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COMENTÁRIO
Espero ouvir "Blowin" in the Wind'
EDUARDO MATARAZZO SUPLICY
ESPECIAL PARA A FOLHA
Comprei ingresso para
ouvir Bob Dylan em sua
estréia, no próximo dia
5, no Via Funchal, em São Paulo. São muitas as razões pelas
quais o considero um dos maiores poetas da língua inglesa,
que, com sua arte, suas palavras
e sua música, defende os anseios da humanidade.
Ele tem expressado de forma
simples objetivos importantíssimos que estão ao alcance de
todos nós.
Como Bob Dylan, também
nasci em 1941, com apenas 28
dias de diferença. Ele, em 24 de
maio em Duluth, no norte de
Minnesota, nos EUA. Eu, em 21
de junho, em São Paulo. Em
1962, quando, em questão de
minutos, sentado no café The
Commons, na Greenwich Village, ele compôs "Blowin" in the
Wind", falando dos absurdos da
violência e da guerra, eu interrompia meus estudos na FGV
para viajar à Europa Ocidental
e Oriental, para conhecer o que
era capitalismo e socialismo.
Diante da insensatez do Muro de Berlim, assim como ele
tão bem disse na sua música,
concluí que as transformações
devem sempre ser realizadas
pela persuasão, pela não-violência, de maneira pacífica e
democrática.
A época era da luta pelos direitos civis. Martin Luther
King Jr. fora preso em Albany,
na Geórgia, no sul dos EUA,
quando conclamava seus correligionários a usarem de meios
pacíficos. Em setembro, a crise
dos mísseis soviéticos em Cuba
por pouco não deflagrou uma
guerra nuclear. Bob Dylan
compôs então "A Hard Rain's
A-Gonna Fall", falando da visão
assustadora do mundo após um
apocalipse nuclear.
Entusiasta de John Steinbeck, autor de "As Vinhas da
Ira", de Shakespeare, de James
Dean e, muito especialmente,
de Woody Guthrie, autor da tão
bonita balada "This Land Is
Your Land", em 1958 Dylan
mudou seu nome de batismo
-Robert Allen Zimmerman,
em homenagem ao poeta galês
Dylan Thomas, que morreu por
intoxicação alcoólica em 1953.
Quando morei nos EUA, entre 1966 e 1968, e entre 1970 e
1973, acompanhei de perto as
grandes manifestações populares pelos direitos civis e pelo
fim da Guerra do Vietnã. A
principal música das multidões
era "Blowin" in the Wind". O
mesmo ocorreu nas grandes
manifestações norte-americanas e européias em 2002 e
2003 para que o presidente
George W. Bush não utilizasse
de meios bélicos no Iraque.
Em 2004, quando proferia
palestras na Universidade de
Oxford e na London School of
Economics sobre renda básica
de cidadania, fui assistir ao concerto de Bob Dylan em Londres. Fiquei impressionado
com a platéia, composta por
três gerações, avós, pais e netos.
Após o show, eu o cumprimentei pelo seu desempenho. Na
ocasião, ele não cantou "Blowin" in the Wind", que espero
ouvir agora.
Na recente viagem a Bagdá,
em janeiro último, observei
com tristeza os muros de concreto que impedem a visão da
cidade, que já foi considerada
uma das mais belas do mundo.
Na semana seguinte, duas mulheres suicidas, com síndrome
de Down, explodiram bombas
no mercado de Bagdá, matando
73 pessoas. Mais uma vez, pensei com Dylan:
"Quantas mortes precisarão
ocorrer, até que se perceba
Que muitas pessoas já morreram?
A resposta, meu amigo, está
sendo soprada pelo vento."
"The answer is blowin" in the
wind".
EDUARDO MATARAZZO SUPLICY , 66, é senador pelo PT-SP
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