São Paulo, sábado, 01 de outubro de 2011

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Brasília revê a ditadura sob um viés intimista

"Hoje", de Tata Amaral, é primeiro longa inédito exibido na competição

No filme, mulher compra apartamento com indenização por sumiço do marido, que aparece e reabre feridas


AMANDA QUEIRÓS
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

A competição do Festival de Brasília começa a esquentar. Após exibir títulos já vistos em mostras país afora, o evento apresentou, enfim, seu primeiro longa inédito.
Fazendo jus à tradição política que o acompanhou em 44 anos de existência, o evento exibiu, anteontem, "Hoje", de Tata Amaral, que pôs o fantasma da ditadura brasileira na tela do Cine Brasília.
Inspirado no livro "Prova Contrária", de Fernando Bonassi, apresenta o drama de Vera, que compra apartamento com o dinheiro recebido de uma indenização pelo desaparecimento de seu marido.
Acontece que, no dia em que se muda para o lugar, ele reaparece e reabre feridas.
Com roteiro de Jean-Claude Bernardet, Rubens Rewald e Felipe Sholl, "Hoje" tem um pé no teatro, investindo em um texto costurado a partir dos diálogos do casal, cuja ação ocorre inteiramente dentro de um apartamento.
Para Amaral, a ideia era investir no relato. "A mim, interessa muito como isso vivifica a narrativa.
Quando você conta algo, aquilo se torna uma verdade", diz.
A trama se baseia nas lembranças de Vera e mistura presente e passado, confundindo o espectador e fazendo-o rever a ditadura por um viés mais intimista.
"Nós, brasileiros, nos esquecemos disso, mas não colocamos um ponto final nessa história", afirma ela, justificando a escolha do tema.
Como em todos os seus filmes, Amaral dá enfoque especial às personagens femininas. A protagonista da vez é vivida por Denise Fraga.
Conhecida por seu trabalho cômico, faz uma virada dramática ao lado de seu par, o ator uruguaio Cesar Troncoso ("O Banheiro do Papa").
"É uma personagem torturada em busca de reestruturar sua vida, que está dividida entre esquecer e não esquecer", diz Fraga, forte na disputa de melhor atriz.
"Hoje" custou R$ 1,8 milhão e marca a volta da diretora a Brasília 14 anos depois de ser premiada em direção por "Um Céu de Estrelas".

A jornalista AMANDA QUEIRÓS viajou a convite do festival.



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