São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2008

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Cia. mineira recria Caio Fernando Abreu

Depois de passar com sucesso por festivais, Luna Lunera mostra "Aqueles Dois" em SP

A partir de conto do autor gaúcho, grupo desenvolveu dramaturgia e direção "a dez mãos'; atores se revezam nos papéis de Raul e Saul


Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Os atores Rômulo Braga (à esq.) e Marcelo Souza e Silva na peça

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Eram tempos áridos os que a companhia belo-horizontina Luna Lunera amargava no início de 2007. "Não nos encontrávamos mais para criar, treinar, só para tratar de prestações de contas de leis de incentivo, questões ligadas à administração da sede, burocracias", lembra o ator Odilon Esteves.
O grupo resolveu "fechar para balanço". Até que, em meio a oficinas de ação verbal (estudo da fala cênica como ato), deteve-se diante de um espelho de sua situação: o "deserto de almas" do conto "Aqueles Dois", de Caio Fernando Abreu (1948-1996), ambientado na repartição modorrenta em que, à força de cinefilia, boleros e cafeína, Raul e Saul se aproximam.
O que era um pretexto para um exercício interno virou o espetáculo que projetou o grupo nacionalmente, a partir da apresentação no Festival de Curitiba, em março passado.
Depois de passagens pelas mostras de São José do Rio Preto (SP) e da Bahia, a montagem chega hoje a São Paulo.
No início do processo criativo, cada um dos cinco integrantes ligados à encenação (a companhia tem, ao todo, oito) mostrou um projeto de direção. A idéia era escolher o melhor, mas o que ocorreu, na prática, foi uma sobreposição de visões.
Na seqüência, alinhavou-se um roteiro, com base em improvisações do elenco (do qual só não participa Zé Walter Albinati) e "provocações" que os diretores-dramaturgos levavam aos colegas -como uma carta de Abreu sobre a morte de Elis Regina ou o feminino nos filmes de Almodóvar.
"As escolhas iniciais haviam sido afetivas. O exercício racional veio depois e foi sofrido, pois vivemos uma coisa sensorial e, de repente, tínhamos de organizar aquele material.
Quando fizemos o primeiro tratamento, pensamos: "perdemos tudo'", conta Esteves.

Voz da platéia
Convidado a testemunhar a evolução da montagem em ensaios abertos, o público acabou co-assinando a dramaturgia, ao lembrar o elenco de improvisações certeiras surgidas em ocasiões anteriores: "A platéia era predominantemente feminina, o que ajudou a equalizar, evitar uma visão de gênero, uma perspectiva só masculina [são quatro homens em cena]", diz Albinati. Durante o espetáculo, os atores se revezam nas funções de personagem e narrador, por vezes repetindo falas uns dos outros. "É um reflexo do jogo de sobreposição de vozes que já fazíamos nas oficinas", sugere Albinati. "É o lugar da autonomia, a chance de cada um fazer o personagem como acha que ele é", acrescenta Esteves. Ou, vai ver, resolveram simplesmente seguir à risca a prosa de Caio Fernando Abreu: "Que mais restava àqueles dois senão se misturarem?".

AQUELES DOIS
Quando: estréia hoje; sex. e sáb., às 21h30, dom., às 19h; até 14/12
Onde: Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, 12º andar, tel. 0/xx/11/ 3179-3700)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Classificação: não indicado a menores de 16 anos



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