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MÚSICA
TIM FESTIVAL
Grupo, que combina o tango argentino com elementos eletrônicos, fará show com sete músicos e efeitos visuais
Gotan Project traz violino e laptops ao Rio
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM
Musicalmente ambicioso, mas
sem grandes pretensões de vender muito, o Gotan Project apareceu timidamente em 2001 na
França com o ótimo álbum "La
Revancha del Tango", que estourou no mundo todo em 2002, vendendo mais de 1 milhão de cópias.
O segredo do grupo, cujo núcleo central é formado pelos produtores Philippe Cohen Solal e
Christoph H. Müller e pelo guitarrista argentino radicado na França Eduardo Makaroff, é fazer uma
combinação elegante e orgânica
do tango e da música folclórica do
rio da Prata com a música eletrônica, mesclando dub e downtempo com instrumentos acústicos
como o bandoneón e o violino.
Principal atração do palco Tim
Lab na segunda noite do Tim Festival, que acontece em 31 deste
mês no Rio, os franceses do Gotan
trarão um show completo com sete músicos e efeitos visuais. No repertório, os sucessos de "La Revancha del Tango" e, se conseguirem um pouco mais de tempo,
duas faixas novas do próximo álbum, ainda em gestação, como
relatou Solal, 42, à Folha, por telefone, de Paris. Leia a seguir os
principais trechos da entrevista.
Folha - Você esteve em São Paulo
e no Rio no ano passado como DJ.
Como se sente de voltar ao Brasil?
Philippe Cohen Solal - Estou
muito feliz. No ano passado eu estive pela primeira vez no Brasil
para o projeto Red Bull Academy.
Em São Paulo, eu também discotequei no Xingu e tive uma resposta ótima como DJ. Foi aí que
decidi que a gente deveria voltar
com uma apresentação ao vivo,
para ver como os brasileiros reagiriam à música do Gotan. Outro
motivo foi ter tocado na Itália, em
um festival, e ter encontrado Caetano Veloso. Ele adorou o show e
disse que tínhamos de ir ao Brasil.
Folha - Antes do Gotan, você misturava música brasileira com eletrônica no grupo Boyz from Brazil.
Você planeja tocar alguma coisa
dessa fase no show do Rio?
Solal - Não, de forma alguma.
Gotan, como o nome diz, significa
tango. É um projeto estritamente
relacionado à música argentina
ou à música do rio da Prata. Não
dá para colocar um mix de música
brasileira no meio. Eu não gosto
muito da música que faz uma fusão de tudo. Por isso eu fiz dois
projetos separados. Penso que há
uma diferença enorme entre a
música brasileira e a argentina, e
entre músicas de outras partes da
América do Sul. Apenas os ignorantes pensam que a música latina é um coisa só.
Folha - Ao vivo, a música produzida pelo Gotan é muito diferente da
gravada. Quais são as principais diferenças e qual será a formação da
banda para esse show?
Solal - Nós vamos levar o show
inteiro. Somos sete músicos no
palco, uma parte toca instrumentos acústicos, como bandoneón,
violino, piano e guitarra, e a outra
parte usa ferramentas eletrônicas
como laptop, efeitos e "turntables" (toca-discos). Também levaremos uma cantora. Na realidade, no palco, acontece um verdadeiro pingue-pongue entre o
acústico e o eletrônico. Musicalmente é um concerto de verdade,
mas é também um show, pois teremos uma instalação de vídeo
com duas telas diferentes.
Folha - Como será a parte visual?
Solal - Eu acho que a parte visual
é muito importante no nosso
show, e ela foi feita por uma artista francesa, Prisca Lobjoy, responsável por todas as capas dos
nossos discos. Ela usa a imagem
de uma forma muito poética e
consegue captar a essência do
tango e da história da Argentina
para fazer algo bastante contemporâneo e diferente, evitando todos os clichês do tango e do tecno.
Folha - Outro projeto de tango
com eletrônica é o Bajofondo Tango Club. O que você pensa dele?
Solal - Acho que duas ou três faixas são OK, mas não gosto do resto. Penso que é um disco que já
nasce velho, que é só uma colagem de beats de house e loops para dançar, exatamente o que a
gente não quer fazer.
Folha - Recentemente você fez
um remix de "Whatever Lola
Wants", cantado por Sarah Vaughan. Quais são seus próximos projetos e quando sai um novo álbum
do Gotan?
Solal - Já começamos a trabalhar
no novo disco. Estamos trabalhando dentro do possível, porque temos viajado o mundo todo.
A turnê deve terminar no fim deste ano e, no começo de 2004, devemos mergulhar no disco.
Mas queremos tempo para fazer
algo que seja ainda melhor do que
o primeiro. Nós fizemos "La Revancha del Tango" com liberdade
porque não esperávamos o sucesso que ele teve. Agora temos todo
esse sucesso e estamos muito confiantes, mas, ao mesmo tempo, temos de tomar cuidado para continuar a fazer explorações. Porque
pensar no sucesso não é a melhor
forma de fazer boa música.
Folha - Vocês vão tocar alguma
música inédita no Brasil?
Solal - Se tivermos tempo, sim.
Porque em festivais a gente tem
um limite de tempo. Nesse é uma
hora, e o nosso show tem quase
duas horas. Mas adoraríamos
mostrar duas novas faixas.
TIM FESTIVAL. Onde: MAM-RJ (av.
Infante Dom Henrique, 85, Rio). Quando:
de 30/10 a 1º/11. Quanto: de R$ 30 a R$
80 (www.ticketronics.com.br).
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