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Sarau para Radamés
Concertos e filme saúdam centenário do compositor gaúcho
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
2006 é rico em efemérides musicais. Além do centenário de nascimento do compositor russo Dmitri Chostakovitch, há os 150 anos
de morte do alemão Robert Schumann e o 250º aniversário de
Wolfgang Amadeus Mozart.
Mozart nasceu em 1756, no dia
27 de janeiro, mesma data em
que, 150 anos mais tarde, viria ao
mundo um dos principais nomes
da música no Brasil: o gaúcho Radamés Gnattali (1906-1988), cujo
centenário de nascimento será
lembrado com concertos em São
Paulo, Manaus e Rio de Janeiro.
No próximo dia 15, no Sesc Belenzinho, a pianista Rosária Gatti
faz um recital compartilhado com
sua colega russa Olga Kopylova,
que toca piano na Osesp. Enquanto Gatti executa peças de Radamés, Kopylova interpreta criações
de Chostakovitch, celebrando os
dois centenários em um só dia.
Uma semana depois (dia 22),
em Manaus, a Amazonas Filarmônica, sob a batuta de Marcelo
de Jesus, recebe o violonista Fabio
Zanon, que sola no "Concerto nº
1" do compositor gaúcho.
Depois da apresentação no teatro Amazonas, Zanon pretende
interpretar mais obras de Gnattali
ao longo do ano: dia 24 de março,
na Fundação Maria Luisa e Oscar
Americano, em São Paulo, e dia 7
de maio, no Centro Cultural Banco do Brasil.
"Tecnicamente falando, o Radamés é um compositor neoclássico", avalia. "Todas as obras dele
são escritas de uma maneira bastante convencional. Acho que o
maior mérito dele é ser um criador eqüidistante entre o nacionalismo da música de concerto e a
evolução técnica da música popular que era tocada no rádio."
"Pouca gente se dá conta de que
Radamés é responsável pela criação de todo um conceito sinfonizado de arranjo na música popular brasileira", diz Zanon. "Até
mesmo a emblemática introdução de "Aquarela do Brasil", de Ary
Barroso, era composição do Radamés, não do Ary."
Nascido em Porto Alegre, Gnattali começou a estudar piano aos
seis anos. A parte mais expressiva
de sua carreira de pianista, compositor e arranjador desenvolveu-se no Rio de Janeiro, para onde ele
se mudou definitivamente em
1931. Nada mais natural, assim,
que ocorram no Rio as homenagens mais significativas ao compositor. Diretor da sala Baden Powell, o compositor Tim Rescala
programou para este mês uma semana de apresentações comemorativas do centenário de Gnattali.
Além disso, ao longo do ano,
sempre que possível, todas as
atrações musicais que tocarem na
sala vão incluir obras do autor em
seus programas.
"Radamés era um músico completo, que transitava com enorme
desenvoltura entre o popular e o
erudito", conta Rescala. "Convivi
com ele quando fazíamos arranjo
para a TV Globo e fiquei impressionado com a facilidade do Radamés para fazer arranjos", diz.
Gnatalli trabalhou na trilha sonora de novelas, como "Roque Santeiro" (1986), e filmes, caso de
"Bonitinha, mas Ordinária"
(1980) e "Eles Não Usam Black-Tie" (1981).
As comemorações no Rio de Janeiro começam no dia 26, quando
a pianista Fernanda Chaves Canaud, tocando com convidados
como Noel Devos (fagote) e Harold Emert (oboé), lança um CD
em homenagem ao compositor
gaúcho.
No dia seguinte, o violonista
Paulo Porto Alegre é o destaque
de uma apresentação que traz várias peças "eruditas" de Gnattali,
incluindo uma versão com acompanhamento de piano do concerto que o compositor escreveu para gaita de boca e orquestra.
A apresentação do dia 28 privilegia a música de câmera, ficando
para a data seguinte uma das peças mais conhecidas de Radamés:
a suíte "Retratos", que ele dedicou
a Jacob do Bandolim.
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