São Paulo, segunda, 2 de março de 1998

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Salão terá literatura de cordel

de Paris

Para divulgar a literatura nacional, a França usará, além das obras de 40 escritores brasileiros, um emblema da cultura popular brasileira: o cordel. Uma exposição de literatura de cordel será montada no 18º Salão do Livro de Paris.
O organizador do salão, Jean Sarzana, afirmou que, de uns anos para cá, a intenção é popularizar e democratizar o salão: "Quando ficávamos no Grand Palais (casa de exposições chique de Paris), era muito difícil, porque o local era considerado um templo burguês, muito elegante", conta.
Para ele, não adianta voltar totalmente o salão para os leitores do "quartier latin" (bairro intelectual de Paris), pois esses já irão ao evento.
O alvo são as pessoas que não têm coragem de entrar numa livraria.
Por isso, atividades paralelas, como a exposição sobre a literatura de cordel, são muito importantes.
Uma das principais incentivadores da mostra do cordel é a professora de literatura e civilização brasileira em Nanterre (Universidade de Paris), Idelette Muzart.
Idelette acabou de lançar um livro sobre o tema: "La Littérature de Cordel au Brésil - Mémoire des Voix, Grenier D'Histoire" ("A Literatura de Cordel no Brasil - Memória das Vozes, Sótão de História"), pelas edições L'Harmattan.
Na primeira parte, a autora tenta traçar um histórico do canto improvisado, a tradição oral que se juntou ao romanceiro e originou ao cordel.
A segunda parte é uma edição bilíngue de alguns folhetos conhecidos. "Tentei escolher temas diferentes e textos importantes da história da literatura de cordel, como "A Peleja de Inácio da Catingueira e Romano Teixeira', uma espécie de mito fundador da cantoria", explica Idelette.
Na tentativa de mostrar outras formas de literatura no Brasil, a exposição de literatura de cordel no 18º Salão do Livro tem um objetivo: "Quero que os franceses descubram algo que não tenha nada a ver com tudo aquilo que imaginam em relação ao Brasil", diz a professora.
Além da exposição, dois cantadores brasileiros foram convidados para participar de uma mesa redonda e fazer uma performance ao vivo.
No ateliê de escrita, os repentistas nordestinos Oliveira de Panelas e Lourivaldo Vitorino vão falar sobre o processo de criação improvisada e discutir a relação do cordel com a cantoria.
Idelette conta que começou a se interessar por literatura de cordel quando ganhou de um amigo o livro "A Pedra do Reino", de Ariano Suassuna.
"A obra falava do cordel de tal maneira que fiquei encantada", diz. Idelette acabou casando com um brasileiro e morou 18 anos no Nordeste.
No fórum dos autores, Idelette tem a intenção de mostrar a diversidade da literatura de cordel. Serão abordados os temas mais recorrentes, como o cangaço, os religiosos e a vida no sertão nordestino.
Haverá também curiosidades, como a influência do cinema hollywoodiano na confecção dos livrinhos: "Imagine só os franceses vendo um livro intitulado "A Deusa da Borborema' com, na capa, Rita Hayworth... Eles vão levar um choque...", diverte-se Idelette. (MC)


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