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Diretor acerta ao utilizar o realismo para reconstruir uma situação-limite
CRÍTICO DA FOLHA
O
que Paul Greengrass
faz é no mínimo desconcertante. Ele aplica
na ficção, sem escrúpulo, as
técnicas cinematográficas consagradas pelo documentário.
Desde "Domingo Sangrento",
que lhe deu um exagerado e
precoce Urso de Ouro em Berlim, seus filmes são marcados
pelo uso evidente da câmera na
mão, pelas imagens propositalmente tremidas e pela recriação do "tempo real".
Suas obras
acompanham determinado
acontecimento de perto, intensamente, com câmera e montagem "estressadas".
Em "Domingo Sangrento",
essa técnica foi aplaudida porque Greengrass trabalhava com
a recriação de um fato histórico
-o massacre que se seguiu a
uma manifestação pelos direitos civis na Irlanda, em 1972-,
o que lhe conferia uma suposta
autoridade para fazer uso daquelas técnicas. Mas, aí, Greengrass foi chamado para fazer "A
Supremacia Bourne", continuação de um filme de ação
hollywoodiano radicalmente
fantasioso, e recorreu exatamente ao mesmo estilo.
Greengrass manipula os signos de realidade no cinema para criar uma espécie de "realismo histérico". Mas, quando usa
um mesmo registro em filmes
tão diferentes -e, mais do que
isso, exagera nesses registros-,
termina revelando que eles são
meras convenções, técnicas de
gramática, e não formas mais
autênticas de reprodução do
real. É verdade que essa é uma
desconstrução velada que leva
Greengrass a um campo de trabalho perigoso: ao mesmo tempo em que evidencia artifícios,
também pode reforçar a confusão entre imagem e real.
É difícil, porém, negar o domínio pleno que o cineasta alcança em "Vôo United 93".
Aqui, seu "realismo histérico"
está menos "histérico" e mais
interessado em criar uma determinada experiência visual e
sonora. Greengrass não recorre
a flashbacks, recusa-se a escalar estrelas hollywoodianas e,
ao contrário do que induz todo
o discurso montado em torno
do filme, não está interessado
em falar de heróis.
Ao contrário, "Vôo United
93" fala de homens comuns envolvidos em uma situação fora
do comum -tanto os que estavam dentro do avião como os
que estava fora, tendo que controlar, com urgência, o caos
criado em um mundo que precisa de ordem (o espaço aéreo).
Nesse sentido, "Vôo United 93"
é de impacto brutal, uma experiência cinematográfica como
poucas.
(PEDRO BUTCHER)
VÔO UNITED 93
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