São Paulo, segunda-feira, 02 de março de 2009

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Memória

Walter Silva popularizou a bossa nova

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Walter Silva dizia, com extremo orgulho, ter lançado "Chega de Saudade". Não foi o único disc-jóquei a fazê-lo, pois Hélio de Alencar também teve um papel nessa história, mas não há dúvida de que a transformação da gravação de João Gilberto em abertura de "O Pick-up do Pica-Pau" foi fundamental para a difusão da bossa nova.
Era o mais popular programa musical das rádios de São Paulo naquele final dos anos 50. Estava, então, na Bandeirantes, onde fora concebido para Ronald Golias, que nunca o apresentou. Silva acolheu a ideia e o trocadilho do título, passando a ser conhecido como Pica-Pau. Seus programas percorreram várias emissoras e, até dezembro passado, o "Acervo Walter Silva" ia ao ar na Cultura AM.
E ele fez muito mais do que isso até morrer na última sexta-feira, de complicações decorrentes de uma pneumonia, a uma semana de completar 76 anos. Antes de se deslumbrar com a voz e o violão de João Gilberto, já trabalhara em várias rádios paulistanas e cariocas. Como divulgador da RGE, no Rio, ajudara a tornar a jovem Maysa um nome nacional.
Mas a bossa nova e seus desdobramentos marcaram mais a vida de Pica-Pau. Em 1962, foi o único radialista a transmitir o célebre concerto do Carnegie Hall, em Nova York. Ainda voltou para o Brasil com imagens feitas por uma TV americana e compradas pela cônsul-geral Dora Vasconcelos. Os registros serviram para mostrar que a noite não fora o fracasso que aqui se apregoava.
Em 1964, começou a produzir shows -e os discos correspondentes- no teatro Paramount, em São Paulo. Ao gravar a apresentação de Elis Regina, Jair Rodrigues e Jongo Trio em 9 de abril de 1965, pôs nas mãos a matriz de um LP que faria enorme sucesso e história: "Dois na Bossa". Elis foi uma de suas amigas mais próximas.
Como produtor musical, Pica-Pau ainda trabalhou com Chico Buarque, Milton Nascimento, Walter Franco, Maria Alcina e outros nomes. Mas nunca deixou de atuar como comunicador e jornalista. Na Folha, manteve uma coluna sobre discos, shows e rádio por dez anos (1971-81).
Na TV, tornou mais conhecida uma porção que já desenvolvera no rádio: a de repórter e locutor esportivo. Narrou muitos jogos de futebol tendo como comentarista o dramaturgo Plínio Marcos. E orgulhava-se de ter sido o primeiro brasileiro a narrar uma partida de futebol americano, em 1969.
Pica-Pau deixa um enorme acervo de gravações variadas -vendidas ao Instituto Moreira Salles- e também fartas vivências, relatadas ao menos em parte no livro "Vou te Contar -°Histórias da Música Popular Brasileira", ainda em catálogo.


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