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Ator se destaca como gay de minissérie
Guilherme Weber, o Benny de "Queridos Amigos", diz que passou a ser reconhecido por telespectador "sofisticado'
Premiado no teatro, ator se tornou popular como vilão da novela "Da Cor do Pecado" e agora ganha repercussão com público "alternativo" da TV
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Desta vez, não é uma senhora
gorda do interior, com as pernas cheias de varizes, que está
sentada à frente da televisão.
É um telespectador "mais jovem, sofisticado e antenado"
que prestigia Guilherme Weber, o homossexual Benny na
minissérie "Queridos Amigos"
(Globo), de Maria Adelaide
Amaral. Premiado no teatro, o
ator está em seu segundo papel
televisivo de destaque. No primeiro, como vilão da novela das
sete "Da Cor do Pecado"
(2004), teve "reconhecimento
de um público mais popular".
"Quando entrei na TV, a
[atriz] Maria Padilha me deu
um conselho ótimo: "Novela a
gente não faz para os amigos,
faz para o público'", diz Weber,
que completa o raciocínio com
sua teoria da senhora gorda:
"Lembrei-me de um livro
que adoro, "Franny and Zooey",
de J. D. Salinger, sobre dois radialistas que, ao entrar no estúdio, pensavam naquela senhora
gorda do interior, com a perna
cheia de varizes, escutando rádio. Imaginavam que aquele
era um momento libertário para ela. Quando entro no estúdio
para gravar, penso nessa representante do Brasil que está esperando para assistir à novela
-que, nesse sentido, vira um
trabalho humanista".
Para Weber, 33, o sofá agora
aconchega seu público do teatro. "Sempre tive um reconhecimento grande de um nicho
bastante alternativo, que
acompanha meu trabalho na
companhia [de teatro Sutil].
Com o vilão de "Da Cor do Pecado", me tornei popular para
gente que nunca tinha me visto
na vida. Agora, a minissérie
equilibrou essas duas vertentes
da minha carreira. Seria um nicho teatral dentro da televisão,
o filé mignon da programação."
A reflexão sobre o "momento
libertário das senhoras gordas", garante Weber, não tem a
ver com a compulsão que alguns atores têm por se desculpar pelo "pecado" de fazer TV.
"Há uma tendência de querer
justificar o trabalho na televisão, como se ele fosse menor.
Mas isso nunca está na boca de
atores que realmente têm carreira paralela em teatro, cinema. Está, sim, na mente fantasiosa do ator que acha que esse
discurso vai intelectualizá-lo.
Quem se intelectualiza por
suas ações não precisa se intelectualizar pelo discurso."
O trabalho na TV "não é menor, é menos pessoal". "Projetos pessoais toco no teatro. Em
novela, não dá para ter uma
composição tão rígida do personagem porque são nove meses de situações imprevisíveis."
Já Benny, de "Queridos Amigos", é diferente. "A minissérie
é uma obra fechada, recebemos
todo o texto antes de gravar. E
ele, como os outros personagens dessa obra, é mais humano, complexo como qualquer
pessoa interessante. Não tem
tintas tão carregadas como os
de novela, que podem ser um
pouco maniqueístas", afirma.
Beijo gay
Benny é um dos mais interessantes personagens de "Queridos Amigos", que retrata o
reencontro, no final dos anos
80, de uma turma de intelectuais de esquerda militante à
época da ditadura militar.
"Ferino, provocador, amargo
e, ao mesmo tempo, humano",
Benny, em um dos episódios da
semana passada, foi empurrado pelo amigo Pedro (Bruno
Garcia) ao tentar lhe roubar um
beijo. Forte, a cena repercutiu
em jornais populares, que apelaram ao tentar marcá-la como
a do "primeiro beijo gay da teledramaturgia brasileira".
Uma das características mais
marcantes de Benny é o humor
ácido. "A comunidade gay tem
um humor elaborado, profundo e ferino, muito crítico e irônico, que vem de uma cultura
de minoria. Soma-se a isso o fato de ele ser judeu, que tem o
humor de autoparódia."
Weber buscou referências
em Caio Fernando Abreu, escritor perseguido pelos militares, morto em decorrência da
Aids. É uma das personalidades
que inspiraram Maria Adelaide
Amaral na criação de Benny,
além do poeta Roberto Piva e
do editor Pedro Paulo de Sena
Madureira. "Já o [artista pop]
Andy Warhol me ajudou a conceituar Benny visualmente,
com jaquetas de couro pretas,
óculos escuros, cabelo grisalho
escovado com franjão."
Silvio de Abreu
Weber chegou à televisão em
razão do sucesso da companhia
de teatro Sutil, fundada em
1993 por ele e pelo amigo Felipe Hirsch, um dos principais
diretores da nova geração.
Curitibanos, eles ganharam
projeção nacional com a peça
"A Vida É Cheia de Som e Fúria", de 2000. Já em São Paulo,
encenava "A Morte do Caixeiro
Viajante", com Marco Nanini,
quando foi visto por Silvio de
Abreu. O novelista o indicou
para o papel de vilão de "Da Cor
do Pecado" (Globo). Foi no
mesmo ano, 2004, que teve o
primeiro papel de destaque em
sua carreira, ao protagonizar o
elogiado "Árido Movie".
Apesar de ter se tornado
"global", com contrato de longo
prazo, Weber acha "totalmente
possível, até fácil" não se contaminar pelo mundo de celebridades. "É o ator quem define isso. Ninguém é perseguido sem querer. Essa é uma cultura um
pouco cafona. No Brasil, os atores passam muito rápido da
marginalidade para a celebridade, e pouca gente pára no lugar que temos que ficar, a classe
média. Nos anos 60, 70, éramos
marginais, a escória, ninguém
queria que o filho fosse ator.
Agora, as mães levam os filhos
para fazer testes de elenco."
E se tivesse uma proposta de
receber R$ 15 mil só para dançar com uma debutante? "Adoraria, ia achar engraçadíssimo."
Pausa. "Estou brincando, claro. Porque, dependendo da debutante, pode ser um dinheiro
difícil. E, se o bufê não for bom,
eu ainda volto com uma salmonela." Aí está Benny.
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