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Obra antecipa estética de Kafka
DA REPORTAGEM LOCAL
A escolha de Modesto Carone,
tradutor e especialista em Kafka,
para a escrita do posfácio de "Bartleby, o Escrivão" não foi por acaso. A relação entre esse livro de
Herman Melville, escrito em 1853,
e a obra do escritor tcheco já havia
sido mencionada no prólogo que
Jorge Luis Borges escreveu ao livro, em tradução de 1944.
Entretanto, quando Rodrigo
Lacerda, editor da Cosac Naify,
propôs a Carone que fizesse o texto, não esperava a empolgação
que ouviu na voz do ensaísta, depois de este o ter lido novamente,
décadas após a primeira vez. "Ele
me liga e fala: "Aceito a encomenda porque estou espantadíssimo
que a esta altura da vida tenha encontrado uma alma gêmea tão flagrante de Kafka'", conta Lacerda.
"Bartleby, o Escrivão" é a história de um copista de Wall Street
narrada pelo advogado que o
contrata. Um escrivão que, depois
de um início em que trabalhava
incessantemente, passa a se negar
aos pedidos do chefe, sempre
com a frase: "Acho melhor não".
A situação recorrente é levada a
tal extremo que o chefe nem sequer consegue contra-argumentar ou mandá-lo embora. Bartleby
mostra-se um mestre da resistência passiva e uma vítima do sistema que o rodeia, uma vez que, como escreve Carone no posfácio,
trabalhava antes praticamente na
condição de escravo.
Carone compara o personagem
de Melville aos ajudantes do agrimensor de "O Castelo", do tcheco, e diz que "Bartleby já define
um gênero que por volta de 1919
seria reinventado e aprofundado
por Franz Kafka: o das fantasias
da conduta e do sentimento".
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