UOL


São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

A celebridade é instável e depende de pactos

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

O SBT e Augusto Liberato estão com a sua credibilidade ameaçada. Se as investigações comprovarem a fraude nas entrevistas veiculadas pelo "Domingo Legal", o desgaste vai crescer.
Perda de credibilidade resulta em queda de faturamento. Anunciantes não querem associar seus produtos a marcas que "topam tudo por dinheiro", até mesmo fraudar ameaças bandidas à ordem pública.
Eventos sociais cancelam convite ao apresentador. O público deixa clara sua desconfiança, abandonando o programa.
Os índices de audiência do último domingo caíram sintomaticamente. Com eles, pode cair o valor dos anúncios. Isso pode se transformar em uma bola de neve.
Já na defensiva, Gugu apresentou uma versão "light" de seu programa no último domingo. Gugu moderado não é nem divertido, nem inteligente ou construtivo. Apenas respeita as regras mínimas da convivência social.
Em um quadro do programa dedicado à saúde, o apresentador recebeu um terapeuta naturalista, frequentador dos palcos do SBT, já visto no "Programa do Ratinho". O menu era adequado à situação. Muito verde esperança. Alface que acalma e evita insônia. Limão que depura (também a mentira?).
Há ainda muito a depurar. Vimos a "transformação" de Débora, uma das ganhadoras do prêmio em dinheiro vivo no quadro "Gugu em Minha Casa". A morena bonita retribuiu a visita ilustre do apresentador fazendo merchandising de uma marca de tintura para cabelo.
Pudemos comparar seu "look" castanho escuro natural de telespectadora anônima "de antes", com a loira oxigenada candidata à celebridade "de depois". E lamentar que ela se ache mais bonita assim.
Gugu "paz e amor" não fala de assalto, sequestro, ameaça ou miséria. Ao contrário, reforça sua faceta Papai Noel, distribuindo dinheiro vivo, como o patrão.
Parafraseando Acerola, personagem da série "Cidade dos Homens" (Globo), pela quantidade de dinheiro que ele distribui, podemos imaginar a quantidade de dinheiro que ele não distribui.
A linguagem do lucro é inequívoca. Gugu e o SBT estão sentindo no bolso os prejuízos da suspeita de fraude contra a ordem pública. A celebridade é instável e depende de um pacto sempre renovado com o público. Cuidado, Gugu: a quebra dessa confiança pode ser fatal.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

Texto Anterior: Teatro: "Hotel" de Bortolotto é alternativo e antológico
Próximo Texto: Marcelo Coelho: A urgência de "Amarelo Manga"
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.