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Thielemans reina no jazz com sua gaita
Com apresentações marcadas em São Paulo e no Rio, o belga de 85 anos é o maior gaitista do gênero há cinco décadas
Músico reencontrará no país o violonista e compositor carioca Oscar Castro-Neves, com quem trabalhou no álbum "The Brasil Project"
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Na cena internacional do
jazz, ele reina absoluto, há cinco décadas, como o maior gaitista do gênero.
As limitações técnicas da gaita jamais impediram que o belga Toots Thielemans, 85, toque
e improvise com a mesma agilidade e capacidade expressiva
de qualquer outro grande instrumentista de sopro.
"Quando comecei a tocá-la,
na década de 40, os músicos de
Bruxelas diziam que eu devia
jogá-la fora. A gaita era tratada
como um brinquedo, não como
um instrumento de verdade",
conta Thielemans, que se apresenta hoje e amanhã, no teatro
Cultura Artística (em São Paulo), e quinta, no Canecão (Rio).
Além de trazer ao Brasil seu
quarteto, o gaitista vai reencontrar nesses shows um antigo parceiro: o violonista e compositor carioca Oscar Castro-Neves, bossa-novista da primeira geração, que vive nos
EUA há 40 anos.
"Mister Fax"
Falando à Folha, por telefone, da Bélgica, Thielemans
conta que apelidou Castro-Neves de "Mister Fax", em 1991,
durante a preparação de seu álbum "The Brasil Project", lançado no ano seguinte. Quando
o brasileiro sugeriu os nomes
de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Ivan Lins, entre vários figurões da MPB, para participar das gravações, o belga se
surpreendeu.
"Oscar me pediu
apenas uma semana para acertar tudo com eles. Não
acreditei, mas,
quando ele chegou
com os faxes de todos aqueles grandes
artistas brasileiros,
confirmando que
iam gravar meu disco, passei a chamá-lo de "Mister Fax".
Naquela época, ainda não existia e-mail", relembra,
rindo.
Outro episódio que remete à
antiga relação de Thielemans
com a MPB foi a gravação do álbum "Aquarela do Brasil", que
ele dividiu com Elis Regina, em
1969, durante uma turnê da
cantora pela Europa. O repertório combinou
clássicos da bossa
nova com stardards
do jazz.
"Tenho lembranças muito boas de
Elis. Dá para imaginá-la com Roberto
Menescal, com o
pianista Antonio
Adolfo e o baterista
Wilson das Neves,
gravando um disco
em Estocolmo, em
pleno inverno?"
Mas o que é que
atraiu a atenção de
um jazzista como Thielemans
na música brasileira? "Na verdade, meu primeiro contato se
deu com Carmen Miranda. Ela
era fantástica, mas não tinha
nada que se comparasse às harmonias e melodias de um Tom
Jobim. Talvez seja uma comparação pobre, mas a harmonia
do "Samba de uma Nota Só" é
muito próxima das harmonias
do bebop", comenta o gaitista,
referindo-se ao estilo de jazz
moderno que o influenciou,
nos anos 40.
"Não estou dizendo que Jobim se inspirou no bebop para
compor essa música", ressalva
Thielemans. "O fato é que nenhuma das melodias do bebop,
nem mesmo as de Charlie Parker, se tornou tão popular
quanto as melodias de Jobim.
De uma maneira vulgar, eu poderia dizer que Jobim conseguiu introduzir algo do bebop
até nos elevadores", brinca.
Por essas e outras, claro que
Thielemans não vai deixar de
tocar alguma canção de Jobim
no show, além de composições
de Castro-Neves e Ivan Lins. O
repertório destaca também alguns standards do jazz, incluindo seu sucesso "Bluesette". "Vou tocá-la nas duas versões: mais sentimental e, depois, em bossa nova", avisa o
carismático jazzista, tocando a
gaita várias vezes ao telefone,
para não perder a embocadura.
TOOTS THIELEMANS
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r.
Nestor Pestana, 196, São Paulo,
tel. 0/xx/11/3256-0223)
Quanto: de R$ 30 a R$ 90
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