São Paulo, quinta-feira, 01 de novembro de 2007

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Crítica/"Onde os Fracos Não Têm Vez"

Irmãos Coen modernizam o faroeste em novo filme

AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA

Há tempos os irmãos Coen estavam devendo um grande filme. Ei-lo: "Onde os Fracos Não Têm Vez" ("No Country for Old Men"), adaptação livre do romance de Cormac McCarthy lançado no Brasil pela Alfaguara sob o título "Onde os Velhos Não Têm Vez" (2006, 256 págs., R$ 38,90).
Tudo se passa na fronteira do Texas com o México, vagamente entre 1970 e 1980. O faroeste assume nova cara, com caminhões substituindo as carruagens, mas a violência continua soberana.
Um certo Llewelyn Moss (Josh Brolin) encontra, em meio ao cenário de um conflito entre traficantes sem sobreviventes, uma maleta com US$ 2 milhões. É seu passaporte para um futuro tranqüilo ao lado da suave esposa, Carla Jean (Kelly Macdonald).
Achado não é roubado. Moss fica com o dinheiro -e o caçador vira caça. Um matador de aluguel psicopata, de nome Anton Chigurh (Javier Bardem), sai em seu encalço. O xerife só poderia ser Tommy Lee Jones, à beira da aposentadoria, simbolizando como nunca o fim de uma era. O filme é essencialmente a corrida entre eles para encontrar Moss.
Faroeste
Joel e Ethan Coen orquestram a perseguição como uma comédia macabra. É como se Luis Buñuel ("Simão do Deserto") e John Huston ("O Tesouro de Sierra Madre") colaborassem numa adaptação, combinando estilos e territórios conhecidos. Bardem, fantasmagórico e caricatural, parece saído de um filme do primeiro. Jones, sutil e minimalista, um coadjuvante do segundo.
Neste ano de revitalização do faroeste, com títulos como "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", de Andrew Dominik, e "Os Indomáveis", de James Mangold, "Onde os Fracos Não Têm Vez" é a mais bem sucedida tentativa de modernizar o gênero sem dilui-lo ou descaracterizá-lo.
Seu parente mais próximo é "Três Enterros", dirigido por Tommy Lee Jones a partir do impecável roteiro de Guillermo Arriaga (o ex-parceiro de Alejandro González Iñárritu). Menos que qualquer clássico de John Ford, a bíblia aqui é Sam Peckinpah e "Traga-me a Cabeça de Alfredo Garcia" (1974).
Na belíssima filmografia dos Coen, "Onde os Fracos Não Têm Vez" encontra equivalente, em dinamismo, humor e inteligência, apenas em "Fargo" (1996). Cannes 2007 os esnobou. Duvido que o Oscar faça o mesmo.


ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ
Direção:
Ethan e Joel Coen
Produção: EUA, 2007
Com: Josh Brolin, Javier Bardem, Tommy Lee Jones
Quando: hoje, às 21 h, no Memorial da América Latina. O ingresso do filme pode ser trocado por 2kg de alimento (com exceção de sal e açúcar) na Central da Mostra
Avaliação: ótimo

O crítico Inácio Araújo resenha "Caótica Ana", de Julio Medem www.folha.com.br/ilustradanocinema

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