|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Onde os Fracos Não Têm Vez"
Irmãos Coen modernizam o faroeste em novo filme
AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Há tempos os irmãos
Coen estavam devendo um grande filme.
Ei-lo: "Onde os Fracos Não
Têm Vez" ("No Country for Old
Men"), adaptação livre do romance de Cormac McCarthy
lançado no Brasil pela Alfaguara sob o título "Onde os Velhos
Não Têm Vez" (2006, 256
págs., R$ 38,90).
Tudo se passa na fronteira do
Texas com o México, vagamente entre 1970 e 1980. O faroeste
assume nova cara, com caminhões substituindo as carruagens, mas a violência continua
soberana.
Um certo Llewelyn Moss
(Josh Brolin) encontra, em
meio ao cenário de um conflito
entre traficantes sem sobreviventes, uma maleta com US$ 2
milhões. É seu passaporte para
um futuro tranqüilo ao lado da
suave esposa, Carla Jean (Kelly
Macdonald).
Achado não é roubado. Moss
fica com o dinheiro -e o caçador vira caça.
Um matador de aluguel psicopata, de nome Anton Chigurh (Javier Bardem), sai em
seu encalço. O xerife só poderia
ser Tommy Lee Jones, à beira
da aposentadoria, simbolizando como nunca o fim de uma
era.
O filme é essencialmente a
corrida entre eles para encontrar Moss.
Faroeste
Joel e Ethan Coen orquestram a perseguição como uma
comédia macabra. É como se
Luis Buñuel ("Simão do Deserto") e John Huston ("O Tesouro de Sierra Madre") colaborassem numa adaptação, combinando estilos e territórios conhecidos. Bardem, fantasmagórico e caricatural, parece saído de um filme do primeiro. Jones, sutil e minimalista, um
coadjuvante do segundo.
Neste ano de revitalização do
faroeste, com títulos como "O
Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", de
Andrew Dominik, e "Os Indomáveis", de James Mangold,
"Onde os Fracos Não Têm Vez"
é a mais bem sucedida tentativa
de modernizar o gênero sem dilui-lo ou descaracterizá-lo.
Seu parente mais próximo é
"Três Enterros", dirigido por
Tommy Lee Jones a partir do
impecável roteiro de Guillermo
Arriaga (o ex-parceiro de Alejandro González Iñárritu).
Menos que qualquer clássico
de John Ford, a bíblia aqui é
Sam Peckinpah e "Traga-me a
Cabeça de Alfredo Garcia"
(1974).
Na belíssima filmografia dos
Coen, "Onde os Fracos Não
Têm Vez" encontra equivalente, em dinamismo, humor e inteligência, apenas em "Fargo"
(1996). Cannes 2007 os esnobou. Duvido que o Oscar faça o
mesmo.
ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ
Direção: Ethan e Joel Coen
Produção: EUA, 2007
Com: Josh Brolin, Javier Bardem,
Tommy Lee Jones
Quando: hoje, às 21 h, no Memorial
da América Latina. O ingresso do
filme pode ser trocado por 2kg de
alimento (com exceção de sal e açúcar) na Central da Mostra
Avaliação: ótimo
O crítico Inácio Araújo resenha "Caótica Ana", de Julio Medem www.folha.com.br/ilustradanocinema
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Crítica/"Persépolis": Animação protesta contra opressão religiosa e política Índice
|