São Paulo, domingo, 02 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ator se destaca como gay de minissérie

Guilherme Weber, o Benny de "Queridos Amigos", diz que passou a ser reconhecido por telespectador "sofisticado'

Premiado no teatro, ator se tornou popular como vilão da novela "Da Cor do Pecado" e agora ganha repercussão com público "alternativo" da TV

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Desta vez, não é uma senhora gorda do interior, com as pernas cheias de varizes, que está sentada à frente da televisão.
É um telespectador "mais jovem, sofisticado e antenado" que prestigia Guilherme Weber, o homossexual Benny na minissérie "Queridos Amigos" (Globo), de Maria Adelaide Amaral. Premiado no teatro, o ator está em seu segundo papel televisivo de destaque. No primeiro, como vilão da novela das sete "Da Cor do Pecado" (2004), teve "reconhecimento de um público mais popular".
"Quando entrei na TV, a [atriz] Maria Padilha me deu um conselho ótimo: "Novela a gente não faz para os amigos, faz para o público'", diz Weber, que completa o raciocínio com sua teoria da senhora gorda:
"Lembrei-me de um livro que adoro, "Franny and Zooey", de J. D. Salinger, sobre dois radialistas que, ao entrar no estúdio, pensavam naquela senhora gorda do interior, com a perna cheia de varizes, escutando rádio. Imaginavam que aquele era um momento libertário para ela. Quando entro no estúdio para gravar, penso nessa representante do Brasil que está esperando para assistir à novela -que, nesse sentido, vira um trabalho humanista".
Para Weber, 33, o sofá agora aconchega seu público do teatro. "Sempre tive um reconhecimento grande de um nicho bastante alternativo, que acompanha meu trabalho na companhia [de teatro Sutil]. Com o vilão de "Da Cor do Pecado", me tornei popular para gente que nunca tinha me visto na vida. Agora, a minissérie equilibrou essas duas vertentes da minha carreira. Seria um nicho teatral dentro da televisão, o filé mignon da programação."
A reflexão sobre o "momento libertário das senhoras gordas", garante Weber, não tem a ver com a compulsão que alguns atores têm por se desculpar pelo "pecado" de fazer TV.
"Há uma tendência de querer justificar o trabalho na televisão, como se ele fosse menor. Mas isso nunca está na boca de atores que realmente têm carreira paralela em teatro, cinema. Está, sim, na mente fantasiosa do ator que acha que esse discurso vai intelectualizá-lo. Quem se intelectualiza por suas ações não precisa se intelectualizar pelo discurso."
O trabalho na TV "não é menor, é menos pessoal". "Projetos pessoais toco no teatro. Em novela, não dá para ter uma composição tão rígida do personagem porque são nove meses de situações imprevisíveis."
Já Benny, de "Queridos Amigos", é diferente. "A minissérie é uma obra fechada, recebemos todo o texto antes de gravar. E ele, como os outros personagens dessa obra, é mais humano, complexo como qualquer pessoa interessante. Não tem tintas tão carregadas como os de novela, que podem ser um pouco maniqueístas", afirma.

Beijo gay
Benny é um dos mais interessantes personagens de "Queridos Amigos", que retrata o reencontro, no final dos anos 80, de uma turma de intelectuais de esquerda militante à época da ditadura militar.
"Ferino, provocador, amargo e, ao mesmo tempo, humano", Benny, em um dos episódios da semana passada, foi empurrado pelo amigo Pedro (Bruno Garcia) ao tentar lhe roubar um beijo. Forte, a cena repercutiu em jornais populares, que apelaram ao tentar marcá-la como a do "primeiro beijo gay da teledramaturgia brasileira".
Uma das características mais marcantes de Benny é o humor ácido. "A comunidade gay tem um humor elaborado, profundo e ferino, muito crítico e irônico, que vem de uma cultura de minoria. Soma-se a isso o fato de ele ser judeu, que tem o humor de autoparódia."
Weber buscou referências em Caio Fernando Abreu, escritor perseguido pelos militares, morto em decorrência da Aids. É uma das personalidades que inspiraram Maria Adelaide Amaral na criação de Benny, além do poeta Roberto Piva e do editor Pedro Paulo de Sena Madureira. "Já o [artista pop] Andy Warhol me ajudou a conceituar Benny visualmente, com jaquetas de couro pretas, óculos escuros, cabelo grisalho escovado com franjão."

Silvio de Abreu
Weber chegou à televisão em razão do sucesso da companhia de teatro Sutil, fundada em 1993 por ele e pelo amigo Felipe Hirsch, um dos principais diretores da nova geração.
Curitibanos, eles ganharam projeção nacional com a peça "A Vida É Cheia de Som e Fúria", de 2000. Já em São Paulo, encenava "A Morte do Caixeiro Viajante", com Marco Nanini, quando foi visto por Silvio de Abreu. O novelista o indicou para o papel de vilão de "Da Cor do Pecado" (Globo). Foi no mesmo ano, 2004, que teve o primeiro papel de destaque em sua carreira, ao protagonizar o elogiado "Árido Movie".
Apesar de ter se tornado "global", com contrato de longo prazo, Weber acha "totalmente possível, até fácil" não se contaminar pelo mundo de celebridades. "É o ator quem define isso. Ninguém é perseguido sem querer. Essa é uma cultura um pouco cafona. No Brasil, os atores passam muito rápido da marginalidade para a celebridade, e pouca gente pára no lugar que temos que ficar, a classe média. Nos anos 60, 70, éramos marginais, a escória, ninguém queria que o filho fosse ator. Agora, as mães levam os filhos para fazer testes de elenco."
E se tivesse uma proposta de receber R$ 15 mil só para dançar com uma debutante? "Adoraria, ia achar engraçadíssimo."
Pausa. "Estou brincando, claro. Porque, dependendo da debutante, pode ser um dinheiro difícil. E, se o bufê não for bom, eu ainda volto com uma salmonela." Aí está Benny.


Texto Anterior: Suplicy canta em vídeos no Youtube
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.