São Paulo, quarta-feira, 02 de janeiro de 2008

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Casa das artes

Com projeto de Paulo Mendes da Rocha, Casa Daros-Latinoamericana será uma referência de arte contemporânea no país

Divulgação
Prédio do antigo Educandário Santa Tereza, no Rio, que está em reformas para abrigar a Casa Daros, com inauguração parcial prevista para o segundo semestre

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Desde os anos 40, com a criação de instituições como o Museu de Arte de São Paulo, em 1945, por Assis Chateaubriand, e o Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 49, por Ciccillo Matarazzo, o Brasil não via uma ação nessa área do porte da que vai acontecer em 2008, quando for inaugurada a Casa Daros-Latinamerica, no Rio.
Com 10,8 mil m2, esse novo espaço irá ocupar o antigo Educandário Santa Tereza, um edifício do século 19, construído para acolher os filhos bastardos da corte, em Botafogo. Adquirido por R$ 16 milhões, com 200 janelas, dois andares -o pé direito de um deles mede sete metros-, o prédio passa reforma a cargo do arquiteto paulista Paulo Mendes da Rocha, que faz sua primeira obra na cidade. A previsão é que no segundo semestre seja aberto parcialmente, até que, em 2010, toda a área possa, enfim, ser ocupada.
A Daros é uma instituição de origem suíça, criada pelo casal Ruth e Stephan Schmidheiny. Nos anos 90, Stephan criou a Coleção Daros, constituída por obras do abstracionismo norte-americano, da arte pop e do minimalismo, além de pintura alemã dos anos 80, que tem em Zurique sua sede.
Em 2000, a Coleção Daros ganhou uma nova seção, dedicada à arte contemporânea latino-americana, criada pela mulher do empresário, Ruth, que tem como curador o alemão Hans Michael-Herzog. A nova casa no Rio irá expor obras das duas coleções, o que já ocorre na sede de Zurique.

Patrimônio
Aos 60 anos, Schmidheiny tem um patrimônio estimado em US$ 3,6 bilhões. Sua família era da área da construção civil, e ele foi membro da diretoria de empresas como ABB, Nestlé, Swatch e UBS. Com vários negócios na América Latina, é reconhecido também por ações de desenvolvimento sustentável, como as do grupo Avinas.
No Brasil, a Casa Daros é administrada pela jornalista brasileira Isabella Rosado Nunes e pelo curador cubano Eugenio Valdés Figueroa, que participa do projeto desde 2001. "Com essa coleção, queremos reposicionar a arte latino-americana no mundo, evitando o gueto", diz Figueroa, em um barracão improvisado, que serve como administração da Casa Daros.
Segundo ele, a proposta é ainda "acompanhar os processos de produção local", o que justifica a idéia de ter um espaço na América Latina. O Rio não foi o único local estudado para receber a instituição, e a cidade quase perdeu a chance para Cuba. "Já havíamos escolhido uma casa imensa em Havana, mas foi difícil negociar a compra com o governo e acabamos aqui, pois o Rio concentra artistas de todas as partes", diz.
Atualmente, a coleção conta com cerca de mil obras de cem artistas, entre eles 17 brasileiros (veja lista ao lado). "Nossa proposta é reunir a poética de um artista. Se com uma obra isso já é possível, tudo bem, senão compramos muitas obras do mesmo artista", afirma.
Um exemplo dessa política de aquisição é o argentino Guillermo Kuitca, que tem nada menos que cem obras na coleção, entre elas as apresentadas no Pavilhão da Argentina, na última Bienal de Veneza. "Esses trabalhos foram polêmicos, houve quem odiou e quem adorou, mas são significativos na carreira do Kuitca", avalia.
Além da área expositiva, a Casa Daros carioca terá uma biblioteca, uma residência para artistas e uma loja. "No Rio não há uma biblioteca de arte contemporânea acessível. Pretendemos fazer como em Zurique, onde a biblioteca de arte latino-americana é considerada a mais importante da Europa", conta Isabella Nunes.
Para ressaltar a importância de uma boa biblioteca, Nunes lembra que os curadores da prestigiosa Documenta de Kassel conheceram a obra da brasileira Iole de Freitas na biblioteca de Zurique -e a artista acabou indo realizar uma instalação na cidade alemã.


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