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OSCAR
Carlos Saldanha, diretor de "Gone Nutty", diz que dedicará o prêmio, caso vença, ao Brasil e explica como "chegou lá"
"Em curta, qualquer um pode ganhar"
Divulgação
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O esquilo Scrat, em cena de "Gone Nutty"; personagem, que era coadjuvante em "A Era do Gelo", virou herói em curta do Oscar |
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Dia 27 de janeiro de 2004. Como
quem espera o jogo decisivo de
uma eliminatória de Copa do
Mundo, o Brasil torcia por seus
três grandes concorrentes a uma
vaga na disputa do Oscar: "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, "Carandiru", de Hector Babenco, e "Ônibus 174", de José Padilha. Mas o que poucos sabiam é
que também estávamos no páreo
entre os curtas de animação.
E foi por pouco que a goleada de
"Cidade de Deus" não ofuscou o
suado 1 x 0 do animador brasileiro Carlos Saldanha, 35, diretor do
curta "Gone Nutty". "Sei que animação não está entre os mais-mais do Oscar, mas é uma categoria em que qualquer um pode ganhar", disse o carioca radicado há
13 anos em Nova York.
Contratado da Blue Sky Studios
e co-diretor do sucesso "A Era do
Gelo", indicado ao Oscar da categoria longa animado de 2003, Saldanha falou à Folha sobre a sua
primeira indicação propriamente
dita ao prêmio. Estava atrasado
para o trabalho por causa de
uma... nevasca.
Folha - Como você recebeu a notícia da indicação?
Carlos Saldanha - Foi bem divertido, a gente fez a maior farra. À
tarde, abrimos uma champanhe
para fazer um tintim. O pessoal
[da Blue Sky] está bem animado.
Folha - Trabalhando para uma
empresa americana, dá para contar esta indicação ao Oscar como
uma vitória brasileira?
Saldanha - Por mim dá. Eu sou
100% brasileiro, apesar de morar
aqui. Vou ao Brasil duas, três vezes ao ano. Às vezes faço loucura,
faço as malas, pego as crianças e
vou em um fim de semana. Este é
um projeto "binacional", mas, se
eu ganhar, meu Oscar será dedicado à equipe que fez o projeto e
ao Brasil, onde pego parte da minha inspiração artística.
Folha - Seu curta está concorrendo, entre outros, com um projeto
da Pixar e outro da Disney. Acha
que tem chance?
Saldanha - O legal da categoria
do curta é que, diferentemente
das outras, mais mainstream, a do
curta é uma em que qualquer um
pode ganhar. Não é por ser da
Disney, da Pixar... Muitos independentes se submetem. É uma
coisa de certa forma democrática.
Quem vota é pessoal de animação
também, e a escolha é mais do
momento, da inovação, vale tudo.
Folha - Em 2003, "A Era do Gelo",
que você co-dirigiu com Chris Wedge, recebeu uma indicação ao Oscar, mas o seu nome não foi citado.
A indicação de "Gone Nutty", agora sem Chris Wedge, tem gosto de
vingança?
Saldanha - Não foi isso. A Academia tem umas regras para cada
categoria e, no ano passado, para
direção de animação, eles só aceitavam um nome. Como eu era co-diretor, foi só o do Chris. No "Gone Nutty", como é curta, você pode botar mais de um. Quando me
falaram isso, eu falei: "Bota o nome de todo mundo, quem puder
bota". Porque acho legal você receber um prêmio, e ninguém faz
um projeto sozinho. Faço questão
de dividir o prêmio com quem
quer que esteja do meu lado.
Folha - A animação vem ganhando força no Brasil nos últimos anos.
Como você tem acompanhado essa
evolução?
Saldanha - Todo ano eu vou para o Anima Mundi. Fico em contato semanal ou mensalmente
com os organizadores. Estou me
envolvendo com os cursos de animação que estão abrindo na
PUC-RJ e tenho ajudado, do jeito
que posso, dando palestras, conversando com as pessoas, dando
conselhos. Acho que o meu sucesso dentro da animação, no Brasil e
no mundo, ajuda as pessoas. Elas
pensam: "Se o Carlos Saldanha
conseguiu chegar lá, acho que eu
também consigo".
Folha - E o que conta mais nesse
"chegar lá"? É garra, é sorte?
Saldanha -É momento, é garra, é
sorte, é tudo junto, mas 90% disso
é correr atrás. Tive de pedir dinheiro emprestado para pagar a
faculdade. A Blue Sky nos sete primeiros anos praticamente não
dava lucro. Não foi fácil. Foram 13
anos de luta para chegar aqui. Pode não parecer muito tempo, mas
é toda a minha carreira. É um
mercado competitivo e eu não estou sozinho. Hoje, nos EUA, milhões de pessoas estão querendo
fazer a mesma coisa que eu faço.
E, sendo estrangeiro, tenho mais
um motivo para correr atrás.
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