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Até tu, Justus
Empresário e apresentador é mais admirado do que Lula e Obama, segundo pesquisa publicada em revista
Quase a metade dos consultados estuda administração ou engenharia; estudo não reflete realidade do país
ROBERTO KAZ
DE SÃO PAULO
O leitor que abriu a revista
"Veja" de 14 de julho se deparou, à página 79, com um
anúncio apócrifo, encabeçado pelo seguinte texto: "Um
país só tem futuro quando
valoriza seus líderes. E quando seus heróis não estão apenas nos livros de história".
Logo abaixo, via-se o resultado de uma pesquisa,
realizada em abril último, em
que 30 mil universitários brasileiros foram incitados a
apontar um líder que admiravam. O ranking mostrava:
5º: Eike Batista
4º: Steve Jobs
3º: Lula
2º: Barack Obama
1º: Roberto Justus
Sim, à frente de Lula e
Obama: Roberto Justus.
A pesquisa, intitulada
"Empresa dos Sonhos dos Jovens", fora organizada por
um escritório de recrutamento -a Cia de Talentos-, em
parceria com a Nextview e a
TNS, duas agências de pesquisas de mercado. A metodologia consistia em enviar
um questionário, por e-mail,
para 400 mil universitários.
Das 35 mil respostas recebidas, 30 mil foram aproveitadas. Entre diversas perguntas sobre aspirações dos jovens, havia uma bastante específica, a ser respondida de
forma espontânea (ou seja,
sem opções de escolha): "Cite um líder da atualidade
com o qual você se identifica". Com 11% do total dos votos, Roberto Justus figurou
em primeiro.
MARGEM DE ERRO
Embora a Cia de Talentos
declare que o estudo tem
0,5% de margem de erro, a
Folha apurou que ele está
longe de refletir a distribuição nacional de alunos por
carreira. Segundo o último
senso do MEC, organizado
em 2008, 25% dos universitários do país estudam administração ou engenharia. Já
na pesquisa, eles respondem
por 47% das respostas.
Danilca Galdini, responsável pela pesquisa, diz que o
estudo garante um equilíbrio
de resposta por região geográfica (um mínimo de 1.100
para cada Estado), mas não
por área de estudo:
"Em geral pesquisamos
mais com alunos de administração e marketing, porque trabalhamos com empresas desse mercado. Concordo com você que faria
sentido controlar a área de
profissão também".
Fernanda Motta, gerente
da TNS, diz que o estudo "reflete o banco de dados da Cia
de Talentos". Ainda assim,
ela ensina que, "em termos
técnicos, 30 mil pessoas é
uma amostra muito grande.
Por isso dizemos que a pesquisa reflete, também, a opinião dos jovens em geral".
Fernanda acha que, mesmo que a pesquisa fosse fiel
aos dados do MEC, Roberto
Justus seria o primeiro: "As
pessoas se espelham muito
no que é mostrado na TV. E
ele está em todas as frentes.
É apresentador, executivo,
publicitário. É casado com a
filha da garota de Ipanema".
Esta não foi a primeira vez
que o publicitário constou
em uma pesquisa de opinião. Em maio de 2009, o
grupo Newcomm, presidido
por Justus, já ocupara uma
página da "Veja" para publicar três pesquisas que o mostravam melhor cotado do
que Silvio Santos, Abílio Diniz, William Bonner e -por
que não?- Brad Pitt.
Em agosto daquele ano,
Justus voltaria a figurar na
revista, em razão de outra
análise sobre lideres, que o
colocava à frente do ícone
máximo da igreja católica.
Em tom de surpresa, o texto
do colunista Lauro Jardim dizia: "O empresário e apresentador do SBT ficou atrás
de Barack Obama, mas à
frente de Lula, Jesus Cristo e
Steve Jobs".
AMBIÇÃO
Cecília Russo, diretora geral do grupo Troiano -responsável por elaborar uma
pesquisa em 2009 na qual
Justus ficou melhor posicionado do que Bernardinho,
Luciano Huck, Nizan Guanaes, Caetano Veloso, Felipe
Dylon e Fofão-, diz que o sucesso do apresentador não a
surpreende:
"O Roberto representa a
ambição de muito jovem universitário. Ele é um retrato de
um projeto de vida, como já
foi o Senna em outra época.
No "Aprendiz", era o cara que
ensinava o caminho das pedras, que mostrava a forma
de se vestir, de se portar. Virou uma espécie de guru dessa geração de jovens".
Cecília acredita que Obama aparece em segundo "por
não carregar mais a mesma
esperança de quando era
candidato". Já Lula, em terceiro, por uma desvantagem
estética: "Para a garotada,
tão importante quanto ter poder e dinheiro é o fato de o cara ser bonito. E o Roberto é
admirado pelas mulheres,
por assim dizer".
Em 1966, John Lennon declarou que os Beatles eram
mais famosos que Jesus Cristo. É sorte dele que Roberto
Justus, à época, tivesse apenas 11 anos.
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