São Paulo, segunda-feira, 01 de outubro de 2007

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"Por mim, saía ontem", diz presidente do Masp

Aos 75, Júlio Neves afirma que não tem interesse em continuar à frente do Masp e que não pretende se reeleger em 2008

Atual presidente foi eleito pela primeira vez em 1994 e já ganhou sete pleitos; sua gestão é criticada por profissionais das artes

DA REPORTAGEM LOCAL

O Masp entrou na vida do arquiteto Júlio Neves quando a atual sede ainda estava em construção. Em 1967, o brigadeiro Faria Lima, na época prefeito de São Paulo, convocou o então diretor do Instituto de Arquitetos para uma missão: acompanhar as obras do novo edifício na avenida Paulista.
"Ele chegou para mim e falou assim: "Você não quer ir lá no museu que estamos construindo na Paulista? Mas vai lá e vê se consegue fazer essa mulher gastar menos dinheiro". Era a Lina [Bo] Bardi", lembra Neves.
O futuro presidente do Masp não conseguiu fazer com que Lina gastasse menos. "Ela não estava nem aí", diz ele.
"Lina era uma pessoa de uma personalidade extraordinária, ela fez o que ela achou que tinha de ser feito, e o Figueiredo Ferraz viabilizou", conta, destacando o engenheiro que calculou a estrutura do prédio.
A construção já estava avançada, e Neves permaneceu até o seu término, quando foi convidado para entrar no conselho.
A primeira eleição que ele ganhou para a presidência do Masp foi em outubro de 1994. Foi vitorioso nas seis que se sucederam. Na primeira, tinha o objetivo de "pacificar" as duas tendências que brigavam dentro do museu -de um lado estava José Mindlin, do outro, Roberto Costa de Abreu Sodré.
"Era amigo de todos. De repente, saiu uma briga danada lá. E o pessoal mais ligado ao Sodré e ao Mario Pimenta achou que deveria me candidatar. Falei: "Tá bom, fico por dois anos, depois vocês assumem". Só que morreu o Mario Pimenta e depois o Sodré", conta.
O escritório do arquiteto assina projetos como o prédio da Fecomércio, na Bela Vista. Neves já ocupou a presidência da Nossa Caixa, entre 1970 e 1971, convidado pelo então governador Sodré. Sua gestão à frente do museu tem recebido críticas de profissionais ligados à arte.

Chega
Aos 75 anos, ele afirma que não pretende se reeleger presidente do Masp em 2008. "Por mim, eu saía ontem. Não tenho interesse. Chega", afirma.
Mas, quando o assunto é sua sucessão, ele tergiversa e discursa sobre a necessidade de profissionalização. "O problema do Masp é uma questão de sustentabilidade. A diretoria tem de ser remunerada, executiva, o museu não pode depender de mim, do A ou do B."
Por ser uma organização sem fins lucrativos, o Masp não paga os dirigentes. Neves, que descreve sua rotina como "trabalho, trabalho e trabalho", garante que metade de seu tempo é dedicado ao museu. A manutenção do prédio, que passou por grande reforma em sua gestão, é uma das principais contribuições que crê ter dado ao Masp. Evoca o arquiteto Rino Levi para situar a importância dos cuidados com o prédio: "Ele dizia com aquela voz: "Arquitetura moderna, se não tiver manutenção adequada, dá ruínas belíssimas'". (TEREZA NOVAES)


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