São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2011

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OPINIÃO CINEMA

Libertária inconsciente, a voluptuosa Jane Russell confrontou a caretice da América

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Jane Russell, que morreu na última segunda, aos 89, ajudou a tornar a Segunda Guerra uma experiência um pouco menos dolorosa.
Enquanto soldados no front europeu babavam com as fotos da "pin-up", nos Estados Unidos o público lotava as salas de cinemas para ver o corpinho de ampulheta de uma das maiores sex symbols da época.
Jane Russell era uma força da natureza. Voluptuosa, sexy, com um arzinho de menina tonta que deixava os homens loucos.
Ela foi um dos grandes ícones da cultura pop do pós-Guerra, tão americana quanto James Dean, milk-shake ou rock and roll.
Nunca foi uma grande atriz, mas isso realmente não importava. Era um símbolo.
Tanto que seu atributo mais famoso sempre foi o busto de quase um metro, um ícone da época.
O cartaz de lançamento de "The French Line" (1953), comédia em 3D que fez para o excêntrico bilionário Howard Hughes (que a descobriu trabalhando num consultório médico), dizia: "J.R. em 3D: precisa dizer mais?".
Com Russell, comediantes tinham material de sobra. "Cultura é conseguir descrever Jane Russell sem usar as mãos", dizia Bob Hope.
Russell foi, inconscientemente, uma libertária, confrontando a América e sua caretice.
A atriz teve muitos problemas com censura. Seu primeiro filme, "O Proscrito" (1943), foi rodado em 1941, mas, considerado ousado demais, só teve um lançamento apropriado anos depois.
Seu grande momento na grande tela foi em "Os Homens Preferem as Loiras" (1953) ao lado de outra deusa "va-va-vum", Marilyn Monroe (1926-1962). "Jane tentou me aproximar de Jesus e eu tentei aproximá-la de Freud", disse Marilyn.
A carreira durou pouco. Nos anos 60, fez poucos filmes. "Na minha época, não havia muitos papéis para mulheres acima dos 30", afirmou. Jane Russell rodou seu último filme em 1970.
Curiosamente, a mulher que passou 30 anos fazendo a América babar de desejo acabou se tornando uma católica fervorosa e de direita. Mas justificou: "Católicas também têm peitos, sabia?".


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