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CINEMA
"Eu Me Lembro" ganha sete prêmios no festival, enquanto "À Margem do Concreto", de Evaldo Mocarzel, é ovacionado
Longa de Edgard Navarro domina Brasília
EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
"Alertem todos alarmas que o
homem que eu era voltou." O verso da canção "O que Foi Feito Deverá", de Milton Nascimento, que
acompanha os créditos finais de
"Eu Me Lembro", parecia um prenúncio: o diretor baiano Edgard
Navarro voltou, foi visto e venceu.
O filme, estréia do cineasta na direção de um longa, foi o último a
ser exibido na mostra competitiva
e terminou favorito, ganhando
um total de sete prêmios no Festival de Brasília, anteontem.
Muito emocionado, Navarro
chegou a cair do palco depois de
receber os troféus de melhor roteiro e direção. Depois do susto, e
de novo em pé, Navarro mal teve
tempo de voltar à platéia e retornou ao palco para pegar o Candango de melhor filme, sob efusivos aplausos do público.
"Vocês querem me matar? Eu
estou em estado de graça, transbordando de alegria", disse o diretor, acompanhado de parte do
elenco e equipe de "Eu Me Lembro", que também foi eleito o melhor filme pela crítica e ganhou os
Candangos de melhor atriz (Arly
Arnaud), ator e atriz coadjuvantes
(Fernando Neves e Valderez Freitas Teixeira). No palco, Navarro
saudou a beleza dos concorrentes
e ressaltou uma conexão entre seu
filme e "A Concepção", longa do
brasiliense José Eduardo Belmonte, que levou três prêmios (montagem, trilha sonora e Câmara Legislativa; veja os principais vencedores no quadro ao lado).
"Os dois filmes fazem o resgate
de um tesouro perdido; no caso
de "Eu Me Lembro", no passado, e
de "A Concepção", voltado para o
futuro. Fico feliz de estar vendo
este cinema brasileiro do futuro",
disse Navarro.
Premiado em Brasília em 1985 e
1986 com os curtas "Porta de Fogo" e "Lyn e Katazan", e em 1989
em Gramado, com o média "SuperOutro", considerado um cult,
Navarro amargou um longo hiato
em sua carreira. Em "Eu Me Lembro", o diretor criou um diálogo
entre sua vida e os anos de ditadura e de desbunde no Brasil, numa
clave memorialista com algo de
"Amarcord", de Fellini. No debate na manhã seguinte à exibição,
Navarro salientou a "afetividade"
de seu filme, criando um contraponto com o "racionalismo" de
"O Veneno da Madrugada".
Grande expectativa do festival,
o matemático exercício de narrativa de Guerra ganhou apenas os
Candangos de melhor direção de
arte para Marcos Flaksman e fotografia para Walter Carvalho.
"Foi uma imensa honra trabalhar
com um dos maiores diretores do
cinema mundial", afirmou Flaksman. "Fazer um filme com Ruy
Guerra e receber um prêmio em
Brasília é ser duplamente premiado", disse Carvalho.
Política
"À Margem do Concreto", contundente documentário sobre os
movimentos de ocupação dos
sem-teto no centro de São Paulo,
consagrou-se como favorito do
público -teve a sessão mais ovacionada de todo o festival- com
o prêmio do júri popular e ainda o
prêmio especial do júri oficial e
Candango de melhor som. No
agradecimento, o diretor Evaldo
Mocarzel louvou a poesia de Gustavo Acioli em "Incuráveis" (que
levou Candango de melhor ator
para Fernando Eiras), a emoção
sincera de Roberto Bomtempo
em "Depois Daquele Baile", a radicalidade de Belmonte em "A
Concepção", e a maestria de Ruy
Guerra em "O Veneno da Madrugada".
"Queria também agradecer aos
movimentos de moradia de São
Paulo pela confiança que depositaram em mim, o que me deu
muita liberdade para fazer o filme", disse Mocarzel, acompanhado de Verônica Kroll, líder do Fórum dos Cortiços.
"O filme atingiu o público. Espero que ele agora atinja as portas
dos governo que se fecham para
nós", afirmou Kroll, reiterando a
vocação política do festival.
O jornalista Eduardo Simões viajou a convite do festival
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