São Paulo, sábado, 1 de agosto de 1998

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Geração se inspira em pessoas comuns

especial para a Folha, em Londres

Irvine Welsh pode ser o mais famoso, mas nem de longe está sozinho na nova corrente literária escocesa. A onda de novos escritores ganhou diversas compilações de pequenas histórias e chama-se, claro, "new scottish writing".
Ela ignora os best sellers Iain Banks e James Kelman, pertencentes a uma geração anterior de autores escoceses, consagrada por escrever em "inglês normal".
O mais famoso representante da leva é Alan Warner, 34 anos. O último livro de Warner, "The Sopranos", é a mais deliciosa surpresa literária do verão britânico. "The Sopranos" já teve seus direitos vendidos para o cinema por quase US$ 1 milhão.
Escrito em vernáculo escocês, o livro conta a hilária saga de um grupo de colegiais de uma cidade católica dos cafundós da Escócia que passa um dia bebendo, caçando homens e confusão numa viagem à capital, Edimburgo.
Como Welsh, Warner gosta de variações estilísticas e inclui pichações de parede entre as páginas, além de transformar um trecho de livro em roteiro de vídeo.
Não à toa, Warner está sendo chamado de "Douglas Coupland escocês", numa referência ao autor de "Generation X".
Os personagens de Welsh e Warner são os mesmos que aparecem nos livros de Candia McWilliam, Edwin Morgan, Norman MacCaig e Kate Clanchy: gente comum, classe média baixa ou pobre, presa no tédio surreal das pequenas cidades do país; alguns inserem pitadas de drogas e violência.
Os autores são na maioria nascidos depois de 1955, estudaram em universidades pouco badaladas e não levam uma vida glamourosa. Sua aceitação foi imediata.
Mas, apesar do sucesso consolidado de Welsh, muitos dos novos escritores temem uma visão deturpada da literatura do país. Como diz Angus Calder, "a imagem que filme e livro ("Trainspotting') insiste em apresentar é muito repugnante, nada saudável".
Num ensaio chamado de "By the Water of Leith I Sat Down and Wept: Reflections on Scottish Identity" (À Beira das Águas de Leith Eu Sentei e Chorei: Reflexões da Identidade Escocesa), Calder pede que nasça uma nova literatura em seu país, longe da violência tarantinesca de Welsh. (DB)



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