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CRÍTICA DRAMA
Cenas abusivas exploram vazio existencial como Antonioni
FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO
No quinto capítulo da
quarta temporada de "Mad
Men", Sally, a filha de dez
anos de Don Draper, masturba-se enquanto assiste TV e a
amiguinha dorme no sofá.
A cena leva ao auge uma
das principais marcas da série americana: ser politicamente incorreta.
Beber e estar bêbado em
serviço, fumar o tempo todo,
acendendo um cigarro no outro, mesmo quando quem fuma é uma mulher grávida, ou
assediar sexualmente a secretária são situações corriqueiras em "Mad Men", mas
impossíveis de se pensar numa série contemporânea.
Contudo, em vez de abusivas ou exageradas, tais cenas
são a melhor ilustração de
um vazio existencial que se
cria nos Estados Unidos
quando o país se transforma
na grande potência mundial
no início dos anos 1960.
O sonho americano -incorporado em Don Draper
(Jon Hamm), um publicitário
de sucesso que, agora na
quarta temporada, chega a
ganhar prêmios por sua própria agência, a Sterling Cooper Draper Pryce- não é tão
doce como parece.
Como num filme de Michelangelo Antonioni, o outro
lado do sucesso é uma vida
melancólica, que nessa nova
temporada está levando Draper ao inferno: o esfacelamento da família, que leva a
filha ao psiquiatra, o acordar
e arrepender-se da loira ao
lado na cama, ou então o esquecer as ordens estúpidas
que deu aos subordinados.
Citar Antonioni, aliás, não
é gratuito. A própria vida de
Draper lembra o clássico do
diretor italiano, "Profissão
Repórter" (1975), no qual um
jornalista de sucesso, David
Locke (Jack Nicholson) assume a identidade de um vizinho de seu quarto de hotel,
que aparece morto.
Draper, afinal, é Richard
Whitman, que assumiu a
identidade de um tenente,
morto em combate ao seu lado na guerra da Coreia. E a
separação da bela Betty ocorre não pelas costumeiras infidelidades, mas por esconder
a real identidade.
Entretanto, pelo que se viu
até agora, Whitman começa
a ganhar espaço dentro de
Draper novamente, quando
ele descobre que a mulher do
tenente morto sofre de câncer. E esse retorno às origens
pode levar essa temporada a
desfechos inesperados.
Na sociedade das aparências, que o mundo dos publicitários cria sem o menor pudor, "Mad Men" está indo
mais fundo que o lado
fashion e cheio de estilo que
a série exibe na superfície.
MAD MEN
AVALIAÇÃO ótimo
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