|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mostra vai da "terra de ninguém" a "território livre"
DA REPORTAGEM LOCAL
É com a 26ª Bienal de São Paulo,
de 25/9 a 19/12, que o curador alemão Alfons Hug poderá mostrar
qual é, de fato, o seu trabalho. Ele
foi o responsável pela 25ª edição
da mostra, há dois anos, mas contou com dez curadores-assistentes, entre eles Agnaldo Farias, que
escolheu os brasileiros.
Agora, Hug é responsável pela
íntegra da exposição, com exceção das 47 representações nacionais, e apresenta 80 artistas em salas especiais e na mostra temática.
Para tanto, ele teve mais de dois
anos para se preparar, visitando
30 das 50 Bienais do planeta.
"Se é verdade que existem várias
Bienais com curadorias coletivas,
também é verdade que existem
muitas outras que só têm um curador, como a próxima Documenta de Kassel, ou as últimas
Bienais de Sydney, Berlim, Istambul, Santa Fé e Montréal. O que
conta não é o número de curadores, mas a qualidade da mostra."
Envolvido com as montagens
para as paredes da Bienal, segundo ele mesmo, Hug afirmou, por
e-mail, que "espera superar o sucesso" da mostra anterior. A seguir, leia sobre o que levou o curador a considerar a Bienal uma
"terra de ninguém".
(FCY)
Folha - "Terra de Ninguém" era a
sua proposta de tema para a Bienal. No catálogo da mostra o sr. usa
esse conceito várias vezes, mas a
exposição ficou com o nome "Território Livre", que não é citado no
texto dos países convidados. Por
que houve a mudança? É verdade
que foi a prefeita Marta Suplicy
quem vetou o nome original?
Alfons Hug - Desde o início entendi o conceito da terra de ninguém como uma categoria estética, no sentido em que a arte é um
espaço sem dono e um exercício
de liberdade. No domínio da estética, tudo é de todos. Há mais de
um ano e meio, depois de considerar várias opções, chegamos à
conclusão, dentro da Bienal, que o
título "Território Livre" seria
mais adequado. Com a gratuidade da entrada e uma preocupação
especial com a inclusão social, este título ficou mais condizente.
Folha - O que o levou a pensar na
Bienal como "terra de ninguém"?
Hug - Na verdade, "território livre" e "terra de ninguém" são sinônimos, no sentido em que a
Bienal é uma área extraterritorial,
onde os artistas constroem seus
lugares utópicos. É uma reserva
protegida, na qual se acumula a
energia positiva que permite a
transformação da sociedade e a
intuição de novas formas do convívio humano. Cada geração de
artistas é chamada a fazer novamente o levantamento topográfico desse espaço livre.
Folha - No texto do catálogo o sr.
afirma que a função política da arte
consiste em ser "um desmancha-prazeres para o mundo administrado que tudo quer dirigir". Quais
obras da Bienal o sr. considera mais
representativas nesse sentido?
Hug - Essa afirmação é válida para a arte em geral e concerne todas
as obras presentes na Bienal.
Folha - Ao ressaltar o domínio da
estética na Bienal, o senhor pretende fazer uma crítica ao caráter essencialmente político-social que
mostras como a Documenta, em
suas últimas duas edições, assumiram?
Hug - A Bienal de SP não critica
outras Bienais nem a Documenta.
Ela valoriza, sim, a autonomia da
arte e dos processos estéticos.
Folha - Ter poucos artistas internacionalmente aclamados, como
Matthew Barney, que iria participar, é uma opção curatorial ou uma
forma de economia?
Hug - Há muitos artistas famosos na 26ª Bienal de São Paulo,
tanto nas representações nacionais quanto no segmento dos
convidados. É certo também que
toda Bienal deve se empenhar em
descobrir artistas emergentes. No
caso de Matthew Barney, o projeto dele se inviabilizou por razões
estritamente técnicas, e não financeiras.
Folha - No texto do catálogo o sr.
afirma que tanto a Documenta
quanto a Bienal de Veneza são eurocentristas. No entanto, há 50 artistas europeus na Bienal, contra
42 latino-americanos. Sua Bienal
também é eurocentrista?
Hug - Quando se avalia o caráter
anti-eurocentrista da Bienal de
São Paulo, deve-se levar em consideração também os artistas da
África e da Ásia, além da América
Latina. Estes três continentes representam mais da metade dos
artistas presentes.
Texto Anterior: Matthew Barney estréia filme em SP e ofusca Bienal Próximo Texto: Cinema: Veneza recebe "invasão" de Hollywood Índice
|