São Paulo, segunda-feira, 02 de janeiro de 2006

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição em Paris reúne mais de mil obras de expoentes do movimento vanguardista, como Duchamp

Pompidou apresenta a maior retrospectiva dadaísta

SILVIA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

O Centro Georges Pompidou, um dos grandes museus de Paris, apresenta a maior retrospectiva já feita do dadaísmo (ou "dadá"), movimento vanguardista europeu do início do século passado que influenciou de forma marcante as gerações artísticas e literárias seguintes, até hoje.
Feita em colaboração com a Galeria Nacional de Arte de Wa- shington e o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), a retrospectiva "Dadá" ficará em Paris até 9 de janeiro, quando o movimento estará fazendo 90 anos. Depois, seguirá em uma nova versão para Washington (entre 19 de fevereiro e 14 de maio) e Nova York (de 18 de junho até 11 de setembro).
São mais de mil obras de 50 artistas e escritores, vindas de coleções públicas e privadas de várias partes do mundo e, agora, distribuídas num espaço com mais de 2.000 m2. Ali estão pinturas, esculturas, colagens, filmes, poemas sonoros, cartas e manifestos que mostram a diversidade estética do movimento.
O dadaísmo foi lançado na cidade de Zurique (Suíça), em 1916, quando a Europa se encontrava em plena guerra. Neutra no conflito, a Suíça acolhia imigrantes de várias partes do continente, entre eles jovens artistas, pacifistas e revolucionários.
Foi no Cabaret Voltaire -uma taberna onde se realizavam sessões literárias e teatrais- que o escritor francês Tristan Tzara (1896-1963), entre outros, lançou o dadaísmo, com sua crítica feroz a uma sociedade estática, aos valores burgueses e às convenções artísticas.
Segundo uma das versões sobre a origem do movimento, os jovens reunidos no Voltaire procuravam um nome para o grupo e, por acaso, encontraram a palavra "dadá" num dicionário alemão-francês. Em francês, "dada" significa "cavalo de pau"; em alemão, quer dizer "aqui, aqui"; em algumas línguas eslavas, "sim, sim". Tzara concluiu, então: "Dadá não significa nada".
Os dadaístas se interessavam, entre outras coisas, pelo objeto industrializado e pela prática de novos meios artísticos como a performance, a poesia sonora, a colagem e o cinema. A explicação de Tzara, em 1916, sobre como criar um poema dadaísta mostra bem o espírito do movimento:
"Pegue um jornal e uma tesoura. Escolha um artigo do tamanho que deve ter o seu poema. Corte com cuidado cada palavra e coloque-a dentro de um saco. Agite-o suavemente. Tire cada palavra do saco, uma a uma, e a copie conscientemente na ordem de retirada. O poema está feito".
O dadaísmo espalhou-se pelo mundo, encontrando adeptos em Berlim, Barcelona, Paris, Tóquio e Nova York. Repercutiu também na América Latina: a retrospectiva apresenta, por exemplo, uma carta enviada a Tzara pelo escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986).
O movimento dadá não chegou a durar dez anos. Já em 1924 seus grupos mostravam-se dispersos. "Não existe uma estética dadaísta fácil de reconhecer, como no cubismo e no surrealismo. O que existe são tantas obras e pontos de interrogação que toda obra dadaísta cai como uma bomba", diz o curador Laurent Le Bon.
O efeito "bomba" do dadaísmo fica claro já na entrada da exposição, onde o visitante é confrontado com dezenas de textos, manifestos e cartazes do movimento. Dali, ele pode se deslocar para as diversas salas de forma aleatória, de acordo com o espírito dadá.
Como num tabuleiro de xadrez, o público passeia por mais de 40 pequenas salas quadradas, que não seguem nenhuma ordem cronológica ou estética. Cada sala leva um título: o nome de uma cidade, de um expoente do movimento ou de um gênero artístico.
Uma das salas da exposição, por exemplo, reproduz parte da primeira Feira Internacional Dadá, realizada em Berlim, em 1920.
Outra mostra os chamados "ready-mades" do artista francês Marcel Duchamp (1887-1968): objetos do cotidiano, que, tirados de seu lugar habitual para serem expostos, adquirem nova percepção. É o caso de "Fontaine", um vaso sanitário de porcelana, que Duchamp simplesmente assinou, datou e enviou para uma exposição em Nova York, em 1917.


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