São Paulo, segunda, 2 de março de 1998

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CONTO MORAL
"Poder Absoluto" expõe fraqueza do império

der Absoluto", filme dirigido e estrelado por Clint Eastwood sobre assassinato e corrupção no governo dos EUA

da Reportagem Local

Qual o "Poder Absoluto" de que fala Clint Eastwood em seu filme? Temos como trama a história de um ladrão -tão sórdido e desonesto quanto sua ocupação exige- que testemunha, por acaso, um assassinato. A morte de uma mulher.
Mas não se trata, de maneira alguma, de um crime comum. E a surpresa está no assassino: o presidente dos EUA.
Estamos, portanto, diante de uma história que se anuncia com repentina e atordoante inversão de valores: aquele que sempre ganhou a vida no desvio, praticando atos ilegais, quer levar a julgamento um outro que é seu inverso, pois a natureza do cargo -a Presidência- o transforma em um representante do bom e do belo.
Eastwood nos oferece um suspense hollywoodiano. Há em "Poder Absoluto" tudo o que o gênero exige: tensão, surpresa, emoção e uma equilibrada dose de violência. A isso ele acrescenta um conto moral.
Há em seu cinema uma série de exigências. A mais ambiciosa, e que de certa maneira talvez contenha todas outras, é a necessidade de compreender o que significam os EUA, uma nação tão crente em seus próprios mitos - assim Eastwood nos mostra- que é incapaz de perceber o quanto de sua história é amoral, selvagem.
No jogo de culpa e punição de todo o filme, o que está sendo julgado não é então apenas um homem e seu crime.
O que escandaliza o ladrão (interpretado pelo próprio Eastwood) são todas as ilegalidades e violências cometidas para que o presidente (Gene Hackman, perfeito) não pague pelo seu ato. Enfim, o poder absoluto.
Assim, há mais de um assassinato cometido. Além de uma mulher, uma instituição também morre, vitimada pela corrupção.
Eastwood se incomoda com a situação e seu filme se torna sombrio, carregado. Quanto mais mergulhamos no mundo do presidente e seus homens, menos soluções ele nos oferece.
Os Estados Unidos de "Poder Absoluto", ao contrário do que parecem nos informar as notícias de todos os dias, não são o novo império, mas apenas um lugar de incertezas, da vitória da aparência, que estrategicamente foi colocada no lugar da essência.
Mas Clint Eastwood é também um crente. Tem fé em que a ordem pode ser estabelecida, a pureza, recolocada em seu lugar e o país, retomar seu destino.
Só não será mais de cima para baixo, do governo em direção ao homem, e sim o inverso. Ainda que tudo tenha que ser iniciado por um ladrão. (MR).

Filme: Poder Absoluto Produção: EUA, 1997 Direção: Clint Eastwood Lançamento: Columbia (011/5503-9899 ou 9898)



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