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ARTES VISUAIS
MULTIMÍDIA
Ideal é "desviar" uso tradicional das máquinas
Exposição em São Paulo politiza a união entre arte e tecnologia
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Passada a euforia inicial de que,
sim, computadores fazem arte, é
chegada a hora de politizar o debate. Que conseqüências traz a
tão recente quanto festejada
aliança entre arte e tecnologia?
Essa é a pergunta que "Emoção
Art.ficial 2.0 - Divergências Tecnológicas" pretende levantar durante os quase três meses em que
a mostra, que abre hoje no Instituto Itaú Cultural, fica em cartaz.
"As exposições de arte e tecnologia no mundo costumam ser
muito apologéticas da tecnologia", critica Arlindo Machado, 54,
um dos curadores da mostra, que
reúne ao todo 30 obras, nacionais
e internacionais, inéditas ou documentais, além de uma série de
simpósios, que acontece de amanhã até o dia 5. "O artista que trabalha nesse campo sabe que a ferramenta que tem na mão não foi
feita para produzir arte."
Em bom português, trata-se de
artistas-piratas, que reprogramam um computador para a fabricação de seus mitos particulares, trocam a arma de fogo de um
game de última geração por um
pênis, usam os conhecimentos da
engenharia genética para a criação de seres inexistentes na natureza ou, ainda, invertem a lógica
das câmeras de vigilância interna.
Consolidada apenas a partir de
meados da década de 90, com a
popularização da internet e de outros "gadgets" eletrônicos, a nova
produção empresta ideais da arte
da década de 70. Não por acaso
homenageada na exposição por
meio de trabalhos de veteranos,
como Fred Forest, um dos fundadores do Coletivo Arte Sociológica, o recifense Paulo Bruscky, expoente do movimento arte-postal
no Brasil, e o catalão Antoni Muntadas, cuja individual abre na segunda na galeria Luisa Strina.
"Naquela época, eles já trabalhavam com as mídias de massa,
como TV, fax, satélites, desviando-as de seu uso convencional",
explica Gilberto Prado, 49, que assina "coletivamente" a curadoria
com Machado e com o australiano Jeffrey Shaw, ex-diretor do
centro de mídia alemão ZKM.
O grifo no coletivo é também
uma das principais características
da exposição. Ainda que creditada a um ou dois artistas, a maior
parte das obras requer um trabalho conjunto e constante entre
técnicos e idealizadores. "É cada
vez mais comum encontrarmos
artistas que sabem trabalhar em
java [linguagem de programação], técnicos com uma boa noção de estética e programadores
que façam modelagem em 3D",
afirma Marcos Cuzziol, 41, diretor
do centro de mídia Itaulab.
"Pouco tempo atrás, era muito
pequeno o contingente de artistas
que trabalhavam com tecnologia.
Hoje eu me pergunto: que artista
não trabalha? De repente, a gente
se dá conta de que a arte eletrônica não é mais um gênero entre
tantos outros. A arte de nosso
tempo é digital", crava Machado.
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