
estréia, no dia 11 de julho, a primeira montagem na Inglaterra de
uma peça do dramaturgo santista
Plínio Marcos (1935-1999).
Dirigida pelo paulistano André
Pink, há quatro anos no Reino
Unido, o espetáculo ficará em cartaz por três semanas no The Grace
Theatre, no sul de Londres. E sem
"legendas".
Além de ser encenada em inglês
e por atores britânicos, a saga dos
"perdidos" de Plínio Marcos, escrita em 1966, recebeu pequenas
climatizações.
Paco, originalmente um malandro de uma metrópole brasileira,
virou um malandro com sotaque
"cockney", dialeto típico dos trabalhadores do leste londrino.
Tonho, o interiorano que vai
"fazer a cidade grande", ganha
contornos de um imigrante ilegal
do Leste Europeu, personagem
comum hoje nas ruas de Londres.
""Dois Perdidos" trata de problemas sociais, miséria, dificuldade
em lidar com os sonhos. Isso tudo
é de certa forma um estereótipo
do Brasil aqui fora. Não quis reforçar a imagem crítica com a realidade brasileira. Procurei passar
o caráter universal de Plínio", disse à Folha por telefone o diretor
da peça.
André Pink, entretanto, afirma
que o coração da montagem é
brasileiro. "Os atores estão tendo
aulas diárias de samba e capoeira", diz Pink. "É muito interessante ver atores da palavra, como são
tradicionalmente os ingleses, tendo de rebolar."
Não é a primeira vez que o diretor, de 34 anos, coloca ingleses para balançar os quadris.
Há cerca de seis meses, André
Pink assessorou o professor Paul
Heritage em curso sobre o dramaturgo Nelson Rodrigues na Universidade de Londres.
"Verificamos que o melhor jeito
de dar uma preparação corporal
brasileira aos ingleses foi colocá-los para dançar samba", brinca
Pink.
Para complementar as aulas de
"brasilidade" para o elenco de
"Dois Perdidos", o diretor está
exibindo filmes nacionais (desde
"Parahyba, Mulher Macho", de
Tizuka Yamazaki, até "Central do
Brasil", de Walter Salles) para a
dupla inglesa Marc Elliott e Edward Cosgrove.
Em "Two Lost Souls", o diretor
volta a colaborar com Paul Heritage.
Especialista em teatro brasileiro, o professor inglês, chefe do departamento de drama da Universidade de Londres, incluiu a montagem de "Dois Perdidos" na programação do festival Brazil 500,
da qual é um dos organizadores.
O evento, que está sendo organizado pela Embaixada Brasileira em Londres para celebrar os
500 anos do Descobrimento, terá
atrações nas áreas de teatro, dança e música. "Two Lost Souls..." é
a única produção anglo-brasileira do festival, que tem entre seus
principais chamarizes a encenação de Gabriel Villela de "Romeu
e Julieta" no Globe Theatre, réplica do célebre palco de William
Shakespeare.
Contos brasileiros
Depois de montar Plínio Marcos, o próximo objetivo de André
Pink é levar Nelson Rodrigues
para os palcos londrinos.
Uma montagem de "A Serpente" é o segundo passo do projeto
"Brazilian Tales", que está sendo
inaugurado com "Two Lost
Souls...".
Outra opção, "muito mais
complicada", com a qual trabalha o diretor é uma versão inglesa
para "Vestido de Noiva".
O diretor tem até março do ano
que vem para concluir esse projeto. Nesse mês, ele segue para o
Japão. Pink ganhou bolsa do governo japonês, depois de ter participado de diversas montagens
de peças de teatro nô, e vai passar
seis meses no país estudando o
kyogen, a parte cômica dessa arte
oriental.
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