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COMIDA
Vencedor do Campeonato Brasileiro de Baristas fala sobre a profissão e avalia a qualidade do café do país
Café campeão
CRISTIANE LEONEL
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto a maioria dos competidores treinava o preparo de suas
bebidas antes do concurso começar, Luiz Otávio Linhares permanecia em concentração num canto de uma sala. Tudo indica que
esses minutos de silêncio valeram
a pena, uma vez que ele foi o vencedor do 5º Campeonato Brasileiro de Baristas, realizado entre os
dias 22 e 25 de novembro no Centro Empresarial de São Paulo. Isso
significa que Linhares é, atualmente, quem melhor prepara um
café no Brasil.
Formado em História e Filosofia, Linhares, 27, largou, há três
anos, a carreira de professor para
se tornar barista na Lucca Cafés
Especiais (Curitiba), onde recebeu treinamento e se especializou
na arte de preparar e servir um
bom café. No ano passado, alcançou o quarto lugar no Campeonato Nacional, mas foi neste ano
que, segundo avaliação do júri, revelou seu melhor trabalho.
Depois de preparar quatro xícaras de expresso, quatro de cappuccino e quatro taças com um
drinque de sua criação, em apenas 15 minutos (tempo determinado pelo concurso, uma vez que
a velocidade de preparo é um dos
quesitos na avaliação), ele conseguiu ficar à frente de mais de 44
profissionais especializados em
café no Brasil -número recorde
de inscritos no Campeonato; no
ano passado, foram 33. Ele também convenceu um júri que, pela
primeira vez, passou por treinamento específico para avaliar os
participantes, dado por jurados
do World Barista Championship
(o mais importante concurso de
baristas do mundo).
Com a conquista do primeiro
lugar no Campeonato Nacional, Linhares ganhou o
direito de representar o Brasil no
World Barista
Championship,
concurso mundial
que acontece no
próximo ano em
Berna (Suíça). À
sua maneira, ele já
se prepara para
mostrar sua técnica no exterior. A
seguir, sua entrevista.
Folha - Porque resolveu abandonar a carreira de professor e se tornar barista?
Luiz Otávio Linhares - Eu achava
o trabalho de professor muito estressante, e uma amiga recomendou que eu trabalhasse numa cafeteria. Eu fui até o Lucca [Cafés
Especiais] e acabei ficando. No
começo, a proprietária me deu o
treinamento, depois eu fui buscando a técnica, estudando. Há
dois anos, eu comecei a trabalhar
com teatro também.
Folha - Você acha que sua experiência como ator influencia em um
concurso de baristas, uma vez que
requer uma certa teatralização no
momento da apresentação?
Linhares - No teatro, você aprende a ter controle sobre suas emoções, inclusive sobre sua prepotência. E isso ajudou muito no
concurso porque a sua simplicidade no ato de se relacionar com
o cliente conta muitos pontos.
Folha - Qual a diferença entre um
café servido por um barista e outro
servido por uma pessoa sem formação?
Linhares - O barista é treinado
para ficar atento aos detalhes. Como, por exemplo, a compactação.
Existe um força de 15 a 20 quilos
que o barista tem que fazer sobre
o café na máquina. Se fizer menos
ou mais força, isto resulta num café super ou subextraído.
Folha - Como você avalia o café
brasileiro hoje?
Linhares - A qualidade melhorou nos últimos dez anos. A criação da Associação Brasileira de
Cafés Especiais [a BSCA, Brazil
Specialty Coffee Association] foi
muito importante [a associação
foi fundada em 1991 por um grupo de produtores de cafés especiais e tem como objetivo difundir
a produção e comercialização de
cafés especiais brasileiros]. O Brasil sempre teve café de qualidade,
mas acabava sendo exportado,
porque não conseguia alcançar
preços baixos para consumo interno. Nesses últimos tempos, o
café começou a cair no comércio
de varejo, com um preço mais
compatível com o consumo.
Folha - Uma recente pesquisa do
Ministério da Agricultura mostra
que o consumo de café aumentou
(em 2003, o consumo médio era de
1,3 xícara de café por dia, neste
ano, o volume subiu para 1,64) e
que o público tem levado em consideração fatores como pureza e sabor, além do preço, na hora da
compra. Você percebe uma exigência maior por parte do consumidor?
Linhares - Há sim uma preocupação com a qualidade do café e
um aumento dos consumidores.
Há alguns anos, ninguém tomava
café expresso puro por causa da
baixa qualidade. As pessoas sempre adicionavam muito leite e
açúcar na bebida.
Folha - Qual é o papel do barista
nesta difusão de um café brasileiro
de mais qualidade?
Linhares - É ele quem finaliza
um processo muito longo pelo
qual o café passa e é ele quem se
relaciona diretamente com o
cliente. E se essa relação for boa,
se torna a mais importante propaganda de um bom café.
Folha - Você já está se preparando para o Campeonato Mundial? É
muito diferente do Brasileiro?
Linhares - Minha preparação deve ser diária, porque quero ficar
pelo menos entre os finalistas, algo que nenhum brasileiro conseguiu até hoje. O único problema é
que a máquina do Mundial é diferente da usada no nacional [a máquina que será usada na Suíça é da
marca La Marzocco- há somente cinco estabelecimentos no Brasil que possuem tal máquina]. O
presidente da Associação Campeonato Brasileiro de Barista,
Marco Suplicy [proprietário da
Suplicy Cafés Especiais, em São
Paulo], já deixou à disposição as
máquinas dele, que são iguais às
do Mundial, para que eu treine.
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