São Paulo, quarta-feira, 02 de fevereiro de 2011

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Tinta complica restauro de painéis de Portinari

Pigmentação feita pelo próprio artista acelerou surgimento de imperfeições

Embora a obra esteja em bom estado, existem áreas empoeiradas que não podem ser limpas pelos métodos usuais

MARCELO BORTOLOTI
DO RIO

Após uma análise mais atenta sobre o estado dos painéis "Guerra e Paz", de Cândido Portinari (1903-1962), que estão sendo restaurados no Brasil, os técnicos do projeto identificaram que o trabalho será mais complexo do que se previa inicialmente.
Embora a obra esteja em bom estado de conservação, existem áreas esbranquiçadas e acúmulo de poeira que não pode ser removida pelos métodos tradicionais, porque a tinta utilizada na década de 1950 até hoje não secou totalmente.
Os painéis, que pertencem à ONU, foram trazidos ao Brasil no final de 2010.
As áreas esbranquiçadas atingem 5% da superfície. Isto aconteceu pelo tipo de tinta branca que Portinari usou na época. Em vez de comprar a tinta a óleo industrializada, ele optou por comprar apenas o pigmento de titânio e produzi-la em seu ateliê. Fez isto por razões econômicas, já que usaria o branco em maior quantidade que qualquer outra tinta.
Mas comprou um pigmento que atraía raios ultravioleta em excesso. Na época, este problema era desconhecido. Com a incidência de luz na obra ao longo dos anos, o pigmento fez com que determinados trechos da tinta se deteriorassem.
"Surgiram fissuras microscópicas na camada de óleo. Agora temos que preenchê-las com resina", diz o restaurador Cláudio Valério.
Para evitar o avanço do problema no futuro, a equipe pretende cobrir os dois painéis com uma camada de verniz para protegê-los dos raios ultravioleta. A ONU já se comprometeu a colocar proteção nos vidros do saguão onde eles ficarão.
"Se removêssemos a poeira com os métodos tradicionais, a obra não resistiria. Fomos obrigados a procurar uma limpeza alternativa, a seco", diz o restaurador Edson Motta Júnior.
A equipe encomendou dos EUA uma série de esponjas especiais, que absorvem as partículas de sujeira sem precisar usar solventes.
Os técnicos ainda não conseguiram esclarecer a origem do problema. Eles suspeitam que Portinari tenha usado em excesso um tipo de resina para diluir a tinta.
Existe também a possibilidade de as tintas, vindas a granel da Inglaterra, terem sido misturadas a uma quantidade maior de óleo pelo revendedor em São Paulo, para aumentar o volume.
O trabalho de restauro conta com uma equipe de 16 técnicos e está aberto ao público no Palácio Gustavo Capanema, no Rio.


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