São Paulo, segunda-feira, 01 de outubro de 2007

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Thielemans reina no jazz com sua gaita

Com apresentações marcadas em São Paulo e no Rio, o belga de 85 anos é o maior gaitista do gênero há cinco décadas

Músico reencontrará no país o violonista e compositor carioca Oscar Castro-Neves, com quem trabalhou no álbum "The Brasil Project"

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na cena internacional do jazz, ele reina absoluto, há cinco décadas, como o maior gaitista do gênero.
As limitações técnicas da gaita jamais impediram que o belga Toots Thielemans, 85, toque e improvise com a mesma agilidade e capacidade expressiva de qualquer outro grande instrumentista de sopro.
"Quando comecei a tocá-la, na década de 40, os músicos de Bruxelas diziam que eu devia jogá-la fora. A gaita era tratada como um brinquedo, não como um instrumento de verdade", conta Thielemans, que se apresenta hoje e amanhã, no teatro Cultura Artística (em São Paulo), e quinta, no Canecão (Rio).
Além de trazer ao Brasil seu quarteto, o gaitista vai reencontrar nesses shows um antigo parceiro: o violonista e compositor carioca Oscar Castro-Neves, bossa-novista da primeira geração, que vive nos EUA há 40 anos.

"Mister Fax"
Falando à Folha, por telefone, da Bélgica, Thielemans conta que apelidou Castro-Neves de "Mister Fax", em 1991, durante a preparação de seu álbum "The Brasil Project", lançado no ano seguinte. Quando o brasileiro sugeriu os nomes de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Ivan Lins, entre vários figurões da MPB, para participar das gravações, o belga se surpreendeu.
"Oscar me pediu apenas uma semana para acertar tudo com eles. Não acreditei, mas, quando ele chegou com os faxes de todos aqueles grandes artistas brasileiros, confirmando que iam gravar meu disco, passei a chamá-lo de "Mister Fax".
Naquela época, ainda não existia e-mail", relembra, rindo.
Outro episódio que remete à antiga relação de Thielemans com a MPB foi a gravação do álbum "Aquarela do Brasil", que ele dividiu com Elis Regina, em 1969, durante uma turnê da cantora pela Europa. O repertório combinou clássicos da bossa nova com stardards do jazz.
"Tenho lembranças muito boas de Elis. Dá para imaginá-la com Roberto Menescal, com o pianista Antonio Adolfo e o baterista Wilson das Neves, gravando um disco em Estocolmo, em pleno inverno?"
Mas o que é que atraiu a atenção de um jazzista como Thielemans na música brasileira? "Na verdade, meu primeiro contato se deu com Carmen Miranda. Ela era fantástica, mas não tinha nada que se comparasse às harmonias e melodias de um Tom Jobim. Talvez seja uma comparação pobre, mas a harmonia do "Samba de uma Nota Só" é muito próxima das harmonias do bebop", comenta o gaitista, referindo-se ao estilo de jazz moderno que o influenciou, nos anos 40.
"Não estou dizendo que Jobim se inspirou no bebop para compor essa música", ressalva Thielemans. "O fato é que nenhuma das melodias do bebop, nem mesmo as de Charlie Parker, se tornou tão popular quanto as melodias de Jobim.
De uma maneira vulgar, eu poderia dizer que Jobim conseguiu introduzir algo do bebop até nos elevadores", brinca.
Por essas e outras, claro que Thielemans não vai deixar de tocar alguma canção de Jobim no show, além de composições de Castro-Neves e Ivan Lins. O repertório destaca também alguns standards do jazz, incluindo seu sucesso "Bluesette". "Vou tocá-la nas duas versões: mais sentimental e, depois, em bossa nova", avisa o carismático jazzista, tocando a gaita várias vezes ao telefone, para não perder a embocadura.


TOOTS THIELEMANS
Quando:
hoje e amanhã, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, São Paulo, tel. 0/xx/11/3256-0223)
Quanto: de R$ 30 a R$ 90


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