São Paulo, segunda-feira, 02 de março de 2009

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+ Rock - Blablablá

Lembrando os Beatles, U2 mostra faixas de "No Line on the Horizon" no topo de um edifício em Londres; Folha acompanhou lançamento do novo álbum, que chega ao Brasil nesta semana

Stephen Hird/Reuters
O U2 em show no topo de um edifício, em Londres

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A LONDRES

Quando eu disse ao taxista que me levou do aeroporto ao hotel que tinha vindo a Londres por causa do U2, ele logo perguntou: "Por quê? Bono está lançando mais uma campanha para salvar o mundo?". Se a primeira coisa que vem à cabeça de uma pessoa comum quando se fala da maior banda de rock do planeta NÃO é algo relacionado à música, é porque alguma coisa vai mal.
O 12º álbum de estúdio do conjunto irlandês, "No Line on the Horizon", lançado no Reino Unido na última sexta e que chega ao Brasil nesta semana (já tendo comercializadas 60 mil cópias em pré-venda), parece ser uma tentativa do grupo de amenizar a desgastada e folclórica imagem do "Bono político", ativista de causas nobres do Terceiro Mundo. Agora, ele reaparece com o look de roqueiro futurista, parecido com o que apresentou em "Achtung Baby" (1991).
Também demonstra ter se dado conta de que, se não retraísse esse impulso, o U2 começaria a perder importância e influência artística. Em entrevistas recentes, os companheiros mostraram insatisfação com as incessantes campanhas do vocalista. O baterista Larry Mullen Jr. disse que ele tinha ido longe demais ao se aproximar do ex-premiê Tony Blair. Enquanto o guitarrista The Edge vem falando em seu ouvido que Bono tinha de se lembrar de que é, antes de tudo, um artista. "A Guerra do Iraque estava avançando, mas nós estávamos preocupados com nossas famílias e com nossa música", disse o cantor, sobre o processo de gravação do álbum, ao pequeno público formado por ouvintes da rádio BBC1 e jornalistas que assistiram pela primeira vez ao vivo à execução de algumas faixas do novo trabalho, no auditório da emissora, em Londres.
O cantor, ainda, reforçou a importância do "amor" no CD, dedicando canções a uma grávida sentada diante ele. No repertório, estava "Get on Your Boots", com sinais da nova fase na letra ("Não quero falar de guerra entre nações"). "Magnificent" e "Breathe" evidenciam a potência da guitarra de Edge, que hoje precisa de um imenso aparato de apoio que assusta à pequena distância, e cuja função é fazer com que soe de modo vigoroso com sua célebre marca estilística. A apresentadora da emissora, Jo Whiley, perguntou sobre a próxima turnê. Bono disse que no meio do ano devem colocar o pé na estrada, mas não adiantou datas ou locais. Apenas afirmou que estão preocupados com o efeito da crise mundial. Conhecido pelos concertos grandiosos, voltados para públicos de estádio, o U2 coloca-se um novo desafio.
"Vamos tentar fazer coisas em diferentes formatos, mais intimistas, ao ar livre e também mais baratos. Os preços dos ingressos estão muito caros pelo mundo", falou. Mas quem já vislumbrava aí o começo de mais uma de suas boas ações, logo se decepcionaria. "Também vamos tocar com ingresso caro, pois pessoas ricas também têm sentimentos", concluiu, fazendo a plateia rir. Metralhados por perguntas óbvias como "o que é bom em ser o U2?", Bono saiu-se como pôde. "Foi bom ver ao longo dos anos como garotos viraram homens e agora estão se transformando em garotos de novo."
"No Line on the Horizon" foi gravado em vários locais, como Nova York, Londres e Fez, no Marrocos. Porém, diferentemente do que se esperava, o CD quase não traz elementos sonoros de fora. Tudo soa como o U2 de décadas atrás, agora obcecado com a ideia de superar a própria grandiosidade. Entre outras coisas, isso deve-se ao fato de terem voltado a trabalhar com o time de produtores que firmou o estilo do grupo, Steve Lillywhite, Daniel Lanois e Brian Eno.
Para não dizer que não há faixas políticas, há uma dedicada a um soldado agonizando no Afeganistão ("White as Snow") e outra sobre um correspondente de guerra ("Cedars of Lebanon"). O título do CD refere-se à imagem de um céu cinzento que encontra o mar numa tênue linha, vista por Bono da janela de sua casa irlandesa.


NO LINE ON THE HORIZON

Artista: U2
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35, em média



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