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ARTES PLÁSTICAS
Exposição em Paris reúne mais de mil obras de expoentes do movimento vanguardista, como Duchamp
Pompidou apresenta a maior retrospectiva dadaísta
SILVIA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
O Centro Georges Pompidou,
um dos grandes museus de Paris,
apresenta a maior retrospectiva já
feita do dadaísmo (ou "dadá"),
movimento vanguardista europeu do início do século passado
que influenciou de forma marcante as gerações artísticas e literárias seguintes, até hoje.
Feita em colaboração com a Galeria Nacional de Arte de Wa-
shington e o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), a
retrospectiva "Dadá" ficará em
Paris até 9 de janeiro, quando o
movimento estará fazendo 90
anos. Depois, seguirá em uma nova versão para Washington (entre
19 de fevereiro e 14 de maio) e Nova York (de 18 de junho até 11 de
setembro).
São mais de mil obras de 50 artistas e escritores, vindas de coleções públicas e privadas de várias
partes do mundo e, agora, distribuídas num espaço com mais de
2.000 m2. Ali estão pinturas, esculturas, colagens, filmes, poemas
sonoros, cartas e manifestos que
mostram a diversidade estética do
movimento.
O dadaísmo foi lançado na cidade de Zurique (Suíça), em 1916,
quando a Europa se encontrava
em plena guerra. Neutra no conflito, a Suíça acolhia imigrantes de
várias partes do continente, entre
eles jovens artistas, pacifistas e revolucionários.
Foi no Cabaret Voltaire -uma
taberna onde se realizavam sessões literárias e teatrais- que o
escritor francês Tristan Tzara
(1896-1963), entre outros, lançou
o dadaísmo, com sua crítica feroz
a uma sociedade estática, aos valores burgueses e às convenções
artísticas.
Segundo uma das versões sobre
a origem do movimento, os jovens reunidos no Voltaire procuravam um nome para o grupo e,
por acaso, encontraram a palavra
"dadá" num dicionário alemão-francês. Em francês, "dada" significa "cavalo de pau"; em alemão,
quer dizer "aqui, aqui"; em algumas línguas eslavas, "sim, sim".
Tzara concluiu, então: "Dadá não
significa nada".
Os dadaístas se interessavam,
entre outras coisas, pelo objeto industrializado e pela prática de novos meios artísticos como a performance, a poesia sonora, a colagem e o cinema. A explicação de
Tzara, em 1916, sobre como criar
um poema dadaísta mostra bem o
espírito do movimento:
"Pegue um jornal e uma tesoura. Escolha um artigo do tamanho
que deve ter o seu poema. Corte
com cuidado cada palavra e coloque-a dentro de um saco. Agite-o
suavemente. Tire cada palavra do
saco, uma a uma, e a copie conscientemente na ordem de retirada. O poema está feito".
O dadaísmo espalhou-se pelo
mundo, encontrando adeptos em
Berlim, Barcelona, Paris, Tóquio e
Nova York. Repercutiu também
na América Latina: a retrospectiva apresenta, por exemplo, uma
carta enviada a Tzara pelo escritor
argentino Jorge Luis Borges
(1899-1986).
O movimento dadá não chegou
a durar dez anos. Já em 1924 seus
grupos mostravam-se dispersos.
"Não existe uma estética dadaísta
fácil de reconhecer, como no cubismo e no surrealismo. O que
existe são tantas obras e pontos de
interrogação que toda obra dadaísta cai como uma bomba", diz
o curador Laurent Le Bon.
O efeito "bomba" do dadaísmo
fica claro já na entrada da exposição, onde o visitante é confrontado com dezenas de textos, manifestos e cartazes do movimento.
Dali, ele pode se deslocar para as
diversas salas de forma aleatória,
de acordo com o espírito dadá.
Como num tabuleiro de xadrez,
o público passeia por mais de 40
pequenas salas quadradas, que
não seguem nenhuma ordem cronológica ou estética. Cada sala leva um título: o nome de uma cidade, de um expoente do movimento ou de um gênero artístico.
Uma das salas da exposição, por
exemplo, reproduz parte da primeira Feira Internacional Dadá,
realizada em Berlim, em 1920.
Outra mostra os chamados
"ready-mades" do artista francês
Marcel Duchamp (1887-1968):
objetos do cotidiano, que, tirados
de seu lugar habitual para serem
expostos, adquirem nova percepção. É o caso de "Fontaine", um
vaso sanitário de porcelana, que
Duchamp simplesmente assinou,
datou e enviou para uma exposição em Nova York, em 1917.
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