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"Por mim, saía ontem", diz presidente do Masp
Aos 75, Júlio Neves afirma que não tem interesse em continuar à frente do Masp e que não pretende se reeleger em 2008
Atual presidente foi eleito pela primeira vez em 1994 e já ganhou sete pleitos; sua gestão é criticada por profissionais das artes
DA REPORTAGEM LOCAL
O Masp entrou na vida do arquiteto Júlio Neves quando a
atual sede ainda estava em
construção. Em 1967, o brigadeiro Faria Lima, na época prefeito de São Paulo, convocou o
então diretor do Instituto de
Arquitetos para uma missão:
acompanhar as obras do novo
edifício na avenida Paulista.
"Ele chegou para mim e falou
assim: "Você não quer ir lá no
museu que estamos construindo na Paulista? Mas vai lá e vê
se consegue fazer essa mulher
gastar menos dinheiro". Era a
Lina [Bo] Bardi", lembra Neves.
O futuro presidente do Masp
não conseguiu fazer com que
Lina gastasse menos. "Ela não
estava nem aí", diz ele.
"Lina era uma pessoa de uma
personalidade extraordinária,
ela fez o que ela achou que tinha de ser feito, e o Figueiredo
Ferraz viabilizou", conta, destacando o engenheiro que calculou a estrutura do prédio.
A construção já estava avançada, e Neves permaneceu até o
seu término, quando foi convidado para entrar no conselho.
A primeira eleição que ele ganhou para a presidência do
Masp foi em outubro de 1994.
Foi vitorioso nas seis que se sucederam. Na primeira, tinha o
objetivo de "pacificar" as duas
tendências que brigavam dentro do museu -de um lado estava José Mindlin, do outro,
Roberto Costa de Abreu Sodré.
"Era amigo de todos. De repente, saiu uma briga danada
lá. E o pessoal mais ligado ao
Sodré e ao Mario Pimenta
achou que deveria me candidatar. Falei: "Tá bom, fico por dois
anos, depois vocês assumem".
Só que morreu o Mario Pimenta e depois o Sodré", conta.
O escritório do arquiteto assina projetos como o prédio da
Fecomércio, na Bela Vista. Neves já ocupou a presidência da
Nossa Caixa, entre 1970 e 1971,
convidado pelo então governador Sodré. Sua gestão à frente
do museu tem recebido críticas
de profissionais ligados à arte.
Chega
Aos 75 anos, ele afirma que
não pretende se reeleger presidente do Masp em 2008. "Por
mim, eu saía ontem. Não tenho
interesse. Chega", afirma.
Mas, quando o assunto é sua
sucessão, ele tergiversa e discursa sobre a necessidade de
profissionalização. "O problema do Masp é uma questão de
sustentabilidade. A diretoria
tem de ser remunerada, executiva, o museu não pode depender de mim, do A ou do B."
Por ser uma organização sem
fins lucrativos, o Masp não paga os dirigentes. Neves, que
descreve sua rotina como "trabalho, trabalho e trabalho", garante que metade de seu tempo
é dedicado ao museu. A manutenção do prédio, que passou
por grande reforma em sua gestão, é uma das principais contribuições que crê ter dado ao
Masp. Evoca o arquiteto Rino
Levi para situar a importância
dos cuidados com o prédio:
"Ele dizia com aquela voz: "Arquitetura moderna, se não tiver
manutenção adequada, dá ruínas belíssimas'".
(TEREZA NOVAES)
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