São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2006

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Crítica/música/"Entre o Amor e o Mar"

Jussara fala de amor com olhos no mar

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A idéia surgiu no início de 2004, quando ela dividia com a cantora Ná Ozzetti os vocais de um show do compositor Zé Miguel Wisnik. Nos bastidores, ao ouvir uma canção inédita de Ná e Luiz Tatit, "Entre o Amor e o Mar", Jussara Silveira encontrou o mote e o título de seu novo álbum.
"Uma paulista me aproximou do mar, cantando para mim, num camarim", diverte-se a baiana virtual que cresceu em Salvador, mas nasceu em Manuque, no interior de Minas Gerais. "Essa canção abriu caminho para que eu criasse o projeto do disco e escolhesse o restante do repertório."
Lançado pelo selo Maianga, com patrocínio da Petrobras, o quarto álbum da intérprete destaca outras nove canções inéditas, de autores como Adriana Calcanhotto ("Meu Coração Só"), Péricles Cavalcanti ("O Nosso Amor É Maior"), Quito Ribeiro ("Braço de Mar"), Paulo Neves ("À Contraluz"), Paquito ("Sonhei que Eu Era Feliz"), Guilherme Wisnik e Vadim Nikitin ("Só").
O repertório inclui também releituras de "Oferenda" (Itamar Assumpção) e "Morena do Mar", de Dorival Caymmi, o mestre das canções praieiras que Jussara já havia homenageado em "Canções de Caymmi" (1998), seu segundo disco.
"O mar me interessa muito", afirma a cantora, não descartando a possibilidade de essa ligação ter a ver com o fato de seus familiares serem originários do sertão da Bahia. "Levei isso comigo a vida inteira. Na árvore genealógica de minha família quase todo mundo está longe do mar."

Coincidência
Quando inscreveu o projeto na seleção da Petrobras, há dois anos, Jussara não sabia que Maria Bethânia também estava interessada nesse tema. Muito menos que ela gravaria os dois álbuns inspirados nos rios e mares, lançados há um mês.
"Foi uma feliz coincidência. Isso dá um friozinho na barriga e ao mesmo tempo provoca emoção", comenta. "A força que Bethânia tem no canto já me comovia antes mesmo que eu soubesse que ia ser cantora.
Ela é mestra, mas tenho segurança no que eu faço e penso." Jussara conta que encarou de outra forma seu projeto ao ver o recente show da colega. "Quando escolhi o tema "entre o amor e o mar", pensei que era algo vasto, imenso. Agora, depois de ouvir Bethânia, acho um tema inesgotável.
Dá para ela fazer dois CDs, eu fazer o meu e mais quem quiser também." No novo álbum, Jussara tem mais uma vez a companhia do violonista e produtor Luiz Brasil, com o qual dividiu o álbum "Nobreza" (2005).
"Confio muito no trabalho dele. Luiz sabe escutar", diz, lembrando que começaram a trabalhar juntos, no início dos anos 90.
Quando apresentou o repertório do álbum ao parceiro, Jussara já tinha idéias para os arranjos, que primam pelo despojamento. Há alguns duos de voz com piano ou violão, mas também formações maiores. "Talvez essa seja uma característica minha. O disco tem uma certa sofisticação, mas é simples ao mesmo tempo", conta ela.
"Eu não tinha um orçamento para gravar com uma orquestra, mas conseguimos aproveitar muito bem o que tínhamos na mão", diz ela, contando que passou a cogitar um disco com arranjos da regente norte-americana Maria Schneider, depois de ouvir sua orquestra, no último Tim Festival. "O tipo de música que ela faz me interessa, é bacana."
Ainda em fase de planejamento, a turnê de lançamento de "Entre o Amor e o Mar" deve começar em março, provavelmente em São Paulo. Para a direção musical, Jussara já convidou Zé Miguel Wisnik, outro de seus parceiros mais constantes. No repertório, devem entrar canções que ficaram fora do disco, como o fado "Barco Negro", clássico do repertório da cantora portuguesa Amália Rodrigues, ou "Pedras que Cantam" (de Dominguinhos e Fausto Nilo), que foi gravada antes por Fagner.
Segundo a cantora, a decisão de não incluir fotos suas na capa, nem no encarte gerou reclamações de amigos e fãs. "Quase me mataram por isso, mas sou eu que mando."


ENTRE O AMOR E O MAR
   
Intérprete: Jussara Silveira
Lançamento: Maianga
Quanto: R$ 22, em média


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