São Paulo, segunda-feira, 01 de agosto de 2005

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LITERATURA

Livro editado na Inglaterra reúne 21 visões sobre filme de Fernando Meirelles, incluindo artigo de Lula da Silva

Da tela, "Cidade de Deus" volta à literatura

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de ir ao cinema, "Cidade de Deus" vai voltar a ser livro. Desta vez, em inglês.
Sai em setembro na Inglaterra "City of God: Brazilian Social Cinema as Action" (Cidade de Deus: Cinema Social Brasileiro como Ação).
O volume é organizado pela professora de estudos brasileiros na Universidade de Londres Else Vieira, numa edição conjunta dos selos Zoilus e CCC Press.
Foi uma visão "não-consensual" do filme "Cidade de Deus" (2002), de Fernando Meirelles -por sua vez baseado no livro homônimo de Paulo Lins- que a organizadora procurou apresentar com a colaboração de 20 autores convidados (leia lista nesta página).
Meirelles e Lins escrevem, respectivamente, os capítulos "Writing the Script, Finding and Preparing the Cast" (Escrevendo o Roteiro, Encontrando e Preparando o Elenco) e "Cities of God and Social Mobilisation" (Cidades de Deus e Mobilização Social).
Entre um e outro, surpresa: Luiz Inácio Lula da Silva assina as páginas 123 a 127. Trata-se de observações feitas pelo presidente da República depois de assistir ao filme de Meirelles, quando ainda era candidato, na campanha presidencial de 2002.
No material de divulgação do livro, a editora destaca o trecho: "A ausência do Estado - portanto, de escolas, lazer, empregos - transforma conjuntos habitacionais como o de Cidade de Deus quase num banimento, um lugar em que os pobres são concentrados para não perturbar a paz da parcela incluída do país."

Presidente do PT
A versão em português do artigo ainda está disponível no site do PT (www.pt.org.br), com a assinatura "Luiz Inácio Lula da Silva é presidente de honra do Partido dos Trabalhadores e conselheiro do Instituto Cidadania".
As vozes do "dissenso" em "City of God..." são sobretudo as da crítica de cinema Ivana Bentes, responsável pelo capítulo "The Aesthetics of Violence in Brazilian Film" (A Estética da Violência no Filme Brasileiro) e a do rapper MV Bill, em "Cidade de Deus: History's Silent Protagonist" (Cidade de Deus: Protagonista Silencioso da História).
Bentes foi uma das mais contundentes críticas do filme "Cidade de Deus" na época de seu lançamento no Brasil, em 2002.
A especialista é conhecida por usar a expressão "cosmética da fome", na definição do que seria um hábito de diretores brasileiros contemporâneos de estilizar a miséria brasileira na tela, de forma a torná-la exótica e atraente a platéias internacionais. A "cosmética da fome" seria uma diluição da "estética da fome".
Já o rapper e escritor MV Bill ("Cabeça de Porco") desaprovou, na época da estréia do filme, o que seria sua tendência de estigmatizar os moradores de Cidade de Deus num perfil de criminalidade e violência.
"Em seu texto, MV Bill conta como, depois desta posição inicial desfavorável, ele revê sua opinião e encontra aspectos positivos no filme", diz Vieira.
A organizadora, que assina uma introdução ao livro, acha destacáveis, entre outras, a opinião da especialista inglesa em cinema Miranda Shaw.
"Ela [Shaw] critica os críticos ingleses que classificaram "Cidade de Deus" como um filme de gângsteres. Em sua opinião, isso induzia a uma interpretação do filme dentro do modelo americano de cinema", diz Vieira.
O êxito obtido pelo filme "Cidade de Deus" é uma exceção entre os títulos nacionais. Selecionado pelo Festival de Cannes, ganhou a atenção da imprensa mundial.
Nos cinemas brasileiros, registrou mais de 3 milhões de espectadores. Em Hollywood, foi reconhecido com quatro indicações ao Oscar: melhor diretor (Meirelles), montagem (Daniel Rezende), roteiro adaptado (Bráulio Mantovani) e fotografia (César Charlone).
Por suas características intrínsecas e pelo fato de haver sido "um absoluto sucesso em Londres", Vieira julgou o filme "uma plataforma interessante para discutir o Brasil".
Desde que a discussão caminhasse em muitas direções. "O Brasil não é consensual. Por que apresentar uma visão consensual?", indaga.


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