São Paulo, quinta-feira, 02 de março de 2006

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Mostra revela um Iraque assustador

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Escondida no subsolo do Whitney, próximo ao banheiro e quase sem visibilidade, uma instalação da bienal chama a atenção por suas imagens impactantes. "Shocking and Awful" reúne 13 episódios com fotos e filmagens feitas sobre a Guerra do Iraque.
Não aquelas que estamos acostumados a ver na CNN ou na maioria dos jornais. Aqui aparecem cenas de soldados americanos matando à queima-roupa seus inimigos e humilhando iraquianos, crianças feridas nos hospitais públicos de Bagdá, idosos chorando no meio da rua, mulheres sem esperança diante de um conflito que destruiu o país e está longe de ter solução.
"Visitei o Iraque cinco vezes a trabalho", diz Urban Hamid, jornalista free-lance e autor de um dos episódios da série. "Toda vez que volto lá, a situação está pior." Elaborada pelo grupo The Deep Dish Network, a obra pretende contestar a política dos EUA naquele país. "Queremos quebrar o muro de desinformação que a mídia americana impõe aos cidadãos", explica a produtora Deedee Halleck, que ajudou a selecionar imagens de mais de cem colaboradores. A série está sendo exibida em canais comunitários de muitos Estados.
Na parede onde há monitores de TV, recortes de tabelas numéricas do "The Wall Street Journal" foram cobertos por pedaços de "Guernica", de Pablo Picasso. "Nossa posição é clara: os EUA têm de sair do Iraque o mais rápido possível. Não dá mais para agüentar o que nosso governo está fazendo por lá", afirma Halleck.
Pena que a obra fique em um local tão pouco valorizado, onde não há nem mesmo aquecimento interno, algo fundamental numa cidade que vem enfrentando um inverno rigoroso, com temperaturas que chegam a -9 ºC. "Queríamos pelo menos um banco onde os visitantes pudessem assistir aos filmes. Pelo menos estamos aqui e podemos ser ouvidos", diz Hamid, que deve voltar para o Iraque em alguns meses. Cenas como a de uma mulher coberta pelo véu beijando o marido deitado numa cama de hospital recompensam quem tem a coragem de enfrentar o frio em nome da arte. São imagens tristes, mas de uma beleza assustadora. (ERSS)


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