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Ana Luiza investe no refinamento da MPB
Cantora lança CD em parceria com Luis Felipe Gama
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Só um mercado musical tão
peculiar como o brasileiro pode
explicar algo assim: a cantora
Ana Luiza, uma promissora revelação da MPB nesta década,
teve que esperar quase cinco
anos para ver nas lojas seu álbum "Linha D'Água", que foi
gravado com o pianista e parceiro Luis Felipe Gama.
"O mais triste é que até gente
que gostou muito desse CD disse que precisávamos fazer uma
coisa mais acessível. Até parece
que os artistas que fazem concessões estão vendendo 50 mil
discos". "Isso é mentira", rebate Gama, diretor musical do
trabalho, que Ana Luiza e ele
lançam em São Paulo, hoje e
amanhã, no Tom Jazz.
Desde a gravação, financiada
por conta própria, em dezembro de 2001, a cantora e o pianista contataram diversos selos
alternativos para lançá-la. Ouviram elogios, viram pessoas se
emocionarem ao ouvi-la, mas
não conseguiram um acordo.
Nem os elogios que Chico
Buarque e Guinga fizeram a
trabalhos da dupla ajudaram.
"Alguns desses selos usam
raciocínio de "major" para atender um público que gosta de
música brasileira alternativa. É
um pensamento meio careta
que persegue um formato radiofônico", rebate
Ana Luiza, eleita, em
2005, melhor intérprete do Festival
Cultura e segunda
colocada no Prêmio
Visa de MPB.
Nas conversas
com os selos, a dupla
percebeu que justamente as características do álbum que
mais a atraíam eram
vistas como defeitos,
por destoarem dos
padrões da produção
atual nessa área.
"É um disco propositadamente longo, de 80 minutos, com poucos
silêncios entre as faixas", observa Gama. "Queríamos que
ele fosse uma experiência meio
fílmica. Ao ouvi-lo, num fôlego
só, o sujeito perceberia que
existe um roteiro".
Belas canções
O mais curioso na rejeição
enfrentada pela dupla é que o
CD (lançado pelo selo Guanabara, ao preço de R$ 25) não
tem nada de hermético, nem
vanguardista. Mesmo quem
não percebe a intenção conceitual pode ouvi-lo como uma coleção de belas canções, valorizadas pelas interpretações sensíveis de Ana Luiza e por arranjos bem-cuidados.
Entre as 18 faixas destacam-se composições de Gama, como
a delicada "Depois do Sonho"
(parceria com Guinga, que participa da gravação) ou "Valsa"
(parceria com o violonista Natan Marques, presente em várias faixas). Também há releituras de clássicos da MPB, como "Modinha" (Tom Jobim e
Vinicius de Moraes) e "Retrato
em Branco e Preto" (Jobim e
Chico Buarque).
"Onde acaba a canção e onde
começa a música instrumental? Os limites possíveis da canção nos interessam muito", diz
o pianista.
No repertório dos shows
também entram composições
mais recentes de
Gama. Elas farão
parte do próximo
CD da dupla, já em
processo de gravação, que o selo Guanabara planeja lançar em 2007.
ANA LUIZA E LUIS
FELIPE GAMA
Quando: hoje e amanhã, às 22h
Onde: Tom Jazz (av. Angélica, 2331, Higienópolis, tel. 0/xx/11/
3255-3635)
Quanto: R$ 30 (couvert artístico)
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