São Paulo, segunda-feira, 01 de setembro de 2008

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Morre Mestre Salustiano, "professor" do manguebeat

Músico "orientou" várias gerações em PE

DA AGÊNCIA FOLHA

Morreu ontem aos 62 anos, em Recife, Manoel Salustiano Soares, o Mestre Salu, um dos maiores rabequeiros do país.
O músico faleceu por volta das 7h30 no Procape (Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco), vítima de arritmia cardíaca provocada pela doença de Chagas. Ele estava internado havia uma semana.
Mestre Salu tinha a doença de Chagas (que provoca alterações cardíacas) há cerca de 20 anos. Há 30 dias, o músico colocou seu terceiro marca-passo, por conta do esgotamento da bateria do anterior. O cardiologista Afonso Albuquerque, que atendia Salustiano, disse que o músico chegou a se recuperar de outros episódios de arritmia durante a semana, mas não resistiu ao último.
O velório ocorreu na Casa da Rabeca, em Olinda, um espaço criado por Mestre Salu há cinco anos para dar "mais oportunidade a artistas populares", diz Edielson de Souza, sobrinho do rabequeiro e que faz parte da administração da Casa.
Mestre Salu nasceu na cidade de Aliança (94 km de Recife), onde fundou uma associação que reúne 102 dos maracatus do Estado.
Souza conta que a rabeca fazia parte da vida de Mestre Salu desde a infância. "Ele tocava desde os sete anos com o pai, João Salustiano", afirmou.
O músico era considerado uma das maiores autoridades em cultura pernambucana, e era admirado por artistas de várias gerações, de Ariano Suassuna a Chico Science.
O sobrinho afirma que a fama de Mestre Salu ser o "precursor" do "manguebeat" -movimento musical surgido na década de 90, em Pernambuco, que realizava a fusão de ritmos locais com o rock, o hip hop e a música eletrônica- vem do fato de muitos artistas do movimento procurarem o rabequeiro "para fazer maracatu juntos". "Era como se ele desse aulas a Chico Science e Siba."
O ministro da Cultura, Juca Ferreira, disse ontem, por meio de nota, que Mestre Salu ensinou aos brasileiros "que a tradição da cultura popular não deve se fechar aos novos meios e linguagens, por estar em constante movimento". "Seu diálogo com as novas gerações permitiu que essa força não ficasse estacionada no tempo", afirmou ainda o ministro.
O artista gravou quatro discos. O enterro está marcado para as 14h de hoje, no cemitério Morada da Paz, em Paulista (região metropolitana de Recife). Ele deixa mulher e 15 filhos. (CÍNTIA ACAYABA)


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