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Poema inspira Memorial Portinari
Filho acredita que "O Menino e o Povoado" expõe desejo do pintor de ser enterrado em sua cidade natal
DANIELLE CASTRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
"Pedirei ao anjo as asas emprestadas para sobrevoar o
meu passado." O verso, do poema "O Menino e o Povoado", de
Candido Portinari (1903-1962),
um dos principais artistas do
modernismo brasileiro, tem
servido de argumento para o
traslado dos restos mortais do
pintor, hoje no cemitério São
João Batista, no Rio, para Brodowski (339 km ao norte de São
Paulo), sua cidade natal.
"Até então, não havíamos encontrado registros escritos dessa vontade, mas esse verso traduz a minha convicção de que
meu pai desejava ser enterrado
em sua cidade natal, junto aos
seus pais e irmãos", diz o professor João Candido Portinari,
filho do artista e diretor do Projeto Portinari, instituição que
cuida de seu espólio cultural.
Para a mudança, será construído o Memorial Portinari,
com projeto arquitetônico de
Oscar Niemeyer -parceiro de
Portinari em várias obras, entre elas a igreja de São Francisco de Assis, construída na década de 1940, em Belo Horizonte.
O memorial deverá incluir
um auditório com 500 lugares e
uma ala para exposições e será
erguido na fazenda Santa Rosa,
onde o pintor nasceu. A idéia é
que seja mantido por uma fundação mista, com participação
da iniciativa privada, sociedade
civil e poder público.
Embora o prédio do memorial não seja contínuo ao museu
Casa de Portinari -fundado
em 1970 e localizado no lugar
onde o pintor cresceu-, os dois
projetos devem ser complementares. O plano da cidade é
reativar, no futuro, um trajeto
de trem ligando os dois locais.
A Prefeitura de Brodowski
orçou em R$ 7 milhões a execução do projeto, segundo o secretário-executivo do Conselho Municipal de Turismo, Roberto Morando Videira. Os próximos passos serão inserir o
projeto na Lei Rouanet e iniciar
a captação de recursos.
Poemas
Outro projeto em curso envolve a memória do artista e,
coincidentemente, inclui o verso que deu início à idéia do memorial: o relançamento de uma
coletânea de poemas de Portinari selecionados por Manuel
Bandeira e reunidos em livro
dois anos após a morte do pintor. Esgotado nas duas primeiras edições, o volume será relançado em maio de 2008.
"O primeiro livro ele [Portinari] não quis que fosse ilustrado, porque dizia que o poeta
menor não poderia se beneficiar da fama do pintor, mas a
obra poética dele é um caminho para entender a obra plástica, pois os temas são os mesmos: a infância, a injustiça social", afirma o filho João.
A obra tem cerca de 120 páginas e será lançada pela editora
Desiderata, com tiragem inicial
de 3.000 exemplares. Os escritos de Portinari devem ganhar
ainda uma exposição, no início
de 2008, no Museu da Língua
Portuguesa, em São Paulo, para
tentar dar ao poeta visibilidade
semelhante à do pintor.
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