São Paulo, domingo, 02 de janeiro de 2011

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Piratas do horário nobre

Com a internet, piratas reúnem gravações antigas e atuais e vendem cerca de 200 novelas

Matheus Bruxel/Folhapress
No centro de São Paulo, loja tem prateleiras com 180 novelas piratas

LAURA MATTOS
DE SÃO PAULO

É um "Vale a Pena Ver de Novo" pirata. Enquanto a Globo lançou em 2009 a primeira e até agora única novela em DVD -"Roque Santeiro"-, na internet há perto de 200 títulos à venda sem permissão das emissoras.
Tem história nova, como "A Favorita" (2008/09), ou antiga, tipo "Gabriela" (1975). Dá para gastar R$ 50 e levar "Força de Um Desejo" ou R$ 500 para ver "Dancin" Days" (1978/ 79).
O preço depende de vários fatores, segundo vendedores de pirataria entrevistados pela Folha. Obras raras são mais caras. "Dancin" Days" é um exemplo. Outro é "Estúpido Cupido" (1976/77), da qual piratas só dispõem de poucos capítulos. Se surgirem outros, o preço será alto.
Esse enorme acervo pirata surgiu graças à internet, especialmente às redes sociais.
Com elas, pessoas que haviam gravado novelas em DVD ou videocassete e estavam espalhadas pelo Brasil e até por outros países foram encontradas pelos piratas.
O que era artigo de fã colecionador virou comércio ilegal. Nem sempre as novelas estavam originalmente na íntegra, e a internet facilitou a reunião de capítulos gravados por diferentes pessoas.
A qualidade da gravação é variada e influi no preço. A imagem não é perfeita quando a matriz são fitas de videocassete -para gravar uma novela inteira, normalmente eram utilizadas de 30 a 50 fitas de vídeo, a depender da velocidade da gravação.
Mas mesmo novelas mais antigas, exibidas no Brasil quando ainda não havia gravação digital, podem ser encontradas com os originais gravados em DVD. Isso acontece quando a obra é veiculada pela Globo Internacional, e alguém que mora em outro país faz uma cópia digital.
"Começar de Novo", por exemplo, foi exibida no Brasil em 1988, época do videocassete. Mas há na internet uma cópia digital da veiculação posterior na Rússia.
L. (que pediu para não ter o nome divulgado), 29, tem um site e uma loja no centro de São Paulo, chamados de Clube do Colecionador.
No local há corredores de prateleiras, com capas de DVDs de 180 novelas. Dentro deles não há discos, feitos sob encomenda. A depender do tipo de arquivo, uma novela pode ser compilada em um jogo de 10 a 50 DVDs.
Ele diz já ter recebido encomendas até de atrizes e autores de novelas. "Eles querem guardar como lembrança ou usar para pesquisa."
Segundo L., muitas novelas estão disponíveis em formato "compacto", ou seja, alguns capítulos do início, meio e fim. É o caso de "Fera Radical" (1988). "Estamos garimpando mais capítulos."
L. conta que "o grande canal" para descobrir quem tem episódios é o Orkut.
Nega estar fazendo pirataria e diz que pretende "preservar a memória da telenovela brasileira". Seu site e sua loja vendem títulos por até R$ 500 e, sim, são ilegais.
Advogado especializado em comunicação, Marcos Bitelli afirma que a pena para esse tipo de crime varia de dois a quatro anos de detenção. A Globo disse à Folha já ter notificado o site.
Mas o Clube do Colecionador não está só. Um busca no site Mercado Livre com as palavras "DVD novela" mostrava há duas semanas 178 ofertas. Depois que a Folha contatou o Mercado Livre (leia texto nesta página), a quantidade caiu, mas na semana passada ainda eram 111.
Estão à venda produtos de piratas "profissionais", como o carioca M., que tem 170 títulos de novelas e minisséries, entrega por correio, motoboy ou recebe o comprador em sua casa. "Há umas 20 pessoas com um bom acervo", acredita M., que vende novelas há seis meses. O negócio, diz ele, "dá lucro e não tem fiscalização". "No mês passado, vendi 40 novelas. Ganhei R$ 2.400", conta.
Dinheiro completamente livre, lembra Bitelli, já que ele não pagou a produção da obra e nem direitos autorais para autor, diretor, elenco.
Há também piratas eventuais, como o estudante T., 18, de Fortaleza, que oferece no Mercado Livre "Xica da Silva" por R$ 115. "Só tenho essa novela. Depositei R$ 105 para um vendedor que não me entregou. Aí comprei de outro e resolvi fazer umas cópias para vender e livrar meu prejuízo."


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