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Diário de um gordo
Repórter de gastronomia faz três semanas de regime para testar serviço de dietas delivery; conta a experiência e confessa
os pecados da gula que não conseguiu evitar
LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO
Vez ou outra tem uma sessão familiar sobre "como
emagrecer". Meu cunhado
sugere ver "A Comilança".
Nesse clássico dos anos
1970, o cineasta italiano Marco Ferreri juntou quatro glutões (entre eles Marcello Mastroianni) numa mansão, por
um fim de semana. Um fim
de semana fatal, em que comeriam até morrer.
De um furgão saíam animais inteiros que depois iam
para a panela: "cabritos de
olhos doces", javalis selvagens, "inocentes cordeiros".
Se ainda assim o regime
não fluísse naturalmente,
minha lição de casa era assistir a "Super Size Me - A Dieta
do Palhaço". Nesse documentário, o diretor Morgan
Spurlock arruina sua saúde.
Passa um mês fazendo três
refeições diárias no Mc Donald's, para mostrar os efeitos nocivos da comida. Engorda 11 quilos. Mais: estoura
os níveis de colesterol, apresenta problemas no fígado e
sintomas depressivos.
Fiz o avesso. "Mini size
me". Fechei a boca por três
semanas, num teste anônimo de serviços de dieta delivery, congeladas. Eu, uma
jornalista que fiz que fiz até
transformar a comida na minha profissão, tornando-me
repórter de gastronomia,
quase enlouqueci ao ter de
obedecer rigorosamente ao
que a dieta propunha.
Mas perdi uns quilinhos
também. E pequei aqui e acolá. Está tudo registrado. Todo
gordo já teve um diário no
qual anota obsessivamente o
que comeu, quantas calorias
gastou, quantos pequenos
pecados ainda pode cometer.
Todo gordo sabe de cor e
salteado dar desculpas. A tireoide, a genética, os hormônios. Ai, os hormônios... Já
passei por essa fase também.
Que gordo não passou? Minha desculpa agora é o trabalho. E a verdade, confesso, é
o prazer. O puro prazer.
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