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Gafes e "tema- tabu" encerram 32ª Mostra
Júri destaca "sensibilidade" do vencedor na abordagem da depressão pós-parto
Vitória de "O Estranho em Mim" foi anunciada duas vezes; diretora fez tentativa frustrada de falar e ficou sem troféu, não fabricado a tempo
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
"É um filme ousado, que trata com sensibilidade de um tema, em geral, tabu. Precisamos
defender o estranho em nós."
Com essa justificativa, o cineasta inglês Hugh Hudson
anunciou a escolha do filme
alemão "O Estranho em Mim",
de Emily Atef, como vencedor
da 32ª Mostra de Cinema de
São Paulo, anteontem.
O tabu que Atef, 34, quis
abordar neste que é o seu segundo longa consiste na negação de uma doença associada à
maternidade, conforme ela disse à Folha: "Por que a sociedade deseja imperativamente que
uma mãe seja feliz, como se o
amor por uma criança fosse
inato, quando nada na nossa
cultura é inato?".
Em "O Estranho em Mim",
Rebecca (Susanne Wolff, cujo
desempenho foi premiado pelo
júri) tem uma floricultura e Julian (Johann von Bülow) é um
arquiteto de próspera carreira.
Gravidez planejada
O casal planejou a vinda do
primeiro filho, adaptando sua
casa e sua rotina. Rebecca é o tipo de grávida que acaricia a
barriga e conversa com o bebê.
Mas quando Lukas nasce, ela
não consegue amá-lo e mal suporta sua presença.
Após essa introdução, o filme
se concentra em como Rebecca
enfrenta a depressão pós-parto, tardiamente diagnosticada,
e no impacto da doença em sua
relação com o filho e o marido.
Atef diz que fez extenso trabalho de pesquisa para escrever
a trama, já que ela e sua co-roteirista, Esther Bernstorff, não
têm filhos. Descobriu que "a
doença atinge de 10% a 20%
das mães na Alemanha" e que o
tratamento é bem-sucedido na
imensa maioria dos casos, o
que coincide com o desfecho do
filme, "positivo e esperançoso",
na descrição da cineasta.
O final sem amargura do drama, no entanto, não foi suficiente para atrair o público na
Alemanha, onde o filme já estreou. "Tive muito boas críticas, mas o público parece não
querer ver uma história sobre
esse tema", disse Atef. "Vamos
ver o que acontecerá aqui".
O Brasil foi o primeiro país a
comprar "O Estranho em
Mim", quando ele foi exibido
na Semana da Crítica, no Festival de Cannes, em maio passado, conforme Atef disse no palco do Sesc Pinheiros, que abrigou o encerramento do festival.
O longa foi adquirido pelo selo Filmes da Mostra, de Leon
Cakoff e Renata de Almeida, diretores da Mostra de São Paulo,
que ainda não programaram a
data de lançamento no país.
Sem troféu
Atef não pôde levar o troféu
para casa -nem nenhum dos
demais premiados. O fabricante da peça, recriada neste ano
pela artista plástica Tomie Ohtake, "não terminou a tempo"
sua confecção, avisou Cakoff.
Duas amostras da peça permaneceram no palco. Cada ganhador era convidado a "tirar
foto com o troféu", já que não
podia propriamente recebê-lo.
O anúncio do grande vencedor da noite foi duplicado. Primeiro, o jurado Hudson revelou a decisão do júri. Atef foi então até o palco e tentou se aproximar do microfone. Em vão.
Com a palavra, Cakoff imediatamente convidou à cena os
atores Rodrigo Santoro e Benicio del Toro e a produtora Laura Bickford, de "Che", o filme
de encerramento da Mostra.
Houve frisson na platéia, e Atef
movia-se aturdida no palco.
Santoro fez breve discurso e
passou a palavra a Del Toro
(Che), que brincou: "Obrigado,
Gary Cooper". Parecendo ignorar o anúncio já feito, Del Toro
disse que estava ali para revelar
o nome do vencedor e leu num
papel: "O Estranho em Mim".
Atef, por fim, agradeceu. Disse que aquele era "um momento maravilhoso" e descontraiu:
"Fico feliz que o Benicio tenha
visto o meu filme e gostado!".
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