São Paulo, sexta-feira, 01 de julho de 2005

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Obra antecipa estética de Kafka

DA REPORTAGEM LOCAL

A escolha de Modesto Carone, tradutor e especialista em Kafka, para a escrita do posfácio de "Bartleby, o Escrivão" não foi por acaso. A relação entre esse livro de Herman Melville, escrito em 1853, e a obra do escritor tcheco já havia sido mencionada no prólogo que Jorge Luis Borges escreveu ao livro, em tradução de 1944.
Entretanto, quando Rodrigo Lacerda, editor da Cosac Naify, propôs a Carone que fizesse o texto, não esperava a empolgação que ouviu na voz do ensaísta, depois de este o ter lido novamente, décadas após a primeira vez. "Ele me liga e fala: "Aceito a encomenda porque estou espantadíssimo que a esta altura da vida tenha encontrado uma alma gêmea tão flagrante de Kafka'", conta Lacerda.
"Bartleby, o Escrivão" é a história de um copista de Wall Street narrada pelo advogado que o contrata. Um escrivão que, depois de um início em que trabalhava incessantemente, passa a se negar aos pedidos do chefe, sempre com a frase: "Acho melhor não".
A situação recorrente é levada a tal extremo que o chefe nem sequer consegue contra-argumentar ou mandá-lo embora. Bartleby mostra-se um mestre da resistência passiva e uma vítima do sistema que o rodeia, uma vez que, como escreve Carone no posfácio, trabalhava antes praticamente na condição de escravo.
Carone compara o personagem de Melville aos ajudantes do agrimensor de "O Castelo", do tcheco, e diz que "Bartleby já define um gênero que por volta de 1919 seria reinventado e aprofundado por Franz Kafka: o das fantasias da conduta e do sentimento".


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