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Salão terá literatura de cordel
de Paris
Para divulgar a literatura nacional, a França usará, além das obras
de 40 escritores brasileiros, um
emblema da cultura popular brasileira: o cordel. Uma exposição de
literatura de cordel será montada
no 18º Salão do Livro de Paris.
O organizador do salão, Jean
Sarzana, afirmou que, de uns anos
para cá, a intenção é popularizar e
democratizar o salão: "Quando ficávamos no Grand Palais (casa de
exposições chique de Paris), era
muito difícil, porque o local era
considerado um templo burguês,
muito elegante", conta.
Para ele, não adianta voltar totalmente o salão para os leitores
do "quartier latin" (bairro intelectual de Paris), pois esses já irão
ao evento.
O alvo são as pessoas que não
têm coragem de entrar numa livraria.
Por isso, atividades paralelas,
como a exposição sobre a literatura de cordel, são muito importantes.
Uma das principais incentivadores da mostra do cordel é a professora de literatura e civilização brasileira em Nanterre (Universidade
de Paris), Idelette Muzart.
Idelette acabou de lançar um livro sobre o tema: "La Littérature
de Cordel au Brésil - Mémoire des
Voix, Grenier D'Histoire" ("A Literatura de Cordel no Brasil - Memória das Vozes, Sótão de História"), pelas edições L'Harmattan.
Na primeira parte, a autora tenta
traçar um histórico do canto improvisado, a tradição oral que se
juntou ao romanceiro e originou
ao cordel.
A segunda parte é uma edição bilíngue de alguns folhetos conhecidos. "Tentei escolher temas diferentes e textos importantes da história da literatura de cordel, como
"A Peleja de Inácio da Catingueira
e Romano Teixeira', uma espécie
de mito fundador da cantoria",
explica Idelette.
Na tentativa de mostrar outras
formas de literatura no Brasil, a
exposição de literatura de cordel
no 18º Salão do Livro tem um objetivo: "Quero que os franceses
descubram algo que não tenha nada a ver com tudo aquilo que imaginam em relação ao Brasil", diz a
professora.
Além da exposição, dois cantadores brasileiros foram convidados para participar de uma mesa
redonda e fazer uma performance
ao vivo.
No ateliê de escrita, os repentistas nordestinos Oliveira de Panelas e Lourivaldo Vitorino vão falar
sobre o processo de criação improvisada e discutir a relação do
cordel com a cantoria.
Idelette conta que começou a se
interessar por literatura de cordel
quando ganhou de um amigo o livro "A Pedra do Reino", de Ariano
Suassuna.
"A obra falava do cordel de tal
maneira que fiquei encantada",
diz. Idelette acabou casando com
um brasileiro e morou 18 anos no
Nordeste.
No fórum dos autores, Idelette
tem a intenção de mostrar a diversidade da literatura de cordel. Serão abordados os temas mais recorrentes, como o cangaço, os religiosos e a vida no sertão nordestino.
Haverá também curiosidades,
como a influência do cinema
hollywoodiano na confecção dos
livrinhos: "Imagine só os franceses vendo um livro intitulado "A
Deusa da Borborema' com, na capa, Rita Hayworth... Eles vão levar
um choque...", diverte-se Idelette.
(MC)
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