São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2006

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Ana Luiza investe no refinamento da MPB

Cantora lança CD em parceria com Luis Felipe Gama

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Só um mercado musical tão peculiar como o brasileiro pode explicar algo assim: a cantora Ana Luiza, uma promissora revelação da MPB nesta década, teve que esperar quase cinco anos para ver nas lojas seu álbum "Linha D'Água", que foi gravado com o pianista e parceiro Luis Felipe Gama.
"O mais triste é que até gente que gostou muito desse CD disse que precisávamos fazer uma coisa mais acessível. Até parece que os artistas que fazem concessões estão vendendo 50 mil discos". "Isso é mentira", rebate Gama, diretor musical do trabalho, que Ana Luiza e ele lançam em São Paulo, hoje e amanhã, no Tom Jazz.
Desde a gravação, financiada por conta própria, em dezembro de 2001, a cantora e o pianista contataram diversos selos alternativos para lançá-la. Ouviram elogios, viram pessoas se emocionarem ao ouvi-la, mas não conseguiram um acordo. Nem os elogios que Chico Buarque e Guinga fizeram a trabalhos da dupla ajudaram.
"Alguns desses selos usam raciocínio de "major" para atender um público que gosta de música brasileira alternativa. É um pensamento meio careta que persegue um formato radiofônico", rebate Ana Luiza, eleita, em 2005, melhor intérprete do Festival Cultura e segunda colocada no Prêmio Visa de MPB.
Nas conversas com os selos, a dupla percebeu que justamente as características do álbum que mais a atraíam eram vistas como defeitos, por destoarem dos padrões da produção atual nessa área.
"É um disco propositadamente longo, de 80 minutos, com poucos silêncios entre as faixas", observa Gama. "Queríamos que ele fosse uma experiência meio fílmica. Ao ouvi-lo, num fôlego só, o sujeito perceberia que existe um roteiro".

Belas canções
O mais curioso na rejeição enfrentada pela dupla é que o CD (lançado pelo selo Guanabara, ao preço de R$ 25) não tem nada de hermético, nem vanguardista. Mesmo quem não percebe a intenção conceitual pode ouvi-lo como uma coleção de belas canções, valorizadas pelas interpretações sensíveis de Ana Luiza e por arranjos bem-cuidados.
Entre as 18 faixas destacam-se composições de Gama, como a delicada "Depois do Sonho" (parceria com Guinga, que participa da gravação) ou "Valsa" (parceria com o violonista Natan Marques, presente em várias faixas). Também há releituras de clássicos da MPB, como "Modinha" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e "Retrato em Branco e Preto" (Jobim e Chico Buarque).
"Onde acaba a canção e onde começa a música instrumental? Os limites possíveis da canção nos interessam muito", diz o pianista.
No repertório dos shows também entram composições mais recentes de Gama. Elas farão parte do próximo CD da dupla, já em processo de gravação, que o selo Guanabara planeja lançar em 2007.

ANA LUIZA E LUIS
FELIPE GAMA

Quando: hoje e amanhã, às 22h
Onde: Tom Jazz (av. Angélica, 2331, Higienópolis, tel. 0/xx/11/ 3255-3635)
Quanto: R$ 30 (couvert artístico)


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