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Memória
Walter Silva popularizou a bossa nova
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Walter Silva dizia, com
extremo orgulho, ter
lançado "Chega de
Saudade". Não foi o único disc-jóquei a fazê-lo, pois Hélio de
Alencar também teve um papel
nessa história, mas não há dúvida de que a transformação da
gravação de João Gilberto em
abertura de "O Pick-up do Pica-Pau" foi fundamental para a difusão da bossa nova.
Era o mais popular programa
musical das rádios de São Paulo
naquele final dos anos 50. Estava, então, na Bandeirantes, onde fora concebido para Ronald
Golias, que nunca o apresentou. Silva acolheu a ideia e o
trocadilho do título, passando a
ser conhecido como Pica-Pau.
Seus programas percorreram
várias emissoras e, até dezembro passado, o "Acervo Walter
Silva" ia ao ar na Cultura AM.
E ele fez muito mais do que
isso até morrer na última sexta-feira, de complicações decorrentes de uma pneumonia, a
uma semana de completar 76
anos. Antes de se deslumbrar
com a voz e o violão de João Gilberto, já trabalhara em várias
rádios paulistanas e cariocas.
Como divulgador da RGE, no
Rio, ajudara a tornar a jovem
Maysa um nome nacional.
Mas a bossa nova e seus desdobramentos marcaram mais a
vida de Pica-Pau. Em 1962, foi o
único radialista a transmitir o
célebre concerto do Carnegie
Hall, em Nova York. Ainda voltou para o Brasil com imagens
feitas por uma TV americana e
compradas pela cônsul-geral
Dora Vasconcelos. Os registros
serviram para mostrar que a
noite não fora o fracasso que
aqui se apregoava.
Em 1964, começou a produzir shows -e os discos correspondentes- no teatro Paramount, em São Paulo. Ao gravar a apresentação de Elis Regina, Jair Rodrigues e Jongo Trio
em 9 de abril de 1965, pôs nas
mãos a matriz de um LP que faria enorme sucesso e história:
"Dois na Bossa". Elis foi uma de
suas amigas mais próximas.
Como produtor musical, Pica-Pau ainda trabalhou com
Chico Buarque, Milton Nascimento, Walter Franco, Maria
Alcina e outros nomes. Mas
nunca deixou de atuar como
comunicador e jornalista. Na
Folha, manteve uma coluna
sobre discos, shows e rádio por
dez anos (1971-81).
Na TV, tornou mais conhecida uma porção que já desenvolvera no rádio: a de repórter e locutor esportivo. Narrou muitos
jogos de futebol tendo como comentarista o dramaturgo Plínio Marcos. E orgulhava-se de
ter sido o primeiro brasileiro a
narrar uma partida de futebol
americano, em 1969.
Pica-Pau deixa um enorme
acervo de gravações variadas
-vendidas ao Instituto Moreira Salles- e também fartas vivências, relatadas ao menos em
parte no livro "Vou te Contar
-°Histórias da Música Popular
Brasileira", ainda em catálogo.
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