São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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OSCAR

Carlos Saldanha, diretor de "Gone Nutty", diz que dedicará o prêmio, caso vença, ao Brasil e explica como "chegou lá"

"Em curta, qualquer um pode ganhar"

Divulgação
O esquilo Scrat, em cena de "Gone Nutty"; personagem, que era coadjuvante em "A Era do Gelo", virou herói em curta do Oscar


DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dia 27 de janeiro de 2004. Como quem espera o jogo decisivo de uma eliminatória de Copa do Mundo, o Brasil torcia por seus três grandes concorrentes a uma vaga na disputa do Oscar: "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, "Carandiru", de Hector Babenco, e "Ônibus 174", de José Padilha. Mas o que poucos sabiam é que também estávamos no páreo entre os curtas de animação.
E foi por pouco que a goleada de "Cidade de Deus" não ofuscou o suado 1 x 0 do animador brasileiro Carlos Saldanha, 35, diretor do curta "Gone Nutty". "Sei que animação não está entre os mais-mais do Oscar, mas é uma categoria em que qualquer um pode ganhar", disse o carioca radicado há 13 anos em Nova York.
Contratado da Blue Sky Studios e co-diretor do sucesso "A Era do Gelo", indicado ao Oscar da categoria longa animado de 2003, Saldanha falou à Folha sobre a sua primeira indicação propriamente dita ao prêmio. Estava atrasado para o trabalho por causa de uma... nevasca.
 

Folha - Como você recebeu a notícia da indicação?
Carlos Saldanha -
Foi bem divertido, a gente fez a maior farra. À tarde, abrimos uma champanhe para fazer um tintim. O pessoal [da Blue Sky] está bem animado.

Folha - Trabalhando para uma empresa americana, dá para contar esta indicação ao Oscar como uma vitória brasileira?
Saldanha -
Por mim dá. Eu sou 100% brasileiro, apesar de morar aqui. Vou ao Brasil duas, três vezes ao ano. Às vezes faço loucura, faço as malas, pego as crianças e vou em um fim de semana. Este é um projeto "binacional", mas, se eu ganhar, meu Oscar será dedicado à equipe que fez o projeto e ao Brasil, onde pego parte da minha inspiração artística.

Folha - Seu curta está concorrendo, entre outros, com um projeto da Pixar e outro da Disney. Acha que tem chance?
Saldanha -
O legal da categoria do curta é que, diferentemente das outras, mais mainstream, a do curta é uma em que qualquer um pode ganhar. Não é por ser da Disney, da Pixar... Muitos independentes se submetem. É uma coisa de certa forma democrática. Quem vota é pessoal de animação também, e a escolha é mais do momento, da inovação, vale tudo.

Folha - Em 2003, "A Era do Gelo", que você co-dirigiu com Chris Wedge, recebeu uma indicação ao Oscar, mas o seu nome não foi citado. A indicação de "Gone Nutty", agora sem Chris Wedge, tem gosto de vingança?
Saldanha -
Não foi isso. A Academia tem umas regras para cada categoria e, no ano passado, para direção de animação, eles só aceitavam um nome. Como eu era co-diretor, foi só o do Chris. No "Gone Nutty", como é curta, você pode botar mais de um. Quando me falaram isso, eu falei: "Bota o nome de todo mundo, quem puder bota". Porque acho legal você receber um prêmio, e ninguém faz um projeto sozinho. Faço questão de dividir o prêmio com quem quer que esteja do meu lado.

Folha - A animação vem ganhando força no Brasil nos últimos anos. Como você tem acompanhado essa evolução?
Saldanha -
Todo ano eu vou para o Anima Mundi. Fico em contato semanal ou mensalmente com os organizadores. Estou me envolvendo com os cursos de animação que estão abrindo na PUC-RJ e tenho ajudado, do jeito que posso, dando palestras, conversando com as pessoas, dando conselhos. Acho que o meu sucesso dentro da animação, no Brasil e no mundo, ajuda as pessoas. Elas pensam: "Se o Carlos Saldanha conseguiu chegar lá, acho que eu também consigo".

Folha - E o que conta mais nesse "chegar lá"? É garra, é sorte?
Saldanha -
É momento, é garra, é sorte, é tudo junto, mas 90% disso é correr atrás. Tive de pedir dinheiro emprestado para pagar a faculdade. A Blue Sky nos sete primeiros anos praticamente não dava lucro. Não foi fácil. Foram 13 anos de luta para chegar aqui. Pode não parecer muito tempo, mas é toda a minha carreira. É um mercado competitivo e eu não estou sozinho. Hoje, nos EUA, milhões de pessoas estão querendo fazer a mesma coisa que eu faço. E, sendo estrangeiro, tenho mais um motivo para correr atrás.



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