São Paulo, sábado, 01 de julho de 2000


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CRÍTICA
Disco-testamento é diálogo entre o produtor e o criador

DA REPORTAGEM LOCAL

S uba morreu exatamente quando começava a aplicar como artista/criador os conceitos que desenvolvera, lenta e gradativamente, como produtor, em uma década de trabalho com pop e com música popular brasileira.
Antes de lançar "São Paulo Confessions", Suba produzira artistas tão diversos quanto Marina Lima, Edgard Scandurra, Arnaldo Antunes, Taciana Barros, João Parahyba, Kátia B., Dinho Ouro-Preto, Natália Barros, Edson Natale e outros.
Sua carreira apontava concomitantemente para dois extremos. Vinha produzindo artistas exilados do mercado nacional, como Bebel Gilberto e, em certo sentido, ele próprio; mas, já cooptado pelas grandes gravadoras, acabara de iniciar uma tentativa de "eletronizar" Daniela Mercury, em trabalho que não chegou a se consumar em disco.
Entre pontas como as de Daniela e da independente Taciana, se firmava como produtor que não deixava sua personalidade se sobrepor às dos artistas -o que lhe permitiu viajar de extremos que foram de Mestre Ambrósio a Edson Cordeiro, sem descaracterizar nem um nem o outro.
"São Paulo Confessions", o produto, fica então como trabalho de artista em formação que precisava definir uma cara própria, mas não perdia de vista sua função primordial, a de produtor.
Aí ele manipula, lado a lado com o exímio percussionista João Parahyba, ex-Trio Mocotó, participações especiais diversas, sempre sobre um fundo que submete a confronto ancestralidades como a do samba, a da bossa nova e a da música eletrônica de ponta.
Múltiplo, valeu-se de cantoras inspiradas (Taciana, Kátia B., Cibelle), de instrumentistas pop (Scandurra, Roberto Frejat), do regionalismo do Mestre Ambrósio (na forte "Antropófagos"), da declamação concretista de Arnaldo Antunes (em "Abraço").
Nesta última, alcançou talvez um de seus pontos máximos, de criar uma faixa quente e climática que é fraturada de repente pela intervenção distanciadora de Antunes -Marisa Monte aproveitou a idéia, mas não o conceito, na radiofônica "Amor I Love You".
Debatia-se entre uma cultura ainda trazida de sua geração, a dos 80, hoje muito anacrônica, e o que havia de mais novo, a eletrônica bem contornada -a segunda já começava a vencer. Era uma trajetória em ascensão, mas os desígnios foram mais cruéis. (PAS)
São Paulo Confessions    
Artista: Suba Lançamento: Instituto Suba Quanto: R$ 22 (pelo site www.mcd.com.br ou nas lojas de discos)

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