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LITERATURA
Livro editado na Inglaterra reúne 21 visões sobre filme de Fernando Meirelles, incluindo artigo de Lula da Silva
Da tela, "Cidade de Deus" volta à literatura
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de ir ao cinema, "Cidade
de Deus" vai voltar a ser livro.
Desta vez, em inglês.
Sai em setembro na Inglaterra
"City of God: Brazilian Social Cinema as Action" (Cidade de Deus:
Cinema Social Brasileiro como
Ação).
O volume é organizado pela
professora de estudos brasileiros
na Universidade de Londres Else
Vieira, numa edição conjunta dos
selos Zoilus e CCC Press.
Foi uma visão "não-consensual" do filme "Cidade de Deus"
(2002), de Fernando Meirelles
-por sua vez baseado no livro
homônimo de Paulo Lins- que a
organizadora procurou apresentar com a colaboração de 20 autores convidados (leia lista nesta página).
Meirelles e Lins escrevem, respectivamente, os capítulos "Writing the Script, Finding and Preparing the Cast" (Escrevendo o
Roteiro, Encontrando e Preparando o Elenco) e "Cities of God
and Social Mobilisation" (Cidades de Deus e Mobilização Social).
Entre um e outro, surpresa: Luiz
Inácio Lula da Silva assina as páginas 123 a 127. Trata-se de observações feitas pelo presidente da República depois de assistir ao filme
de Meirelles, quando ainda era
candidato, na campanha presidencial de 2002.
No material de divulgação do livro, a editora destaca o trecho: "A
ausência do Estado - portanto,
de escolas, lazer, empregos -
transforma conjuntos habitacionais como o de Cidade de Deus
quase num banimento, um lugar
em que os pobres são concentrados para não perturbar a paz da
parcela incluída do país."
Presidente do PT
A versão em português do artigo ainda está disponível no site do
PT (www.pt.org.br), com a assinatura "Luiz Inácio Lula da Silva é
presidente de honra do Partido
dos Trabalhadores e conselheiro
do Instituto Cidadania".
As vozes do "dissenso" em "City
of God..." são sobretudo as da crítica de cinema Ivana Bentes, responsável pelo capítulo "The Aesthetics of Violence in Brazilian
Film" (A Estética da Violência no
Filme Brasileiro) e a do rapper
MV Bill, em "Cidade de Deus:
History's Silent Protagonist" (Cidade de Deus: Protagonista Silencioso da História).
Bentes foi uma das mais contundentes críticas do filme "Cidade de Deus" na época de seu lançamento no Brasil, em 2002.
A especialista é conhecida por
usar a expressão "cosmética da
fome", na definição do que seria
um hábito de diretores brasileiros
contemporâneos de estilizar a miséria brasileira na tela, de forma a
torná-la exótica e atraente a platéias internacionais. A "cosmética
da fome" seria uma diluição da
"estética da fome".
Já o rapper e escritor MV Bill
("Cabeça de Porco") desaprovou,
na época da estréia do filme, o que
seria sua tendência de estigmatizar os moradores de Cidade de
Deus num perfil de criminalidade
e violência.
"Em seu texto, MV Bill conta
como, depois desta posição inicial
desfavorável, ele revê sua opinião
e encontra aspectos positivos no
filme", diz Vieira.
A organizadora, que assina uma
introdução ao livro, acha destacáveis, entre outras, a opinião da especialista inglesa em cinema Miranda Shaw.
"Ela [Shaw] critica os críticos
ingleses que classificaram "Cidade
de Deus" como um filme de
gângsteres. Em sua opinião, isso
induzia a uma interpretação do
filme dentro do modelo americano de cinema", diz Vieira.
O êxito obtido pelo filme "Cidade de Deus" é uma exceção entre
os títulos nacionais. Selecionado
pelo Festival de Cannes, ganhou a
atenção da imprensa mundial.
Nos cinemas brasileiros, registrou mais de 3 milhões de espectadores. Em Hollywood, foi reconhecido com quatro indicações
ao Oscar: melhor diretor (Meirelles), montagem (Daniel Rezende), roteiro adaptado (Bráulio
Mantovani) e fotografia (César
Charlone).
Por suas características intrínsecas e pelo fato de haver sido "um
absoluto sucesso em Londres",
Vieira julgou o filme "uma plataforma interessante para discutir o
Brasil".
Desde que a discussão caminhasse em muitas direções. "O
Brasil não é consensual. Por que
apresentar uma visão consensual?", indaga.
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