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CINEMA
Inauguração do Arteplex e investimento do grupo carioca Estação remodelam padrão de exibição e expandem salas
Circuito de arte muda a figura em SP
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas sociedades e uma inauguração reconfiguram o perfil dos
cinemas de arte de São Paulo. Na
próxima sexta, os exibidores
Adhemar Oliveira e Leon Cakoff
(ex-concorrentes, hoje unidos
sob a marca Circuito Cinearte)
abrem ao público as nove salas de
seu Arteplex, investimento de R$
7 milhões em um shopping na região central da cidade.
Há duas semanas, os proprietários do Estação Botafogo (rede
que possui 15 salas no Rio) firmaram contrato com o grupo Alvorada, pelo qual se tornaram co-proprietários de dez salas na capital paulista e assumiram o comando de sua programação.
Os dois grupos que disputam o
público dos filmes independentes
na cidade negam a guerra, mas
afiam suas armas. Oliveira e Cakoff dizem que o Arteplex adotará
um conceito "ousado" de programação: "filmes de qualidade sem
fronteiras".
Traduzido, o conceito oferece
ao espectador um leque de escolhas que vai da superprodução
"Planeta dos Macacos", do selo
Fox, ao independente iraniano "O
Círculo"; do blockbuster "Jurassic
Park 3" ao raro brasileiro "São
Paulo SA", só para ficar em exemplos da semana de estréia.
Concorrência
Na estrutura física, o Arteplex
faz outra mescla: adota em suas
salas qualidade de som, projeção
e conforto característicos dos
Multiplex e, fora delas, desenha
um ambiente elegante, compartimentado em café, fotogaleria e
quiosque de venda de produtos
culturais, um modelo característico do circuito "alternativo".
O objetivo por trás do conceito é
"estratégico, não ideológico", diz
Oliveira, fustigando a concorrência. "Queremos seduzir o público,
sem doutriná-lo. Com isso, criamos a possibilidade da "pescaria".
Um espectador que for ver uma
grande produção pode ser atraído
para um filme independente e, assim, ampliar seu repertório", diz.
Ao configurar-se nesse formato
híbrido, o Arteplex roça a um só
tempo em dois competidores no
mercado: desafia o monocromatismo do império Multiplex e
equipa-se com alguns diferenciais
para a disputa pelo público dos
"filmes de arte".
Por ora, é no domínio dos independentes que a batalha se avizinha. Literalmente: entre as dez salas agora controladas pelo grupo
Estação, duas (Studio Alvorada)
ficam no Conjunto Nacional, na
avenida Paulista, mesmo endereço em que o Cinearte possui dois
cinemas. As outras oito dividem-se entre o Top Cine, também na
Paulista, e o quase lendário Belas
Artes, para o qual está planejada
reforma orçada em R$ 4 milhões.
A idéia dos sócios Adriana Rattes, Ilda Santiago, Marcelo Mendes e Nelson Krumholz é "sentir
aos poucos a tendência do público paulista", mas a tendência inicial da programação aponta para
"a exibição de clássicos e ciclos temáticos no Studio Alvorada" e a
"formação de um circuitinho entre o Top Cine e o Belas Artes",
que teria programação idêntica à
da rede no Rio.
Para os ciclos, o acervo do Estação conta, entre outros, com 18 títulos de François Truffaut; 14 de
Louis Malle; 19 de Eric Rohmer; e
23 de Godard. A programação do
grupo no Rio é pautada sobretudo por filmes de distribuidoras
independentes (Imovision, Pandora e a sua própria, Filmes da Estação) e também pelos títulos
mais alternativos de "majors" como UIP e Columbia.
O Arteplex anuncia que trabalhará com todas as distribuidoras.
"Não estamos nos desviando do
nosso rumo. Há filmes de grife no
mundo todo. Formar público é
nosso trabalho, nosso começo,
nosso presente", diz Cakoff, que
há 25 anos organiza a Mostra Internacional de Cinema de São
Paulo.
Patrocínio
"Não queremos trabalhar com
um conceito "déjà-vu" de clássicos, coisa que, aliás, é muito fácil.
É importante ter uma oferta capaz
de atender públicos com níveis
distintos de formação cinematográfica", afirma Oliveira.
Os sócios do Estação se definem
como exibidores para um "nicho
de mercado" e invocam as regras
dele, o mercado, para pautar sua
atuação. "O mercado regula, o
público demanda, o patrocinador
demanda", diz Ilda Santiago.
Patrocinador, sim, porque, para
manter o seu perfil, tanto o circuito Estação quanto o Cinearte contam com verba de incentivo cultural, por meio das leis de renúncia fiscal. Ambos, aliás, têm o
mesmo patrocinador -ponto
comum que sobreviveu ao fim da
sociedade que uniu Oliveira aos
quatro sócios do Estação desde a
sua fundação, em 1985, até 1998,
quando se desentenderam.
"Começamos essa história há 15
anos, porque queríamos ter um
lugar em que pudéssemos ver os
filmes de que gostávamos. Que
bom que isso cresceu e virou um
negócio, porque há um público
que também quer ver bons filmes
em lugares charmosos. Hoje, se
temos duas empresas disputando
o mesmo mercado, é uma situação normal, como em qualquer
outra concorrência", diz Adriana
Rattes.
"Estamos investindo, porque
sabemos que há um público para
os filmes de arte e é o que gostamos de fazer. O dia em que precisarmos passar blockbusters, provavelmente iremos fazer outra
coisa, mas isso é um negócio como qualquer outro", afirma Santiago.
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