|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
A celebridade é instável e depende de pactos
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
O SBT e Augusto Liberato estão com a sua credibilidade
ameaçada. Se as investigações
comprovarem a fraude nas entrevistas veiculadas pelo "Domingo
Legal", o desgaste vai crescer.
Perda de credibilidade resulta
em queda de faturamento. Anunciantes não querem associar seus
produtos a marcas que "topam
tudo por dinheiro", até mesmo
fraudar ameaças bandidas à ordem pública.
Eventos sociais cancelam convite ao apresentador. O público deixa clara sua desconfiança, abandonando o programa.
Os índices de audiência do último domingo caíram sintomaticamente. Com eles, pode cair o valor
dos anúncios. Isso pode se transformar em uma bola de neve.
Já na defensiva, Gugu apresentou uma versão "light" de seu programa no último domingo. Gugu
moderado não é nem divertido,
nem inteligente ou construtivo.
Apenas respeita as regras mínimas da convivência social.
Em um quadro do programa
dedicado à saúde, o apresentador
recebeu um terapeuta naturalista,
frequentador dos palcos do SBT,
já visto no "Programa do Ratinho". O menu era adequado à situação. Muito verde esperança.
Alface que acalma e evita insônia.
Limão que depura (também a
mentira?).
Há ainda muito a depurar. Vimos a "transformação" de Débora, uma das ganhadoras do prêmio em dinheiro vivo no quadro
"Gugu em Minha Casa". A morena bonita retribuiu a visita ilustre
do apresentador fazendo merchandising de uma marca de tintura para cabelo.
Pudemos comparar seu "look"
castanho escuro natural de telespectadora anônima "de antes",
com a loira oxigenada candidata à
celebridade "de depois". E lamentar que ela se ache mais bonita assim.
Gugu "paz e amor" não fala de
assalto, sequestro, ameaça ou miséria. Ao contrário, reforça sua faceta Papai Noel, distribuindo dinheiro vivo, como o patrão.
Parafraseando Acerola, personagem da série "Cidade dos Homens" (Globo), pela quantidade
de dinheiro que ele distribui, podemos imaginar a quantidade de
dinheiro que ele não distribui.
A linguagem do lucro é inequívoca. Gugu e o SBT estão sentindo
no bolso os prejuízos da suspeita
de fraude contra a ordem pública.
A celebridade é instável e depende
de um pacto sempre renovado
com o público. Cuidado, Gugu: a
quebra dessa confiança pode ser
fatal.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
Texto Anterior: Teatro: "Hotel" de Bortolotto é alternativo e antológico Próximo Texto: Marcelo Coelho: A urgência de "Amarelo Manga" Índice
|