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Crítica/música/"Entre o Amor e o Mar"
Jussara fala de amor com olhos no mar
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A idéia surgiu no início de
2004, quando ela dividia com a
cantora Ná Ozzetti os vocais de
um show do compositor Zé Miguel Wisnik. Nos bastidores, ao
ouvir uma canção inédita de Ná
e Luiz Tatit, "Entre o Amor e o
Mar", Jussara Silveira encontrou o mote e o título de seu novo álbum.
"Uma paulista me aproximou do mar, cantando para
mim, num camarim", diverte-se a baiana virtual que cresceu
em Salvador, mas nasceu em
Manuque, no interior de Minas
Gerais. "Essa canção abriu caminho para que eu criasse o
projeto do disco e escolhesse o
restante do repertório."
Lançado pelo selo Maianga,
com patrocínio da Petrobras, o
quarto álbum da intérprete
destaca outras nove canções
inéditas, de autores como
Adriana Calcanhotto ("Meu
Coração Só"), Péricles Cavalcanti ("O Nosso Amor É
Maior"), Quito Ribeiro ("Braço
de Mar"), Paulo Neves ("À Contraluz"), Paquito ("Sonhei que
Eu Era Feliz"), Guilherme Wisnik e Vadim Nikitin ("Só").
O repertório inclui também
releituras de "Oferenda" (Itamar Assumpção) e "Morena do
Mar", de Dorival Caymmi, o
mestre das canções praieiras
que Jussara já havia homenageado em "Canções de Caymmi" (1998), seu segundo disco.
"O mar me interessa muito",
afirma a cantora, não descartando a possibilidade de essa ligação ter a ver com o fato de
seus familiares serem originários do sertão da Bahia. "Levei
isso comigo a vida inteira. Na
árvore genealógica de minha
família quase todo mundo está
longe do mar."
Coincidência
Quando inscreveu o projeto
na seleção da Petrobras, há dois
anos, Jussara não sabia que
Maria Bethânia também estava
interessada nesse tema. Muito
menos que ela gravaria os dois
álbuns inspirados nos rios e
mares, lançados há um mês.
"Foi uma feliz coincidência.
Isso dá um friozinho na barriga
e ao mesmo tempo provoca
emoção", comenta. "A força
que Bethânia tem no canto já
me comovia antes mesmo que
eu soubesse que ia ser cantora.
Ela é mestra, mas tenho segurança no que eu faço e penso."
Jussara conta que encarou de
outra forma seu projeto ao ver
o recente show da colega.
"Quando escolhi o tema "entre
o amor e o mar",
pensei que era algo
vasto, imenso. Agora, depois de ouvir
Bethânia, acho um
tema inesgotável.
Dá para ela fazer
dois CDs, eu fazer o
meu e mais quem
quiser também."
No novo álbum,
Jussara tem mais
uma vez a companhia do violonista e
produtor Luiz Brasil, com o qual dividiu o álbum "Nobreza" (2005).
"Confio muito no
trabalho dele. Luiz
sabe escutar", diz,
lembrando que começaram a trabalhar juntos, no início dos anos 90.
Quando apresentou o repertório do álbum ao
parceiro, Jussara já tinha idéias
para os arranjos, que primam
pelo despojamento. Há alguns
duos de voz com piano ou violão, mas também formações
maiores. "Talvez essa seja uma
característica minha. O disco
tem uma certa sofisticação,
mas é simples ao mesmo tempo", conta ela.
"Eu não tinha um orçamento
para gravar com uma orquestra, mas conseguimos aproveitar muito bem o que tínhamos
na mão", diz ela, contando que
passou a cogitar um disco com
arranjos da regente norte-americana Maria Schneider, depois
de ouvir sua orquestra, no último Tim Festival. "O tipo de
música que ela faz me interessa, é bacana."
Ainda em fase de planejamento, a turnê de lançamento
de "Entre o Amor e o Mar" deve
começar em março, provavelmente em São Paulo. Para a direção musical, Jussara já convidou Zé Miguel Wisnik, outro de
seus parceiros mais constantes.
No repertório, devem entrar
canções que ficaram fora do
disco, como o fado "Barco Negro", clássico do repertório da
cantora portuguesa
Amália Rodrigues,
ou "Pedras que Cantam" (de Dominguinhos e Fausto Nilo),
que foi gravada antes
por Fagner.
Segundo a cantora, a decisão de não
incluir fotos suas na
capa, nem no encarte gerou reclamações de amigos e fãs.
"Quase me mataram
por isso, mas sou eu
que mando."
ENTRE O AMOR E O MAR
Intérprete: Jussara Silveira
Lançamento: Maianga
Quanto: R$ 22, em média
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