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CRÍTICA
Disco-testamento é diálogo entre o produtor e o criador
DA REPORTAGEM LOCAL
S uba morreu exatamente
quando começava a aplicar
como artista/criador os conceitos
que desenvolvera, lenta e gradativamente, como produtor, em
uma década de trabalho com pop
e com música popular brasileira.
Antes de lançar "São Paulo
Confessions", Suba produzira artistas tão diversos quanto Marina
Lima, Edgard Scandurra, Arnaldo
Antunes, Taciana Barros, João
Parahyba, Kátia B., Dinho Ouro-Preto, Natália Barros, Edson Natale e outros.
Sua carreira apontava concomitantemente para dois extremos.
Vinha produzindo artistas exilados do mercado nacional, como
Bebel Gilberto e, em certo sentido,
ele próprio; mas, já cooptado pelas grandes gravadoras, acabara
de iniciar uma tentativa de "eletronizar" Daniela Mercury, em
trabalho que não chegou a se consumar em disco.
Entre pontas como as de Daniela e da independente Taciana, se
firmava como produtor que não
deixava sua personalidade se sobrepor às dos artistas -o que lhe
permitiu viajar de extremos que
foram de Mestre Ambrósio a Edson Cordeiro, sem descaracterizar nem um nem o outro.
"São Paulo Confessions", o produto, fica então como trabalho de
artista em formação que precisava definir uma cara própria, mas
não perdia de vista sua função
primordial, a de produtor.
Aí ele manipula, lado a lado
com o exímio percussionista João
Parahyba, ex-Trio Mocotó, participações especiais diversas, sempre sobre um fundo que submete
a confronto ancestralidades como
a do samba, a da bossa nova e a da
música eletrônica de ponta.
Múltiplo, valeu-se de cantoras
inspiradas (Taciana, Kátia B., Cibelle), de instrumentistas pop
(Scandurra, Roberto Frejat), do
regionalismo do Mestre Ambrósio (na forte "Antropófagos"), da
declamação concretista de Arnaldo Antunes (em "Abraço").
Nesta última, alcançou talvez
um de seus pontos máximos, de
criar uma faixa quente e climática
que é fraturada de repente pela intervenção distanciadora de Antunes -Marisa Monte aproveitou a
idéia, mas não o conceito, na radiofônica "Amor I Love You".
Debatia-se entre uma cultura
ainda trazida de sua geração, a
dos 80, hoje muito anacrônica, e o
que havia de mais novo, a eletrônica bem contornada -a segunda já começava a vencer. Era uma
trajetória em ascensão, mas os desígnios foram mais cruéis.
(PAS)
São Paulo Confessions
Artista: Suba
Lançamento: Instituto Suba
Quanto: R$ 22 (pelo site
www.mcd.com.br ou nas lojas de discos)
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