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Irlandeses do U2 descobrem o Sul da América
SÉRGIO MALBERGIER
da Redação
Bono Vox, como bom irlandês,
sempre sonhou com os EUA. Os
ingleses, senhores do pedaço, não
gostam dos vizinhos pobres da
ilha ao lado, para dizer o mínimo.
O conterrâneo John Lydon, ex-Sex
Pistols, chamou sua autobiografia
de "No Irish, No Blacks, No
Dogs" (irlandês, preto e cachorro
não entram), placa comum em estabelecimentos respeitáveis na Inglaterra pré-direitos humanos.
Bono agarrou a América. Claro,
é disparada o maior mercado fonográfico do mundo. Mas o apreço parece ser mais genuíno. Bono
Vox, como bom irlandês, para desespero dos ingleses, é pretensioso. Quer cantar para o mundo. O
idioma do mundo é o americano.
Na turnê "PopMart", tudo é
americano. Bono dança empunhando guarda-chuva com a bandeira dos EUA, o palco tem, no
centro, uma perna do M de McDonalds e, no fundo, caras de Marilyn Monroe por Andy Warhol.
O casamento U2-EUA é antigo.
A banda já fez música para Bilie
Hollyday, já tocou com B.B. King,
o guitarrista The Edge adotou o
modelo cowboy, Bono já cantou
em dueto com Frank Sinatra (a
quem adoraria substituir no posto
de "a voz"), o baixista Adam
Clayton refez a trilha da série de
TV transformada em filme "Missão Impossível".
Mas, virtude, o U2 não é unifacetado, o que aumenta a penetração em diferentes mercados. É
também muito europeu. Num
dueto melhor, Bono lamentou a
tragédia da guerra da Bósnia com
o italiano Luciano Pavaroti, em
"Miss Sarajevo". A turnê anterior
era europacentrista (Zooropa).
Bono não perde oportunidade
para comentar outra terra devastada européia, como Sarajevo
(mas com menos mortos): a Irlanda do Norte (sob domínio britânico, isto é, inglês).
E, bem quando estava no Brasil,
um fato fundamental daquelas
tristes paradas temperadas aconteceu. O primeiro-ministro (inglês) do Reino Unido, Tonny
Blair, anunciou na quinta-feira
que o Domingo Sangrento
("Bloody Sunday"), o massacre
de 14 católicos desarmados por
soldados ingleses em Londonderry, será reinvestigado. Na época, os soldados saíram livres. No
dia seguinte, sexta-feira, primeiro
show em São Paulo, era o 26º aniversário do massacre.
Bono mandou no Morumbi o
megasucesso "Sunday, Bloody
Sunday" acústico e agradeceu a
Blair. Se algum inglês algum dia fizer aquela biografia de Bono (ou
do U2) ultradetalhada, São Paulo
já pode ter seus dois parágrafos de
fama. Foi aqui que Bono soube de
um grande avanço na pacificação
irlandesa.
"Este é o momento de nossas vidas", disse o cantor ao final do
primeiro show paulistano. Deve
seguir por Argentina e Chile sabendo que América pode ser também do Sul. As faces do artista, como os mercados, aumentam.
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