São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2008

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Gafes e "tema- tabu" encerram 32ª Mostra

Júri destaca "sensibilidade" do vencedor na abordagem da depressão pós-parto

Vitória de "O Estranho em Mim" foi anunciada duas vezes; diretora fez tentativa frustrada de falar e ficou sem troféu, não fabricado a tempo


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"É um filme ousado, que trata com sensibilidade de um tema, em geral, tabu. Precisamos defender o estranho em nós."
Com essa justificativa, o cineasta inglês Hugh Hudson anunciou a escolha do filme alemão "O Estranho em Mim", de Emily Atef, como vencedor da 32ª Mostra de Cinema de São Paulo, anteontem.
O tabu que Atef, 34, quis abordar neste que é o seu segundo longa consiste na negação de uma doença associada à maternidade, conforme ela disse à Folha: "Por que a sociedade deseja imperativamente que uma mãe seja feliz, como se o amor por uma criança fosse inato, quando nada na nossa cultura é inato?".
Em "O Estranho em Mim", Rebecca (Susanne Wolff, cujo desempenho foi premiado pelo júri) tem uma floricultura e Julian (Johann von Bülow) é um arquiteto de próspera carreira.

Gravidez planejada
O casal planejou a vinda do primeiro filho, adaptando sua casa e sua rotina. Rebecca é o tipo de grávida que acaricia a barriga e conversa com o bebê. Mas quando Lukas nasce, ela não consegue amá-lo e mal suporta sua presença.
Após essa introdução, o filme se concentra em como Rebecca enfrenta a depressão pós-parto, tardiamente diagnosticada, e no impacto da doença em sua relação com o filho e o marido.
Atef diz que fez extenso trabalho de pesquisa para escrever a trama, já que ela e sua co-roteirista, Esther Bernstorff, não têm filhos. Descobriu que "a doença atinge de 10% a 20% das mães na Alemanha" e que o tratamento é bem-sucedido na imensa maioria dos casos, o que coincide com o desfecho do filme, "positivo e esperançoso", na descrição da cineasta.
O final sem amargura do drama, no entanto, não foi suficiente para atrair o público na Alemanha, onde o filme já estreou. "Tive muito boas críticas, mas o público parece não querer ver uma história sobre esse tema", disse Atef. "Vamos ver o que acontecerá aqui".
O Brasil foi o primeiro país a comprar "O Estranho em Mim", quando ele foi exibido na Semana da Crítica, no Festival de Cannes, em maio passado, conforme Atef disse no palco do Sesc Pinheiros, que abrigou o encerramento do festival.
O longa foi adquirido pelo selo Filmes da Mostra, de Leon Cakoff e Renata de Almeida, diretores da Mostra de São Paulo, que ainda não programaram a data de lançamento no país.

Sem troféu
Atef não pôde levar o troféu para casa -nem nenhum dos demais premiados. O fabricante da peça, recriada neste ano pela artista plástica Tomie Ohtake, "não terminou a tempo" sua confecção, avisou Cakoff.
Duas amostras da peça permaneceram no palco. Cada ganhador era convidado a "tirar foto com o troféu", já que não podia propriamente recebê-lo.
O anúncio do grande vencedor da noite foi duplicado. Primeiro, o jurado Hudson revelou a decisão do júri. Atef foi então até o palco e tentou se aproximar do microfone. Em vão.
Com a palavra, Cakoff imediatamente convidou à cena os atores Rodrigo Santoro e Benicio del Toro e a produtora Laura Bickford, de "Che", o filme de encerramento da Mostra. Houve frisson na platéia, e Atef movia-se aturdida no palco.
Santoro fez breve discurso e passou a palavra a Del Toro (Che), que brincou: "Obrigado, Gary Cooper". Parecendo ignorar o anúncio já feito, Del Toro disse que estava ali para revelar o nome do vencedor e leu num papel: "O Estranho em Mim".
Atef, por fim, agradeceu. Disse que aquele era "um momento maravilhoso" e descontraiu: "Fico feliz que o Benicio tenha visto o meu filme e gostado!".


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