São Paulo, quinta-feira, 01 de novembro de 2007

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Poema inspira Memorial Portinari

Filho acredita que "O Menino e o Povoado" expõe desejo do pintor de ser enterrado em sua cidade natal

DANIELLE CASTRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

"Pedirei ao anjo as asas emprestadas para sobrevoar o meu passado." O verso, do poema "O Menino e o Povoado", de Candido Portinari (1903-1962), um dos principais artistas do modernismo brasileiro, tem servido de argumento para o traslado dos restos mortais do pintor, hoje no cemitério São João Batista, no Rio, para Brodowski (339 km ao norte de São Paulo), sua cidade natal.
"Até então, não havíamos encontrado registros escritos dessa vontade, mas esse verso traduz a minha convicção de que meu pai desejava ser enterrado em sua cidade natal, junto aos seus pais e irmãos", diz o professor João Candido Portinari, filho do artista e diretor do Projeto Portinari, instituição que cuida de seu espólio cultural.
Para a mudança, será construído o Memorial Portinari, com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer -parceiro de Portinari em várias obras, entre elas a igreja de São Francisco de Assis, construída na década de 1940, em Belo Horizonte.
O memorial deverá incluir um auditório com 500 lugares e uma ala para exposições e será erguido na fazenda Santa Rosa, onde o pintor nasceu. A idéia é que seja mantido por uma fundação mista, com participação da iniciativa privada, sociedade civil e poder público.
Embora o prédio do memorial não seja contínuo ao museu Casa de Portinari -fundado em 1970 e localizado no lugar onde o pintor cresceu-, os dois projetos devem ser complementares. O plano da cidade é reativar, no futuro, um trajeto de trem ligando os dois locais.
A Prefeitura de Brodowski orçou em R$ 7 milhões a execução do projeto, segundo o secretário-executivo do Conselho Municipal de Turismo, Roberto Morando Videira. Os próximos passos serão inserir o projeto na Lei Rouanet e iniciar a captação de recursos.

Poemas
Outro projeto em curso envolve a memória do artista e, coincidentemente, inclui o verso que deu início à idéia do memorial: o relançamento de uma coletânea de poemas de Portinari selecionados por Manuel Bandeira e reunidos em livro dois anos após a morte do pintor. Esgotado nas duas primeiras edições, o volume será relançado em maio de 2008.
"O primeiro livro ele [Portinari] não quis que fosse ilustrado, porque dizia que o poeta menor não poderia se beneficiar da fama do pintor, mas a obra poética dele é um caminho para entender a obra plástica, pois os temas são os mesmos: a infância, a injustiça social", afirma o filho João.
A obra tem cerca de 120 páginas e será lançada pela editora Desiderata, com tiragem inicial de 3.000 exemplares. Os escritos de Portinari devem ganhar ainda uma exposição, no início de 2008, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, para tentar dar ao poeta visibilidade semelhante à do pintor.


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