São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tecnologia imita leis da natureza em exposição

Quarta edição da mostra de arte eletrônica "Emoção Art.Ficial" é aberta hoje em SP

São 16 obras expostas no Itaú Cultural: computadores geram bactérias artificiais e o movimento de carpas num aquário toca arquivos MP3

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

A internet, plataformas digitais, conhecimentos avançados de robótica, análise combinatória e luzes coloridas fazem parte de um arsenal tecnológico um tanto espalhafatoso montado a partir de hoje em três andares do Itaú Cultural -tudo para parecer natural.
São 14 artistas e dois coletivos expoentes da chamada arte eletrônica que se esforçam nesta quarta edição da mostra "Emoção Art.Ficial" para criar sistemas autônomos, dotados de uma espécie de inércia evolutiva digital, como se dependessem não do software pré-inserido em seus sistemas, mas seguissem as leis da natureza.
"Eu criei esse sistema e tive que pedir que ele incorporasse minhas idéias", diz o artista austríaco Roman Kirschner, diante de seu aquário turvo cheio de fios de cobre -eles conduzem uma corrente elétrica que provoca reações químicas com o sulfato de ferro, fazendo surgir cristais negros lá dentro. "Não sabia como o sistema reagiria às idéias."
Talvez o público tenha a mesma perplexidade diante dos bichos mecânico-orgânicos que povoam as cinco telas da dupla britânica Vicky Isley e Paul Smith, juntos no duo Boredomresearch. Num software que não pode ser desligado desde 2005, combinações numéricas determinam a aparência de amebas com aspecto de máquina, que balançam de lado a lado nos displays. "Eles decidem qual a cor, quais estampas e formatos vão ter", diz Isley.

Aquário
Pelo menos duas outras obras centrais fazem referência direta a colônias de bactérias, enquanto outros trabalhos se apropriam da lógica dos ecossistemas -uma artista chega a criar carpas em plena mostra- para dar seu recado.
O aquário das carpas de Vivian Caccuri convida o público a instalar seus tocadores de MP3 num sistema que reproduz os arquivos de som de acordo com o movimento dos peixes. Quanto mais longe estão do centro, mais difuso fica o som. "É uma metáfora para as músicas submersas nos fones de ouvido", diz Caccuri. "Você vê as pessoas ouvindo música, mas não ouve nada."
A artista paulistana estende a metáfora: "O iPod é um instrumento de controle -menos quando está no modo "shuffle'-, as pessoas fazem todas as escolhas, mas não controlam o nado dos peixes".
Também foge ao controle a chamada orquestra bacterial da dupla sueca Olle Cornéer e Martin Lübcke -o primeiro, um DJ, e o segundo, um físico.
Eles montaram no subsolo uma floresta de caixas de acústicas equipadas com microfones, que captam e reproduzem fragmentos do som ambiente em combinações aleatórias.
"São células que se comunicam por meio da música", diz Lübcke. "Elas constroem uma memória de tons e vão buscando um som para tocar, como se sofressem uma evolução. Só as células que gostam do "groove" sobrevivem."


EMOÇÃO ART.FICIAL 4.0
Quando:
abertura hoje, às 19h30; de ter. a sex., 10h às 21h; sáb. e dom., 10h às 19h; até 14/9
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/2168-1776; livre)
Quanto: entrada franca


Texto Anterior: João Pereira Coutinho: Capitalista sofre, camaradas
Próximo Texto: Artista cria jardim virtual no metrô
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.