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Última Moda
Alcino Leite Neto - ultima.moda@grupofolha.com.br
O livro "Perfumes: The Guide", lançado nos Estados Unidos, reúne críticas de mais de 1.500 fragrâncias
Nas últimas décadas, a enologia e a apreciação crítica dos vinhos difundiu-se bastante fora
dos guetos de especialistas.
Além disso, apareceram publicações independentes, que ajudaram a estabelecer uma análise confiável e acessível dos vinhos, aproximando pensamento e paladar -este sentido sempre colocado em segundo plano
pela inteligência ocidental.
Mais desprezado ainda que o
paladar é o olfato -o que fez
com que a arte dos perfumes
raramente recebessem grande
consideração intelectual. Por
isso mesmo, a maioria das pessoas costuma escolher uma fragrância de maneira intuitiva ou
por impulso.
Pouca gente, na hora de adquirir um perfume, faz ou segue alguma avaliação crítica do
produto. São também raros os
críticos na imprensa, e com frequência o consumidor compra
gato por lebre, motivado pela
forte publicidade da indústria.
Algumas iniciativas demonstram que esta situação pode
mudar nos próximos anos. Importantes jornais, como "The
New York Times", passaram
nos últimos tempos a ter um
crítico de perfumes, como têm
de literatura ou de cinema.
Sites na internet, feitos por
especialistas e amadores do assunto, estão desenvolvendo
análises independentes dos
perfumes, sem medo de perderem anúncios das empresas. E
novos e bons livros começam a
surgir, com o objetivo de difundir a arte e a ciência da perfumaria e submeter as fragrâncias à avaliação -como faz
"Perfumes: The Guide" (Perfumes: O Guia), de Luca Turin e
Tania Sanchez, lançado neste
ano nos EUA pela editora Viking (US$ 27,95 -ou R$ 65).
O livro de Turin e Sanchez é
polêmico. Ele faz a análise breve, com cotações (de uma a cinco estrelas), de mais de 1.500
perfumes, demolindo vários
mitos sem piedade.
Para se ter uma ideia, desta
infinidade de fragrâncias, apenas 88 receberam a cotação
máxima dos autores. Entre os
perfumes com cotação mínima
(mais de 200), eles colocam os
famosos "Poème" (da Lancôme) e "Very Irrésistible" (da Givenchy). As fragrâncias "Prada"
e "Prada Tendre", fetiches de
fashionistas, recebem três e
duas estrelas, e os autores comentam: "Miuccia Prada é uma
genuína visionária da moda,
mas ela não mostrar similar talento para perfumes".
Turin e Sanchez buscam ser
imparciais e nunca privilegiam
uma marca. Dão cinco estrelas
e despejam elogios para "Diorella", da Dior, mas não perdoam "Dior Addict", sobre o
qual escrevem: "Uma combinação de chocolate barato com
floral pesado e dissonante, tem
aroma asqueroso por qualquer
ângulo que se analise".
Turin trabalha com ciência
olfativa, é biofísico, pesquisador do MIT (Massachussetts
Institute of Technology) e autor de "The Secret of Scent" (O
Segredo do Aroma), entre outros livros. Seu trabalho foi tema de um documentário da
BBC. Sanchez é escritora, jornalista e crítica de perfumes.
Os dois vivem em Londres.
Das 386 páginas do livro, 315
são dedicadas às minicríticas
de perfumes, com as cotações.
O restante das páginas traz
uma pequena história da perfumaria, ensaios sobre os produtos femininos e masculinos, dicas de uso das fragrâncias e um
glossário de termos científicos.
O mais importante do livro,
porém, é o modo como os autores buscam desenvolver um vocabulário crítico que seja capaz
de analisar algo tão volátil
quanto os perfumes, tentando
conciliar a linguagem científica
(sobre matérias-primas, composição das fragrâncias etc.)
com uma apreciação quase "artística" dos aromas.
Fazem isso sem perder o humor nem a irreverência, sobretudo quando tratam do comportamento da indústria, cujo
tamanho mundial hoje beira os
15 bilhões (R$ 49 bi) e que
eles frequentemente acusam
de baratear a criação dos perfumes. Mas avisam: "A era dos
perfumes trash, compostos em
poucos meses de maneira barata e vendidos com rostos de celebridades, está próxima do
fim. Apenas a qualidade pode
vencer".
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