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CDS
FOLK
Aimee Mann aborda relação tortuosa, enquanto KT Tunstall lança CD de estréia
Cantoras inspiram cenário das lágrimas na música pop
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O rock tem um rei, mas são
as mulheres quem dão as várias caras ao pop mundial. Uma
dessas facetas, a de rainha das dores de amor, ganha representação
nas vozes de diferentes gerações: a
norte-americana Aimee Mann,
44, e a escocesa KT Tunstall, 28.
Nesse território, a veterana
Mann só encontra concorrente à
altura na inglesa Beth Gibbons.
Sua abordagem, no entanto, difere-se da depressão corta-pulsos
da vocalista do Portishead, como
reafirma seu quinto álbum solo, o
conceitual "The Forgotten Arm".
Se, nos anos 80, Mann liderava o
colorido grupo pós-new wave 'Til
Tuesday, na década seguinte, ela
abraçou o folk, em carreira solo.
Criou um mundo onde a felicidade é artigo raro e as relações amorosas são batalhas como a do viciado que, após uma overdose,
tenta se livrar da droga.
De tão reais, os temas de suas
músicas inspiraram o cineasta
Paul Thomas Anderson a fazer o
filme "Magnólia" (1999); são as
canções de Mann que guiam os
personagens, todos em busca de
uma inatingível redenção.
Com "The Forgotten Arm", é
como se a cantora dirigisse seu
próprio filme. Todas as faixas
contam a história do boxeador
junkie John, veterano do Vietnã, e
sua ingênua namorada, Caroline,
que, a horas tantas, saem da realidade comezinha de uma cidade
interiorana para se aventurar estrada afora. Do conceito clássico
americano dos indivíduos que
tentam um novo começo em um
lugar qualquer, Mann cria caminhos tortuosos que se refletem em
uma atmosfera setentista, tanto
musical quanto cinematográfica.
O ápice sombrio dessa relação
que irá se desgastar (o título versa
sobre um "braço esquecido" do
lutador que fica escondido e resguardado para, em um só golpe,
derrubar o adversário) vem na seqüência das faixas "Video" ("Diga
por que me sinto tão mal, querido"), "Little Bombs" e "That's
How I Knew This Story Would
Break My Heart" ("Como um
fantasma na neve, estou pronta
para ir"), que colocam a cantora
ora na perspectiva de John, ora na
de Caroline. O disco funciona melhor como um todo, não há faixa
que se sobressaia, além do belo
encarte. É daquelas raras obras
que reafirmam o poder de um
disco em tempos de iPod.
Já KT Tunstall, apesar de nem
tão nova assim, estréia com "Eye
to the Telescope", ainda em busca
de uma identidade, entre o folk,
blues e rock. Com ascendência
chinesa, ela é filha adotiva de uma
família escocesa e começa a despertar o interesse do público inglês, principalmente após sua
participação no programa de TV
"Later" (que reúne a nata do pop).
Cantando em primeira pessoa e
revolvendo casos de amor mal resolvidos, Tunstall tem potencial
para agradar tanto o cenário indie
("Other Side of the World" ou
"Another Place to Fall" não ficam
nada atrás dos românticos Coldplay e Travis) quanto aos fãs de
cantoras "sofisticadas", como
Norah Jones (em "Under the
Weather", canta o verso "feel like
home" -disco de Jones).
Aqui e ali surgem boas canções,
como "Black Horse and the
Cherry Tree", em que deixa a meiguice um pouco de lado, ou "Universe & U", embaladas pelo competente produtor Steve Osborne
(U2, Happy Mondays etc.). Tunstall, no entanto, sofre do mal das
inúmeras cantoras contemporâneas. Em determinado momento,
fica difícil diferenciar sua voz de
uma Norah Jones, de uma Nelly
ou Joss Stone, ao contrário do
timbre personalíssimo de Aimee
Mann. Enquanto isso, os súditos
pop escolhem e depõem rainhas.
The Forgotten Arm
Artista: Aimee Mann
Lançamento: Sum
Quanto: R$ 30, em média
Eye to the Telescope
Artista: KT Tunstall
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 28, em média
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